O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou nesta sexta-feira um suposto interesse em furar o teto de gastos da economia brasileira para "fazer política" e "ganhar eleição". Guedes falou à imprensa após supostas críticas feitas pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, em reunião com investidores na manhã desta sexta.
"Nós vamos ter que dar uma turbinada nesse programa (o Renda Cidadã). Agora, precisa furar o teto? Não. A essência da política é fazer escolhas. Fazer só coisas agradáveis para ganhar eleição é muito bonito, mas depois joga o povo no inferno", disse o ministro.
Para Guedes, uma coisa é “furar” o teto por conta da pandemia. Outra, afirmou, é descumprir a regra para “fazer política:
"Uma coisa é você furar o teto porque você está salvando vidas em ano de pandemia, e isso ninguém pode ter dúvidas. Se a pandemia recrudescer e voltar em uma segunda onda, aí sim nós decisivamente vamos fazer algo a respeito. Agora, você furar teto para fazer política, para ganhar eleição, para garantir, isso é irresponsável com as futuras gerações. Isso é mergulhar o Brasil no passado triste de inflação alta".
Uma reunião fechada de Marinho com analistas da corretora Ativa ontem acabou vazando. Entre os comentários atribuídos a Marinho estão que o Renda Cidadã sairia do melhor ou do pior jeito, o que foi interpretado como um sinal de estouro do teto de gastos, e de que a ideia de financiar o programa com precatórios (dívidas do governo reconhecidas pela Justiça) e recursos da educação (Fundeb) foi de Guedes.
Mais cedo, Guedes já tinha dito que não acreditava nessas possíveis declarações. Mas disse também que, se Marinho falou isso, é "despreparado", "desleal" e "fura-teto".
Em nota divulgada pouco antes da fala de Guedes, o ministério de Marinho informou que não houve "desqualificações ou adjetivações de qualquer natureza contra agentes públicos".
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Na segunda, após reunião de Bolsonaro com ministros, equipe econômica e líderes partidários no Palácio da Alvorada, o senador Márcio Bittar (MDB-AC) anunciou duas ideias de fontes de recursos: o uso de precatórios (dívidas do governo reconhecidas pela Justiça) e o Fundeb (fundo para educação básica).
A proposta apresentada, no entanto, sofreu críticas de entidades e de parlamentares e gerou impacto negativo no mercado. Agora, o ministro sugeriu deixar o assunto para depois das eleições.
"Isso é hora de você discutir isso ou é hora de ir para a eleição? As reformas vão estar prontas. Eu sempre disso isso para vocês, quem dá o timing é a política", afirmou.
Segundo Guedes, por conta das disputas para as prefeituras, não é hora de entrar “nessa brigalhada”:
"Uma parte vai aterrissar lá no Bolsa Família que pode então virar o Renda Brasil. A outra parte precisa ser reempregada. Precisamos desonerar a folha. Mas como você desonera a folha? "Ah, tem que criar um imposto sobre transação". "Ah, não, esse imposto eu não aceito". Você a 40, 50 dias da eleição, como é que você vai entrar nessa brigalhada?", afirmou.
O ministro disse que o plano para viabilizar o novo programa social é consolidar programas sociais que já existem, proposta que já havia sido criticada publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro.
O benefício poderia também ser impulsionado pelas deduções com gastos de educação e saúde no Imposto de Renda, que beneficiam famílias de classe média alta, na avaliação do ministro.
"O Renda Brasil é fazendo a consolidação dos programas sociais. Nós já tínhamos antes juntado vale-transporte, com vale-gás, com bolsa escola e fizemos o Bolsa Família. Da mesma forma, você consolida 27 programas sociais que já existem, bota um pouco mais de recursos que existem. Existe, por exemplo, o desconto simplificado para saúde e educação, por exemplo. É dinheiro de classe média alta. Você pega ali R$ 10 bilhões e são R$ 35 a mais do Renda Brasil", disse Guedes.