Leite tem alta recorde de preço entre alimentos entre janeiro e agosto, superando o arroz
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Leite tem alta recorde de preço entre alimentos entre janeiro e agosto, superando o arroz

Os efeitos da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) sobre a economia brasileira e mundial são desastrosos, com grandes quedas da atividade, dos serviços e do emprego, mas as consequências são também mais diversas e específicas em alguns lugares. No Brasil, o preço dos alimentos, especialmente os produtos da cesta básica, são diretamente afetados, com altas expressivas. O maior deles, surpreendentemente, não é o do arroz , que se coloca entre os primeiros. Entre janeiro e agosto deste ano, o leite teve alta de preço de 27%, superando o arroz como o produto que teve a maior elevação neste ano, de acordo com a Associação Paulista de Supermercados.

A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) aponta justamente as incertezas da pandemia e a alta do dólar, que  fechou setembro cotado a R$ 5,61 , como alguns dos fatores que prejudicaram a produção e aumentaram o preço do leite .

Batendo o recorde de série medida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (USP), o preço do leite no campo, pago ao produtor, subiu 51% nos últimos 12 meses.

Itens usados na alimentação bovina, que indiretamente afetam o preço do leite, como milho e soja , também estão mais caros, o que acaba afetando toda a cadeia produtiva e reduzindo a oferta de leite, já que os produtores veem seus ganhos caírem.

Esse desequilíbrio gera, como consequência, o aumento do preço do leite e até mesmo de seus derivados. Entre os 10 maiores aumentos de preço de alimentos no ano está o do queijo muçarela , 26% mais caro em 2020. Em alguns locais, o preço do quilo da muçarela já chega a R$ 50.

Segundo a Abraleite, os produtores acumulam prejuízos nos últimos meses em função dessa cadeia negativa de alta dos alimentos.

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Por que os alimentos estão mais caros?

Os supermercados veem que a alta de preços tem se acelerado recentemente, e que isso se deve ao efeito do câmbio (dólar) sobre o aumento das exportações, diminuição das importações desses itens, além do crescimento da demanda brasileira sobre a cesta básica – fato impulsionado pelo auxílio emergencial .

Os supermercadistas têm buscado diálogo com o governo para solucionar o problema, propondo, por exemplo, a retirada de tarifas de importação de produtos.

Embora a inflação siga sob controle, abaixo da meta estipulada pelo Banco Central e deva encerrar 2020 em cerca de 2%, para os brasileiros ela acaba sendo sentida diretamente, sobretudo pelos mais pobres. Isso porque, até julho, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, que mede os preços no Brasil), acumula alta geral de 2,31% em 12 meses, o que fica até abaixo do esperado; no mesmo período, porém, o setor de alimentação e bebidas já subiu 7,61%, com produtos da cesta básica registrando altas ainda maiores.

Nas prateleiras dos mercados, os preços não refletem a inflação sob controle medida pelo IPCA, o que penaliza os mais pobres, que gastam proporcionalmente mais do que os mais ricos com alimentação.

De acordo com o ministro da Economia, Paulo Guedes , o arroz subiu de preço porque a vida dos mais pobres está melhor . "Os mais pobres estão comprando, estão indo no supermercado, estão comprando material de construção. Então, na verdade, isso é um sinal de que eles estão melhorando a condição de vida. O preço do arroz está subindo porque eles estão comprando mais – está todo mundo comprando mais. Além disso, tem as exportações e subiu o dólar também", justificou o ministro da Economia após ser questionado sobre os alimentos da cesta básica mais caros.

Outra liderança que comentou a alta dos alimentos foi o presidente Jair Bolsonaro . Após supermercados passarem a limitar a compra de arroz, óleo e outros produtos alimentícios por conta da forte alta e o temor por desabastecimento, Bolsonaro apelou ao "patriotismo" dos donos de supermercados, pedindo que não aumentem preços.

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