O grupo de WhatsApp "Cervejeiros Illuminati" tem aproximadamente 200 membros. No grupo, empresários do setor cervejeiro trocam mensagens racistas, machistas e de apologia à ditadura. As ofensas são principalmente contra empresários e profissionais negros do ramo de cervejaria. O grupo foi revelado por uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada na quarta-feira (26).
Entre os membros que tiveram os comentários racistas
divulgados pela Folha estão Guilherme Jorge Giorgi, sócio da cervejaria Kessbier, de Nova Mutum (MT); Douglas Merlo, professor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), Science of Beer; Charles Cruz, cervejeiro; Maurício Beltramelli, advogado; James Jimenez, cervejeiro.
Giorgi escreveu: “O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) autoriza uma cervejaria negra?
Não tem que ser branca,
facilmente lavável, inox, etc.?”. Outro membro, Cruz escreveu sobre uma cervejeira que foi alvo de racismo no grupo: "Mandei essa mina se f*der na primeira vez que vi ela".
Beltramelli escreveu que países do continente africano “viviam no paleolítico
há milênios antes do colonialismo europeu."
"Estão fazendo apropriação cultural do tipo de cerveja opresora dos europeus fascistas. Cerveja de sorgo, banana
e milheto da savana
ninguém quer fazer", expressou outro cervejeiro no grupo.
“Pela troca de experiência com uma negra? Quero. Não tenho nojinho.
Doug [Douglas Merlo] vai dizer que elas têm aroma de cimento portland CPZII”, escreveu Jimenez. Douglas Merlo foi afastado do cargo de professor. Depois do vazamento do grupo, Merlo escreveu: “Tá todo mundo aqui no grupo pronto para ir em cana?
Ninguém solta a mão de ninguém”.
O advogado
Daniel Ullrich enviou uma nota ao jornal Folha de S.Paulo afirmando que as mensagens são uma montagem, mas não esclareceu qual cervejeiro é seu cliente.
Crime de racismo
Os empresários podem responder por crime de racismo,
porque as mensagens são discriminatórias, segundo a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, em vigor no Brasil desde 1969.
E, segundo o artigo 20 da Lei 7.716, de 1989, é crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, tendo como pena a prisão de um a três anos e multa.
A Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), com 800 associados, repudiou o fato. “É realmente algo muito grave e chocante as mensagens no grupo de profissionais cervejeiros. Mas ao mesmo tempo joga um pouco de luz no racismo estrutural que a gente vive e nos faz refletir sobre nosso papel como agente de mudança no setor”, afirmou Carlo Lapolli, presidente da Abracerva.
A Abracerva está desenvolvendo um Código de Ética com previsão em estatuto para penalizar associados envolvidos em episódios como o racismo, e tinha também criado um Departamento de Diversidade antes do episódio. “Este é o nosso papel, de trazer mudança para não termos mais esse tipo de atitude. Não só racismo, mas preconceito contra mulher no meio cervejeiro e LGBTfobia”, disse Lapolli.