Maior impacto da pandemia será na população economicamente vulnerável
Divulgação/ONU Mulheres
Maior impacto da pandemia será na população economicamente vulnerável

A pandemia provavelmente fará com que cerca de  34,3 milhões de pessoas caiam abaixo da linha de  extrema pobreza  em 2020, com 56% desse aumento ocorrendo nos países africanos. A previsão é do relatório da Situação Econômica Mundial e Perspectivas das Nações Unidas.

Outros  130 milhões  de pessoas podem passar a viver extrema pobreza até 2030, diz o relatório.

A pandemia afeta em especial os empregos de baixa qualificação e baixo salário, e deverá ampliar ainda mais a desigualdade de renda interna dos países, bem como a internacional.

Segundo a ONU, com a crise, governos em todo o mundo adotaram grandes medidas de estímulo fiscal – equivalentes a cerca de 10% do PIB – para combater a pandemia e minimizar seus impactos nos meios de subsistência. "No entanto, a profundidade e a gravidade da crise prenuncia uma recuperação lenta e dolorosa", diz o estudo.

"O ritmo e a força da recuperação da crise não depende apenas da eficácia das medidas de saúde pública na redução da propagação do vírus, mas também na capacidade países para proteger empregos e rendas, principalmente dos mais vulneráveis",  afirmou no relatório Elliott Harris, economista-chefe da ONU e secretário-geral adjunto de Desenvolvimento Econômico.

O relatório diz ainda que a pandemia pode acelerar a digitalização e a automação do trabalho. "Um rápido aumento nas atividades econômicas on-line provavelmente eliminará muitos empregos existentes, ao mesmo tempo em que cria novos empregos na economia digital".

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Pobreza

Segundo outro relatório, publicado pela Oxfam, a crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus pode levar mais de 500 milhões de pessoas para a pobreza, a menos que ações urgentes sejam tomadas para ajudar países em desenvolvimento. 

A organização pede que os líderes mundiais aprovem um plano emergencial de resgate econômico para impedir que países e comunidades pobres afundem. Para a Oxfam, isso pode acontecer já na próxima semana, quando está prevista reunião entre ministros de Economia dos países do G20 (o grupo dos 20 países mais desenvolvidos), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

De acordo com a entidade, os US$ 2,5 trilhões que as Nações Unidas estimam ser necessários para apoiar os países em desenvolvimento durante a crise do coronavírus vai requerer um adicional de US$ 500 bilhões em ajuda externa, incluindo o financiamento dos sistemas públicos de saúde dos países pobres. “Impostos emergenciais de solidariedade, como taxas sobre lucros excessivos e pessoas muito ricas, poderiam mobilizar recursos adicionais”, avalia a Oxfam, em nota.

Para a entidade, apesar de urgentes e necessárias, as medidas de distanciamento social e de restrição do funcionamento das cidades agravam a situação dos trabalhadores, com demissões, suspensão de pagamento de salários ou inviabilidade do trabalho informal.

O novo relatório da Oxfam, "Dignidade, não Indigência", mostra que entre 6% e 8% da população global, cerca de 500 milhões de pessoas, poderão entrar na pobreza conforme os governos fecham suas economias para impedir que o coronavírus se espalhe em seus países.

“Isso pode representar um retrocesso de uma década na luta contra a pobreza. Em algumas regiões, como a África subsaariana, o norte da África e Oriente Médio, essa luta pode retroceder em até 30 anos. Mais da metade da população global poderão estar na pobreza depois da pandemia”, destacou a entidade.

O relatório, publicado ontem (9), utiliza estimativas elaboradas pelo Instituto Mundial para a Pesquisa de Desenvolvimento Econômico, da Universidade das Nações Unidas, liderada por pesquisadores do King's College de Londres e da Universidade Nacional da Austrália.

Para a Oxfam, as desigualdades já existentes evidenciam o impacto econômico da crise do coronavírus. “Como os trabalhadores mais pobres, tanto nas nações ricas quanto nas pobres, atuam mais no mercado informal, eles estão descobertos de diversas formas. Eles, por exemplo, não têm proteções trabalhistas e nem conseguem trabalhar de casa”, diz a entidade.

Globalmente, apenas um em cada cinco desempregados tem acesso a benefícios como seguro-desemprego. Dois bilhões de pessoas trabalham no setor informal pelo mundo - 90% nos países pobres e apenas 18% nos países ricos.

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Situação no Brasil

No Brasil, para a Oxfam, a situação é ainda mais preocupante devido às moradias precárias, à falta de saneamento básico e de água e aos desafios no acesso a serviços essenciais para os mais pobres. O Brasil tem cerca de 40 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e cerca de 12 milhões de desempregados. A estimativa é que a crise econômica provocada pelo coronavírus adicione, ao menos, mais 2 milhões de pessoas entre os desempregados.

“O coronavírus coloca o Brasil diante de uma dura e cruel realidade, ao combinar os piores indicadores sociais em um mesmo local e na mesma hora. E é neste momento que o Estado tem papel fundamental para reduzir esse impacto e cumprir sua responsabilidade constitucional tanto na redução da pobreza e das desigualdades quanto na garantia à vida da população”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, em comunicado.

Para a entidade, a renda básica emergencial de R$ 600, por três meses, para trabalhadores informais não será suficiente para amenizar o impacto, e o governo deverá, entre outras medidas, ampliar o número de pessoas atendidas e estender o período de concessão.

Mulheres

De acordo com a Oxfam, as mulheres precisam de atenção especial, pois estão na linha de frente do combate ao coronavírus e sofrerão o impacto mais pesado da crise econômica.

“As mulheres representam 70% da força de trabalho em saúde pelo mundo e fazem 75% do trabalho de cuidado não remunerado, atendendo a crianças, doentes e idosos. As mulheres também são maioria nos empregos mais precários”, diz a entidade.

“Os governos precisam aprender as lições da crise financeira de 2008, quando a ajuda a bancos e corporações foi paga pelas pessoas comuns. Elas perderam seus empregos, tiveram seus salários achatados e serviços essenciais, como os de saúde, sofreram profundos cortes de financiamento”, destaca Katia Maia.

“Os pacotes econômicos de estímulo têm que apoiar trabalhadores e pequenos negócios. A ajuda a grandes corporações tem que estar condicionadas a ações para a construção de economias mais justas e sustentáveis”, completou.

O relatório completo, em inglês, está disponível no site da Oxfam.

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Economia mundial

A economia mundial deverá se contrair 3,2% este ano e o documento da ONU projeta que a economia do mundo vai perder quase US$ 8,5 trilhões em produção nos próximos dois anos devido à pandemia do coronavírus – o que vai anular praticamente todos os ganhos dos quatro anos anteriores.

A forte queda é a maior desde a Grande Depressão na década de 1930. Segundo o relatório, o Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos vai cair 5% este ano. Para o ano que vem, é esperado um crescimento modesto, de 3,4% - apenas o suficiente para compensar a perda de produção.

Já a produção dos países em desenvolvimento diminuirá 0,7%. Prevê-se ainda que o comércio mundial contrate quase 15% em 2020, em meio à forte demanda global reduzida e interrupções nas cadeias de suprimentos globais com a crise da pandemia.

De acordo com a ONU, "quase 90% da economia mundial está sob algum tipo de bloqueio, interrompendo as cadeias de suprimentos, deprimindo a demanda dos consumidores" e levando milhões de pessoas a perderem seus empregos. Sob o cenário de linha de base, as economias desenvolvidas deverão contrair 5,0% em 2020.


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