Dados do Banco Central ( BC ) mostram que apenas 1% dos R$ 40 bilhões disponíveis no programa de financiamento da folha de pagamento de pequenas e médias empresas foi concedido até o início da semana. Isso significa que apenas R$ 413,5 milhões foram aprovados.
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São 304.091 empregados e 19.304 empresas financiadas até o último dia 4. A estimativa inicial era que o programa iria beneficiar 1,4 milhão de pequenas e médias empresas do país e um total de 12,2 milhões de trabalhadores.
Pequenos empresários relatam que não conseguiram acessar o financiamento porque, em muitos casos, não têm a folha de pagamento processada em banco. Outros disseram que as condições do empréstimo não atendem às necessidades da empresa.
O presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais ( Conampe
), Ercílio Santinoni
, afirmou que, ao desenhar o programa, o governo não considerou as condições específicas das empresas menores.
"O governo não levou em conta que micro e pequenas empresas não fazem pagamento através de uma folha, através de um banco. Normalmente, o contador faz os holerites e a gente paga ou em dinheiro ou dá um cheque para o funcionário", afirmou.
No fim de abril, o diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza , disse que o número deve crescer em maio, porque parte da folha de abril já tinha sido feita. Problemas para a implementação da linha também retardaram o efeito.
"Esperamos uma elevação bastante significativa em maio dessa operação", afirmou na época.
Condições
A linha de crédito é válida para empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões e financiará dois meses da folha de pagamento. A empresa que adotar o programa não poderá demitir por esse período. A taxa de juros é a menor do mercado, de 3,75% ao ano.
Do total de R$ 40 bilhões, 85% (ou R$ 34 bilhões) serão subsidiados pelo Tesouro Nacional . O subsídio era uma demanda dos bancos privados para criarem essa linha de crédito.
De acordo com os dados do BC , o banco que mais concedeu empréstimos nessa linha foi o Itaú , com R$ 137 bilhões, seguido pelo Bradesco, com R$ 93 milhões. Santander , em terceiro, foi responsável pela concessão de R$ 80 milhões.
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Os dois bancos públicos, Banco do Brasil
e Caixa Econômica Federal
, foram os que menos concederam, com R$ 79,5 milhões e R$ 24 milhões, respectivamente.
Santinoni relatou que, segundo empresários, os bancos têm priorizado as empresas com as quais eles já tinham relação, como as que já operavam as folhas de pagamento com as instituições.
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"Se os bancos quiserem emprestar, eles emprestam para os seus clientes tradicionais e acaba o dinheiro. Aqueles que são menores e não têm conta no banco, ou que a conta é da pessoa física, que é comum na microempresa, acaba que não tem acesso porque o banco acha que quanto menor a empresa, maior o risco", disse.
Leandro Allgayer é dono da Allper transportes que atua na Região Sul como agência de turismo, fretamento de veículos e transporte escolar. Ele relata que teve de demitir todos os oito funcionários.
"O turismo vai voltar só em setembro ou outubro. Esses dois meses que o governo tinha dado de ajuda não ia adiantar, pagaria mês passano e este mês e eu teria junho, julho e agosto. Como eu ia bancar os funcionários? Tive que demitir todos", afirmou.
O empresário explica que a melhor forma de financiamento para que a empresa se mantenha seria focar em capital de giro com carência de 12 meses. Segundo Allgayer , se não tiver acesso a esse empréstimo, vai ter que fechar a empresa.
"A gente necessita de capital de giro, temos histórico bom e as contas estão começando a atrasar, daqui a pouco estamos entrando no serasa, spc... e não vamos conseguir cumprir com as obrigações porque nossa renda zerou", disse.
A FAG
Bordados
, indústria do setor têxtil de Blumenau
, tinha 50 funcionários antes da crise. Teve que demitir 16. Entre os que ficaram, parte está em suspensão de contrato e parte o dono, Afonso Jungblut, vai pagar com os recursos do financiamento do governo, que demorou 30 dias para conseguir.
"Se você não tiver uma empresa já com tudo em dia e de uma certa forma mantendo um caixa preservado, aí complicou, porque o banco complica o teu cadastro para você chegar no dinheiro", disse o empresário.
Os recursos vão servir para pagar a folha de abril e maio. Para o futuro, Jungblut não vê uma saída sem uma renovação do auxílio governamental.
"Para manter a empresa aberta, se não vier mais três meses pelo menos, dificilmente, porque o setor industrial até que tentou trabalhar, mas os shoppings, magazines, e o coração do Brasil, que é São Paulo, está fechado", explicou.
Rio de Janeiro
De acordo com os dados do BC , no Estado do Rio de Janeiro , 1.945 empresas conseguiram o financiamento para 32.508 empregados. O valor financiado foi de R$ 44 milhões.
Rafael Zanderer , economista do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec), relata que as empresas do setor de comércio e serviços precisam de outras medidas. Ele explica que a maior parte dessas empresas é micro, com poucos funcionários, e não se encaixa na medida.
"Uma parte importante das empresas que empregam de 1 a 4 funcionários faturam menos de 360 mil. No setor de comércio e serviços, essas empresas são mais ou menos de 128 mil total de 477 mil comércio e serviços", disse.
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O economista relata que uma pesquisa feita pela Fecomércio com empresários do estado mostrou que 72% disseram que a burocracia dificulta o acesso às medidas de ajuda do governo federal.
"Uma parte muito importante das empresas do nosso setor são empresas pequenas, então elas não têm como empresas grandes têm, departamento de contabilidade ou de recursos humanos para poder fazer isso. É uma pessoa que pode fazer isso, é dona, administradora, RH, tem com certeza esse problema de burocracia", disse.