Um jogo de pôquer. É assim que o presidente da Argentina, Alberto Fernández, comparou a negociação da dívida do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI). E ele terá que jogar algumas de suas cartas na mesa nesta quarta-feira (12). Isso porque os negociadores do Fundo chegam a Buenos Aires para sua primeira missão desde que Fernandéz assumiu o cargo, em dezembro.
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Também nesta quarta, o chanceler argentino, Felipe Solá, faz sua primeira visita ao Brasil. Ele se encontra com o presidente Jair Bolsonaro e com o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em nova tentativa de aproximação da Casa Rosada com Planalto.
Antes de concordar com qualquer alteração nos termos do acordo atual, a equipe do FMI vai querer obter detalhes do plano com o qual Fernández pretende negociar mais de US$ 320 bilhões em dívida total e resgatar uma economia que deve encolher pelo terceiro ano consecutivo.
As conversas com o FMI, ao qual a Argentina deve US$ 44 bilhões, serão fundamentais para uma negociação ainda mais ampla com os credores para evitar um default, ou seja, um calote.
No sábado, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner , disse que o governo não pagará "nem meio centavo" de sua dívida com o Fundo antes que o país tenha saído da recessão.
Se o Fundo declarar que a dívida do país é insustentável, segundo a classificação usada por Fernández em diversas ocasiões, isso poderia dar mais poder de barganha ao presidente argentino para impor maiores descontos sobre o valor devido aos credores.
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"Se você conversa com credores privados, muitos deles veem o FMI como seu pior inimigo", avalia Jimena Blanco, chefe de pesquisa política da América Latina da consultoria Verisk Maplecroft, em Buenos Aires. "O FMI poderia complicar uma negociação para detentores de títulos no final ao concordar que, nos termos atuais, a Argentina seria incapaz de cumprir seus compromissos de dívida", complementa.
Além de bilhões de dólares em dívidas, muita coisa está em jogo para ambos os lados. Fernández prometeu aos eleitores que recuperaria uma economia que sofre com a inflação de 54% e alta taxa de desemprego .
E o FMI, considerado um vilão na Argentina depois de mais de 20 acordos de financiamento desde 1958, espera recuperar algum campo de negociação. A Argentina se tornou seu maior devedor, depois que o empréstimo recorde do Fundo, de US$ 56 bilhões, foi aprovado em 2018.
Renegociação até 31 de março
Com dois meses de mandato, Fernández optou por não anunciar planos econômicos abrangentes e, em vez disso, recorreu a uma série de aumentos de impostos, congelamentos de preços e reajustes salariais para apaziguar os eleitores.
Sua única declaração importante sobre as negociações da dívida foi que pretende encerrá-las até 31 de março, um prazo difícil de ser cumprido.
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"Não é verdade que não temos um plano, não o contamos apenas porque estamos em plena negociação e contá-lo seria mostrar as cartas", disse o presidente argentino no início deste mês em um evento em Paris. "Estamos jogando pôquer , e não com crianças", resumiu.