Casas à beira de córrego ficam alagadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Foto: Defesa Civil
Casas à beira de córrego ficam alagadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denunciou que as recentes e nchentes que atingem Minas Gerais e no Espírito Santo, nos últimos dias, foram intensificadas por conta do rompimento das barragens de Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 2019, e Fundão, em Mariana, 2015.

O grupo se reuniu em uma coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (30), no plenário principal da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Participaram da mesa integrantes do MAB e pesquisadores.

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Até esta quinta-feira, as consequências das chuvas que castigam parte da Região Sudeste mataram 55 pessoas, deixaram 38.703 pessoas desalojadas e 8.157 pessoas desabrigadas. Especialistas apontam que janeiro de 2020 pode ser classificado como o mês em que mais choveu em Belo Horizonte ao longo dos últimos 110 anos.

Apesar da grande quantidade de chuva, o MAB pontua que as enchentes também são resultados do impacto direto dos rompimentos das barragens.

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Na coletiva, a professora Dulce Maria Pereira, da Universidade Federal de Ouro Preto, falou sobre a relação dos rompimentos com as enchentes. A pesquisadora é responsável por estudos da qualidade do solo, água e ar em regiões atingidas pelo rejeito de Fundão.

Ela explica que, em 2015, foram mais de 60 milhões de metros cúbicos de lama da barragem de Fundão depositados no leito e nas margens do rio Doce, ao longo dos mais 600 quilômetros de cursos d’água. Já no ano de 2019, no rio Paraopeba, foram 11 milhões de metros cúbicos que desceram do Córrego do Feijão.

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"Essa mudança que observamos na paisagem é decorrência do impacto geológico. Foram milhões de metros cúbicos de lama atingindo esses territórios. Essa lama, além de assorear o rio, levou seus contaminantes e isso causou e ainda vai causar uma série de problemas", explica.

A professora da UFOP detalha ainda que onde há concentração de rejeitos há o aumento da temperatura. "Temos pesquisas que identificam uma mudança de 7 graus na temperatura em Mariana e em Barra Longa, é uma diferença grande", lamenta.

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Estudos de pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) também identificaram adenovírus presentes onde ocorre a mistura de esgotos domésticos e metais pesados. As pesquisas apontam o risco à saúde de milhares de pessoas que agora sofrem com as enchentes formadas com água contaminadas.

A pesquisadora diz que é preciso uma ação do poder público com relação à dispersão dos metais que chegaram ao rio Doce e ao rio Paraopeba. "De um lado, temos as mineradoras e seus representantes, que querem criar uma imagem positiva da empresa. É uma disputa injusta porque do outro lado, em muitos casos, a comunidade não sabe dos riscos e impactos terríveis", pontua Dulce Maria.

O MAB denuncia também que as pessoas às margens do Paraopeba têm sofrido intensamente. Antes, apenas com o medo da contaminação das substâncias tóxicas. "Agora o medo foi agravado porque eles perderam as suas casas, suas roupas e não recebem orientações específicas. As pessoas estão com muita dificuldade de ter informação sobre reparos", diz o militante do movimento José Geraldo Martins.

O movimento dos atingidos destaca que procurou a Vale para a empresa tomar as medidas cabíveis, mas ouviram que a responsabilidade pelas enchentes é do poder público.

Na avaliação do MAB, a mineradora deve orientar a população sobre os riscos à saúde e ser a responsável pela reparação integral dos danos causados nas regiões afetadas pelas enchentes, que agora tem a lama tóxica como agravante.

As solicitações e denúncias serão entregues formalmente à Defensoria Pública  e outros órgãos de Justiça que atuam na defesa dos direitos dos atingidos na próxima segunda-feira (3).

Procurada pelo iG para esclarecer sobre a relação citada entre as enchentes e os rompimentos, a Vale informou que desconhece dados e estudos que indiquem que houve assoreamento significativo provocado pelos rejeitos no curso do rio Paraopeba. 

"A companhia reforça que cerca de 80% dos rejeitos que vazaram da barragem B1 se depositaram em aproximadamente 10 quilômetros do leito do ribeirão Ferro-Carvão a partir do ponto do rompimento e nos dois primeiros quilômetros do Paraopeba após a confluência com o ribeirão. Nesse trecho, a Vale implantou um conjunto de estruturas de contenção e, desde o dia 27 de maio de 2019, interrompeu o carreamento de sedimentos para o rio Paraopeba, além de estarem em execução atividades de remoção de rejeitos, limpeza e tratamento da água. Todas essas ações são acompanhadas por auditoria técnica independente designada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)", diz nota enviada à imprensa.


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