O preço da carne disparou no Brasil em novembro e segue nas alturas, em função sobretudo da alta das exportações para a China, e já afeta diretamente a vida do brasileiro. Segundo especialistas, o preço pode ficar nas alturas por anos.
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Em supermercados e açougues do Rio de Janeiro, por exemplo, o preço da carne aumentou mais de 30% em um mês em alguns cortes, como picanha e alcatra, bem acima da média de 6,78% de alta da carne vermelha no ano pelo IPCA-15 e da inflação, abaixo de 3%.
De acordo com levantamento da BoiSCOT Consultoria obtido pela Exame , o preço da arroba bateu recordes e chega a ser negociado por até R$ 230, com aumentos em 29 das 32 praças do Estado de São Paulo pesquisadas pela entidade.
"É a primeira vez, desde novembro de 1991, que a cotação atinge esse patamar (considerando o preço nominal e também o preço deflacionado)", disse a BoiSCOT quando o preço bateu R$ 200.
Segundo a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), alguns produtos sofreram alta de até 50% no mês passado.
A alta da carne se deve a uma combinação de fatores. O principal é o aumento das exportações brasileiras para a China , cujos rebanhos de porcos foram reduzidos à metade pela febre suína africana. Com menos proteína suína, os chineses passaram a importar mais esse tipo de carne e também outras, como a bovina e de aves.
Como os chineses pagam mais e o dólar em alta aumenta os ganhos, os produtores brasileiros preferiram aumentar a exportação para o país asiático, o que reduziu a oferta interna e elevou os preços por aqui. O modelo econômico de crescimento da China vem mudando desde 2010, com aumento constante do consumo doméstico.
De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou para a China 3,86 milhões de toneladas de carne suína , bovina e de frango, um aumento de 44% em relação ao mesmo período de 2018.
Segundo Roberto Dumas, professor de Economia Internacional do Ibmec-SP, a demanda chinesa deve se manter em alta por anos: "O aumento do consumo dos chineses, com alta da renda dos trabalhadores, é estrutural. E se a China não produz para a demanda interna, acaba importando do agronegócio brasileiro. Isso veio para ficar. O que a China abateu de suínos deve ser recuperado só daqui a cinco ou seis anos", explica.
A demora também se refere ao longo ciclo do boi. Enquanto o frango demora de 45 a 60 dias para ser abatido, o que facilita o ajuste da oferta de acordo com a demanda, e o porco leva de 100 a 120 dias para ser engordado, o boi, em geral, leva de quatro a seis anos no pasto. Com tecnologia, esse período pode ser abreviado para três anos, mas a expansão da oferta ainda é lenta.
Confira a alta do preço da carne neste ano
Até novembro deste ano, as carnes subiram, em média, 6,78%, enquanto a inflação do período é bem inferior, de 2,83%. Em destaque, aparece a carne de porco, que subiu 11,63%. Veja a alta percentual de cortes de carne neste ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
- Carne de porco: 11,63%;
- Frango em pedaços: 11,32%;
- Filé-mignon: 9,52%;
- Costela: 7,88%;
- Acém: 7,28%;
- Frango inteiro: 6,59%;
- Patinho: 6,59%;
- Músculo: 5,23%;
- Alcatra: 4,96%; e
- Contrafilé: 4,55%.
A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) afirmou, em nota, acreditar que "a elevação nos preços atual de 40% em apenas dois meses não é sustentável e que ela deverá refluir em algum momento, embora os preços não voltem aos patamares de maio/junho passado".
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina , já havia declarado que, além da alta das exportações, uma das causas para o aumento de preço era o período de três anos em que, segundo ela, "não houve reajustes" dos preços.
Outro estímulo à alta dos preços é a chegada do fim do ano, quando os supermercados e açougues tendem a aumentar as compras para reforçar o estoque para as compras de Natal . Como o consumo nessa época do ano é maior, a combinação de maior demanda com menor oferta faz disparar os preços. As substituições também encarecem o frango.
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Alguns cortes tiveram alta de mais de 30% pelos produtores, repassada para consumidores. Foi o caso da alcatra, que custava R$ 36 no início de novembro e nesta segunda era vendida a R$ 48,90, e da picanha, que subiu de R$ 37,90 para 49,90.