Após diversos veículos informarem que a rede de lojas Fnac encerraria as operações no Brasil, a empresa esclareceu o mal-entendido e disse que, na verdade, havia iniciado "um processo ativo de busca de parceiro local para continuar e reforçar sua operação". Ainda que a rede não pretenda se desfazer de suas 12 lojas físicas no Brasil, a declaração revela a dificuldade de se manter competitiva em um setor com diversas mudanças.
Leia também: Veja como proceder em casos de processos trabalhistas e assédio moral
A informação da saída da empresa do Brasil circulou após a divulgação do balanço financeiro para o ano de 2016. No documento, a companhia afirmava que as operações no mercado nacional seriam descontinuadas. Em nota à imprensa, no entanto, a Fnac ressaltou que a operação no País "precisa ter um tamanho crítico no sentido de ser relevante e reforçar sua posição de mercado", ao mesmo tempo em que se concentra na integração com a loja de produtos eletrônicos Darty, na Europa.
Leia também: Veja as melhores lojas online avaliadas pelos clientes em 2016, pela E-bit
Segundo um porta-voz da empresa, a principal justificativa para o documento comunicar a mudança na operação brasileira é atender às demandas de investidores que não desejavam manter os custos de um mercado em retração. A empresa não divulgou os dados definitivos para o Brasil do ano passado, mas os balanços apontavam queda nas vendas. No primeiro semestre do ano passado, por exemplo, a redução foi de 11%. Entre julho e setembro, houve retração de 14,4%. Nos documentos, a própria companhia analisava os resultados a partir de um contexto de crescimento da competitividade no setor e de crise econômica.
Entretanto, o especialista em Shopping Center e Varejo e diretor da consultoria Make it Work, Michel Cutait, afirma que a recessão econômica não deve ser apontada como o motivo principal para a situação financeira da companhia e lembra que as empresas do porte da Fnac não decidem sair de um país somente por conta de uma crise sazonal. No entanto, "a crise brasileira impôs uma diminuição das vendas, que impactam os resultados à medida que os custos continuam crescendo, e as receitas não acompanham na mesma proporção".
O consultor lembra que, em seu comunicado recente, a empresa manifestou o interesse de encontrar um interessado em sua operação brasileira, em vez de afirmar que deixaria o mercado local. "Essa sutil diferença permite concluir que a empresa continuará no Brasil até que consiga fazer um bom negócio para, então, deixar o Brasil. Seria perder muito dinheiro investido nesses últimos 18 anos", analisa.
Você viu?
Para o especialista em varejo, Caio Camargo, o anúncio da empresa foi causado muito mais por uma avaliação de custos e retornos do que uma decisão a partir de resultados da operação propriamente dita. "Acredito que pensando nas futuras expansões da empresa, o Brasil infelizmente não parece competitivo para a empresa, tendo uma representatividade pouco significativa no total mundial da marca".
Modelo das lojas
Presente no Brasil desde 1998, a Fnac conta com 12 megastores voltadas para o setor de livros, filmes, games e eletrônicos. Para Camargo, a empresa poderia aproveitar o tamanho de suas lojas para oferecer uma variedade maior de produtos, o que, segundo ele, permitiria resultados melhores. "Até mesmo como consumidor, foi possível notar que a empresa buscou se focar em produtos de vendas mais fáceis em detrimento de um catálogo de produtos mais extenso".
As unidades brasileiras da empresa costumam estar em pontos privilegiados. Em São Paulo, por exemplo, a empresa conta com pontos na Avenida Paulista, em Pinheiros e no Morumbi. Camargo explica que a escolha do local não é, necessariamente, obstáculo para a empresa se expandir no País. Segundo ele, "um dos principais problemas da marca é não ter encontrado no Brasil uma definição ideal de seu negócio. Era vista como especialista em eletroeletrônico, mas em outros departamentos, mesmo com áreas grandes de exposição, não era uma referência, como livros, por exemplo".
Novo parceiro
Quando perguntado sobre o a busca da Fnac por um parceiro no Brasil, Cutait lembra que a empresa tem uma participação considerável no mercado, além de uma operação de e-commerce muito expressiva. "Esse ativo tem muito valor, por isso que a empresa não vai simplesmente abandonar o Brasil", avalia. Segundo ele, a companhia tentará recuperar o investimento realizado até agora ou, no mínimo, minimizar os prejuízos antes de se retirar do mercado brasileiro.
"Essa transição deve acontecer de duas formas", aposta. "Ou vendendo a operação inteira para outra marca, ou, encontrando um parceiro local para seguir com a marca Fnac, aos moldes do que aconteceu, por exemplo, com a cervejaria Schincariol e a Kirin , que, quando da aquisição da cervejaria, a Kirin continuou usando a marca Schincariol".
O consultor explica ainda que a fusão com a Darty, em abril do ano passado, pode ter influenciado nas mudanças de planos para o Brasil. "Quando um novo sócio entra no negócio, é normal que as estratégias da empresa sejam revistas, que determinadas operações sejam priorizadas, que metas sejam atualizadas para respeitar as expectativas e decisões dos novos sócios".
Tendência para outras empresas?
Apesar da surpresa dos consumidores a respeito das dificuldades financeiras passadas pela empresa, Cutait acredita que o fato não deve se estender para outras companhias no País em um curto prazo. "O mercado de varejo é amplo, diversificado, complexo, dinâmico e imprevisível", afirma. "Mesmo porque, agora, depois desses últimos anos com o Brasil em crise, quem chegou até aqui, deve aproveitar a retomada do crescimento da economia brasileira, que já tem mostrado um já tem mostrado um progresso".
Por outro lado, Camargo afirma que, além da Fnac, há de fato mercados e marcas [estrangeiras] que estão com resultados preocupantes, acompanhando o resultado das empresas brasileiras". Segundo ele, algumas empresas já estão lidando com resultados ruins no início do ano. "As marcas já pensam a partir do terceiro trimestre buscando melhores resultados torcendo para um melhor humor e intenção de compra do consumidor".