Aos 16 anos Paulo Yossimi não sabia o quanto a vida podia ser dura antes se tornar uma história inspiradora de empreendedorismo. Vindo de uma família de boa condição financeira, já que seu pai era proprietário de uma fábrica de janelas, em Araraquara, interior de São Paulo, até então, ele não sabia o que era ter dificuldade.
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A morte inesperada de seu pai levou o jovem a ter de se virar muito cedo. “Após o falecimento do meu pai, minha mãe foi convidada por parentes a ir morar no Japão. Ela viajou e eu e meu irmão ficamos sozinhos aqui no Brasil”, disse Yossimi em entrevista ao Brasil Econômico. Aos 16 anos e com a responsabilidade de cuidar de seu irmão mais novo, na época com 14 anos, Yossimi precisou amadurecer muito rápido, fato esse que foi decisivo em toda a sua trajetória de empreendedorismo.
“Sempre tivemos uma vida muito boa. Meu pai tinha a fábrica, minha mãe era dona de casa e eu e meu irmão nunca nos preocupamos em ter de ganhar dinheiro”, disse. Sozinhos e com todas as obrigações de uma casa – limpeza, organização e despesas – os irmãos ainda adolescentes tiveram que aprender sozinhos as responsabilidades de um adulto.
Após aprender a lidar com os afazeres domésticos, veio à segunda parte da nova responsabilidade, que era pagar as contas. “Mais do que deixar a casa em ordem e preciso dizer que meu irmão era muito melhor que eu para cuidar da nossa casa, as contas chegaram e elas tinham de ser pagas”.
Yossimi aprendeu a arrumar máquinas de lavar e fez diversos “bicos”, até trabalhou de graça para ter experiência e encontrar algo melhor e remunerado. Foi então que ele encontrou o seu primeiro emprego, o de vendedor de calçados em uma loja em Araraquara. “O dono da loja era um homem muito bom, além de me dar um emprego ele também deu trabalho ao meu irmão”, enfatizou. Mesmo com os dois empregados, o dinheiro nem sempre era o suficiente para alimentação e todas as despesas da casa. “Virava e mexia cortavam a nossa luz”, lembrou.
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Novas oportunidades
Toda a dedicação e as dificuldades financeiras de Yossimi e seu irmão, fez com que o proprietário da loja em que eles trabalhavam desse uma nova oportunidade, a de estudar. “O dono da loja era um homem muito bom e nos ofereceu o pagamento da mensalidade da faculdade ao invés do registro em carteira”, explicou.
Por mais que as coisas pareciam entrar no eixo, o salário dos irmãos continuou não sendo o suficiente para todas as despesas e até fome Paulo Yossimi passou nessa época. “Tinha o costume de voltar da faculdade a pé. Cheguei em casa com fome e quando olhei no armário tinha apenas um pedaço de pão de leite. Não esqueço do meu irmão me perguntando se eu tinha fome. Para que ele pudesse comer fiquei sem me alimentar naquele dia e jurei que nunca mais aquilo iria acontecer”.
Sem concluir a faculdade de Direito iniciada tempos antes, Paulo Yossimi viu no segmento de eventos a oportunidade de, finalmente, prosperar. “Fui fazer bico de barmen, garçom em festas. Consegui contatos nesse segmento ainda na loja de sapatos, pois muitos iam até o local pedir ao dono que vendesse ingressos de shows e eventos”, disse.
A amizade com esses profissionais rendeu ao jovem um dinheiro extra e muito aprendizado e ímpeto de empreender. Interessado no mundo de eventos e em artistas, Yossimi decidiu se desligar da loja de calçados e foi pedir emprego na rádio pertencente ao Grupo Bandeirantes. “O salário e os benefícios eram melhores e foi então que passei a trabalhar com a área comercial”.
Empreendedor nato
A rádio cresceu e o Grupo Bandeirantes resolveu comprar uma outra operação em São José do Rio Preto e Paulo Yossimi foi convidado a mudar de cidade para atuar com o comercial do novo canal do grupo. “Tive contato com diversos artistas, e me interessei ainda mais no setor de entretenimento. Trabalhei com a dupla sertaneja de Goiânia, João Neto e Frederico. Em 2011, foi meu último trabalho com eles, em que gravamos o DVD ao vivo em Palmas”, explicou ele.
A correria de fazer diversos shows ao mês fez Yossimi perceber que a venda de ingressos seria algo rentável. Nesse momento ele decidiu empreender e vendeu a caminhonete que usava para trabalhar, para conseguir abrir seu escritório. ‘Conheci uma empresa que atuava com a comercialização de ingressos e me interessei. “Montei meu escritório e cheguei a pensar em tornar esse modelo de negócio em franquia”, explicou.
Para entender sobre o segmento de franchising, Yossimi assistiu a palestras de empresários do setor, como o fundador da Chin In Box, e acabou por perceber que franquia de venda de ingressos não daria certo.
Inspirado no franchising
Com a ideia fixa de que o franchising seria uma alternativa rentável, Paulo Yossimi começou a analisar possibilidade e se lembrou do restaurante, chamado Mineiro Delivery, em que almoçava todos os dias. “A comida era muito boa e tinha proximidade com os donos do restaurante. Foi então que resolvi chamá-los para tomar um café”.
O Mineiro Delivery já tinha conceito diferente que era comida de qualidade entregue em caixa especial, tirando aquele ar de desleixo das marmitex. Yossimi levou a ideia para os dois irmãos fundadores do restaurante, Gabriel e Marlon Ventura, e também para um grande amigo seu: Dhionatan Paulino, que já conhecia o segmento de franchising,
A sinergia entre os quatros, que se tornaram sócios-fundadores da rede Mineiro Delivery, deu tão certo que, mesmo com menos de dois anos no segmento, a marca já comemora resultados expressivos. “Fomos à busca de parceiros e encontramos alguns que acreditaram no nosso negócio. Nem precisamos fazer investimento inicial já que os irmãos Ventura já tinha a marca e eu o escritório”, explicou.
Com pouco menos de um ano a rede Mineiro Delivery conta com mais de 30 unidades em operação, sendo que 70 estão assinados e em fase de implantação. “Em 2015 faturamos R$ 4 milhões e este ano a nossa perspectiva é de R$ 7 milhões. Muito em breve nosso faturamento deve chegar a R$ 15 milhões. Isso se concretizará assim que as unidades já vendidas comecem a operar”, concluiu o empreendedor.
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