Como a crise política pela qual passa o Brasil pode ter impactos na economia? Como empresários e investidores têm reagido diante do processo de impeachment da presidente Dilma e da possibilidade de Michel Temer assumir o posto mais importante do País? Existe a expectativa de que uma troca de governo poderá trazer de volta a confiança na economia brasileira e a retomada do grau de investimento? Como os empresários devem se posicionar em um momento tão crítico da política e economia brasileiras?   

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Andressa Anholete/FramePhoto/Estadão Conteúdo
Dilma Rousseff e Michel Temer durante assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta entre a União, os estados de MG e do ES e a Samarco, em 02 de março


São muitas as perguntas e poucas as respostas. Mas existe, acima de tudo, esperança de que mudanças na política e consequentemente na economia possam fazer com que o Brasil supere o número crescente de negócios que vem fechando as portas e de trabalhadores perdendo seus empregos. 

Em fevereiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) comunicou que a economia brasileira deve fechar 2016 com o segundo pior desempenho do mundo (a estimativa é que o nosso Produto Interno Bruto (PIB) cresça menos apenas que o da Venezuela). No mesmo mês, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota do Brasil e tirou o grau de investimento do País. A agência, a única que ainda não havia tirado o selo de bom pagador do Brasil, apontou “a dinâmica política desafiadora” como um dos fatores que vem complicando os esforços da consolidação fiscal e atrasando as reformas estruturais, discurso que o FMI repetiu dois meses mais tarde: "as incertezas políticas continuam a prejudicar a capacidade do governo de formular e executar políticas".

“O rebaixamento do Brasil pelas agências internacionais afetou bastante a questão do investimento estrangeiro”, diz o sócio da TIEX, empresa de gestão e consultoria corporativa e financeira, Samuel Lopes.

“Além disso, temos a Lava Jato, que vem pegando os políticos e revelando tudo o que foi feito atrás das cortinas e que atrapalhou muito o crescimento da economia. Temos ainda juros que são fora de qualquer realidade e uma parte tributária que dificulta bastante, por isso temos visto um número grande de indústrias terceirizando produção ou se mudando para outros países, causando uma queda no número de contratações no Brasil e promovendo ainda mais a desaceleração da economia”, acrescenta.

O desemprego é outro fator a se levar em consideração, já que deve passar de 6,8% em 2015 para 9,2% em 2016. Para 2017, números ainda piores: 10,2%, ainda segundo estimativas do FMI. De acordo com o professor de economia do Insper Ricardo Humberto Rocha, a sociedade e os agentes de mercado não estão mais acreditando no modelo econômico que estamos trabalhando e que não se mostrou eficiente.

Segundo Lopes, a alta do dólar deveria ter favorecido os investimentos no Brasil (afinal de contas, com a valorização da moeda, os investidores gastariam metade do recurso para fazer o mesmo investimento que fariam há três anos), mas a incerteza e a insegurança prevalecem sobre a possibilidade de investimento.  “Quanto menor o grau de volatilidade da economia, mas eficiente é a questão do investimento”, explica o consultor.

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BBC Brasil
Para o FMI, a economia brasileira deve fechar 2016 com o segundo pior desempenho do mundo

Mas esse quadro de desaceleração da economia, aliado a demissões em massa e quebra de empresas, pode começar a retroceder com o impeachment da presidente, acreditam os especialistas.

“O dólar não vai despencar de uma hora para a outra, mas vai cair a um patamar que continuará sendo vantajoso aos investimentos. Prevemos um cenário de dólar favorável e economia estável. Vimos que a cotação da moeda caiu desde que foi iniciado o processo do impeachment e é justamente a expectativa de que uma mudança de governo trará melhor humor para a economia, que vem influenciando não apenas o dólar, mas também a bolsa”, explica Lopes.

“O fluxo de investimentos deve voltar ao Brasil se o Senado aprovar o impeachment da presidente e o novo governo adotar ações de mais responsabilidade econômica e incentivar a competição para que assim, os investidores possam operar no Brasil com mais liberdade. Mas é necessário ter cautela. A perspectiva de mudança costuma causar movimentos emocionais que têm seus limites. Quem assumir a gestão das finanças tem que fazer o que prometeu nos discursos, tem que apresentar uma proposta na qual os investidores realmente acreditem”, observa Rocha.

Mercado cheio de expectativas

Mudança e esperança são as palavras de ordem que mais vem sendo usadas pelos especialistas. Mas também, ninguém acredita que Temer ou qualquer outro sucessor de Dilma poderia surgir neste momento como um salvador da pátria e mudar todo o cenário econômico e político com um passe de mágica.

“Qualquer mudança vai trazer esperança de que algo seja feito. Vamos ficar em um processo meio que de expectativa com a economia parada durante esse período de votação do impeachment, mas com um pouco mais de esperança, independente de que partido político assuma o governo. Muitas empresas que tem capacidade de investimento estão aguardando a adoção de mudanças para poderem injetar recursos a médio prazo, o que vai aquecer a economia novamente. E tem gente segurando demissões com a expectativa de que isso aconteça”, conta Lopes.

“É certo que não aparecerá um salvador da pátria, mas também é certo que a Dilma enfrentaria muito mais dificuldade para fazer qualquer mudança caso se mantivesse na presidência, porque a Câmara e o Senado estariam contra ela. Se ela permanecer, a insegurança vai continuar muito grande, e mudar o humor do empresariado vai ser muito difícil. A expectativa de todos é que o estabelecimento de mudanças gere um novo astral, uma nova força, para que os investimentos e o quadro de pessoal sejam mantidos para que em 2017 e 2018 o Brasil possa colher os frutos do investimento que foi feito nesse período”, completa.

Mudança de política econômica

De acordo com analistas, os agentes de mercado têm grande expectativa de que a política econômica a ser adotada em um eventual governo liderado por Michel Temer, diferentemente da política econômica implementada pelo governo Dilma, será focada em maior rigor fiscal e maiores incentivos a investimentos.

“O governo Temer tende a ter essa configuração e, portanto, baixa rejeição no Congresso. Existe esperança de que os rumos da economia possam ter algum alento, pelo menos no que diz respeito à intenção da gestão econômica do Brasil. A proposta dele deverá ser mais contemporânea, mais alinhada com o mercado e comprometida com a diminuição da volatilidade do dólar, aumento do investimento em bolsa e expectativa de redução da taxa de juros para reconstrução da economia. O mercado espera um presidente que tenha uma gestão mais aberta, mais liberal e sem tanta intervenção nas decisões porque o que estamos vivendo é uma gestão com muito intervencionismo, que põe camisa de força no investidor”, diz Rocha.

“Michel vai ter um corpo técnico competente e com compromisso mais liberal”, acrescenta fazendo menção às especulações de que Temer monte uma equipe econômica de peso.

O  presidente do Banco Central durante o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga, e o presidente do Banco Central durante os dois mandatos de Lula, Henrique Meirelles, são apenas alguns dos nomes cotados para compor a equipe de Temer e, que, segundo alguns otimistas, seriam capazes de resolver parte dos problemas apenas com suas credenciais.

“Acredito que o governo não eleito diretamente pode ter mais condições de deixar a casa em ordem para que o próximo ocupante possa dar prosseguimento aos trabalhos e tirar o país da crise, ou levar o país ao padrão mínimo de crescimento para que ele possa absorver a mão de obra”, diz Rocha.

Governo não se faz apenas com discursos

Apesar das projeções e previsões, o fato é que os analistas, os pesquisadores e os brasileiros só saberão o que realmente acontecerá quando o novo governo sentar na cadeira, e se ele efetivamente sentar na cadeira. As empresas devem aproveitar o momento para brigar pela qualidade de investimento e por melhorias na questão de tributos, independente da postura ou escolha de partido.

“O empresariado tem que fazer o seu dever de casa, olhar internamente e ver o que pode ser feito diante das perspectivas de mercado e cobrar das autoridades a implementação de melhores práticas para o mercado como um todo”, aconselha Lopes.

Afinal de contas, quem ocupar o Palácio da Alvorada, terá uma missão árdua e deverá mostrar que governo não se faz apenas com promessas e discursos.

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