O novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, trabalha na elaboração de um programa de desinvestimento para ser anunciado a partir de setembro. A ideia é montar um cronograma para a venda das participações do banco em outras empresas.
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Esses ativos, que estão hoje dentro do braço financeiro do BNDES , o BNDESPar, somam R$ 110 bilhões e serão vendidos de acordo com um plano a ser executado até o final do ano. A carteira inclui ações em empresas de setores como elétrico, siderúrgico, de saneamento, de petróleo e imobiliário.
A interlocutores, o novo comandante da instituição - que toma posse na semana que vem - tem dito que é mau negócio para um banco de fomento de um país em desenvolvimento ter recursos parados em ativos especulativos.
Para ele, o BNDES precisa ter como foco o direcionamento de dinheiro para projetos que melhorem a qualidade de vida da população. Isso passa pela aplicação de recursos, por exemplo, na modelagem de projetos que ajudem estados e municípios a privatizar empresas estatais dentro de um esforço de equilíbrio fiscal.
Deixar o cronograma para setembro faz parte de uma estratégia para aproveitar o otimismo gerado pela aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. E como julho e agosto são época de férias no Hemisfério Norte, a janela de oportunidade viria no mês seguinte. O plano de Montezano é se desfazer dos ativos com cautela, de modo que não haja prejuízo para o banco.
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Compra de imóveis de estados e municípios
No final do processo, o BNDESPar terá como missão gerir uma carteira reduzida. Ela poderá ter entre seus ativos imóveis comprados de clientes do BNDES e que serão vendidos posteriormente. Essa é, por exemplo, uma possibilidade para ativos de estados e municípios, para os quais o BNDES quer intermediar o acesso ao setor privado.
Montezano também tem afirmado à equipe do banco que o BNDES precisa aproveitar sua experiência para se tornar um banco de serviços. É aí que entrará a modelagem de projetos para investimento , como foco em áreas como saneamento, infraestrutura e iluminação pública.
O BNDES também passará a ter um plano trianual estruturado com metas. Esses objetivos ainda serão definidos, mas devem incluir número de projetos de modelagem de privatização, de estados atendidos e de ampliação da oferta de serviços como água e esgoto.
O novo presidente estabelecerá cinco metas para sua gestão: acelerar a venda de ativos, fixar o plano trianual, melhorar a relação com os clientes, além de devolver recursos ao Tesouro Nacional - serão R$ 126 bilhões este ano - e continuar o processo de abrir a chamada caixa-preta do BNDES, à qual o presidente Jair Bolsonarofaz referência recorrentemente.
Montezano assumiu o comando do BNDES depois da saída de Joaquim Levy, que pediu demissão do cargo após Bolsonaro declarar publicamente que estava insatisfeito com a atuação do economista. Uma das queixas do presidente era a suposta leniência de Levy em divulgar o que ele classifica de "caixa preta" do BNDES.
Devolução de recursos ao Tesouro
O banco foi utilizado em governos petistas para injetar dinheiro na economia com juros subsidiados e concedeu financiamentos para obras de infraestrutura em Cuba e na Venezuela. Desde o governo Michel Temer, no entanto, a instituição abriu os dados sobre suas operações. No entanto, isso ainda não satisfez o presidente. Para Montezano, o que falta, e será feito agora, é um reconhecimento público de que o banco foi conivente com essas práticas.
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Levy também era acusado por Bolsonaro e pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, de resistir em devolver ao Tesouro Nacional dinheiro que foi injetado na instituição a partir da crise financeira de 2008. Ainda há um montante de R$ 270 bilhões. O novo presidente do BNDES quer concluir essa operação, que ajudará a reduzir a dívida pública, até o final de 2021. A ideia é devolver R$ 126 bilhões em 2019 e o restante nos próximos dois anos.