Ex-governador do Rio, Sérgio Cabral foi preso na Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato, em novembro de 2016
Fabio Rodrigues Pozzebo/Agência Brasil
Ex-governador do Rio, Sérgio Cabral foi preso na Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato, em novembro de 2016

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB)  admitiu pela primeira vez que recebeu propina e relatou sofrer de "vício" em dinheiro. "Esse foi meu erro de postura, apego a poder, dinheiro... é um vício", disse o emedebista em  depoimento prestado nessa terça-feira (26) ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

A declaração de Sérgio Cabral chamou a atenção do grupo de apoio mútuo Devedores Anônimos, que ajuda no atendimento a pessoas que têm problema na relação com o dinheiro e no controle de seu próprio orçamento.

O grupo foi criado em 1968, na esteira do surgimento dos Alcoólicos Anônimos no Brasil, e segue sistemática semelhante à do AA, com reuniões periódicas.

Uma das integrantes dos Devedores Anônimos em São Paulo (que não quis se identificar em respeito ao princípio do anonimato adotado pelo grupo) explica que a declaração de Cabral alerta para um distúrbio que é real, embora muitas vezes seja tratado com descaso.

"Há muitas pessoas que gastam o dinheiro por compulsão ou obsessão para preencher um vazio existencial. Há também aqueles que juntam dinheiro, mas não conseguem gastar de jeito nenhum, por medo", diz a integrante do DA.

Segundo ela, para ambos os casos não há um tratamento definitivo e, por isso, os Devedores Anônimos não têm como proposta encontrar uma "cura" para o ' vício em dinheiro ', mas sim ajudar as pessoas que têm esses distúrbios a compreenderem isso e a a deterem a compulsão um dia de cada vez.

Integrantes do DA reclamaram que a declaração de Cabral é apenas uma desculpa do ex-governador, já condenado a quase 200 anos de prisão na Operação Java Jato , e que banaliza um problema que afeta a muitos. Segundo a professora Virgínia Ferreira, da Faculdade de Medicina de Petrópolis, o "vício" alegado pelo emedebista não se enquadra ao seu caso.

"Não existe nenhum vício, está muito longe disso", disse a professora em entrevista ao O Globo . "O que há, na realidade, é um desvio de caráter. É bom que se entenda que o vício só traz malefícios. A pessoa sabe que ela está errada, mas não tem controle. O dele é justo o oposto. O que ele tem é uma ganância desmedida. Agora, tenta se vitimizar e certamente minimizar as punições na Justiça", afirmou.

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Em São Paulo, os Devedores Anônimos realizam reuniões nas segundas-feiras, em Moema, e nas terças e quartas na Rua Sampaio Vidal, nos Jardins. No estado onde Sérgio Cabral exerceu o que chamou de "erro de postura" e hoje cumpre pena, o Rio de Janeiro, também há um um grupo de atendimento do DA. 

Relembre a mansão de Sérgio Cabral leiloada pela Lava Jato:


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