A Philips, gigante holandesa da área de saúde que é investigada no Brasil e nos Estados Unidos, foi informada sobre vendas suspeitas de seus equipamentos médicos ao governo brasileiro e não as impediu, quase uma década antes de um suposto esquema de corrupção nas operações da empresa exposto no ano passado. As informações são da Reuters .
José Israel Masiero Filho, ex-executivo da cadeia de suprimentos da Dixtal Biomédica Indústria e Comércio Ltda., que denunciou o escandâ-lo, foi demitido pela empresa e falou com exclusividade à Reuters
. O ex-funcionário teria avisado seus superiores do esquema suspeito antes da demissão.
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As alegações de condutas ilegais dentro da Philips alcançaram os mais altos níveis do grupo em 2010, de acordo com registros judiciais que foram apresentados por promotores federais e ainda os documentos internos da empresa.
De acordo com o ex-funcionário, em janeiro de 2010 foram detectadas irregularidades em três acordos de vendas de equipamentos da Philips e da Dixtal a um intermediário brasileiro que conseguiu grandes contratos com o Ministério da Saúde .
Segundo Masiero, teriam sido feitos pagamentos de suborno para garantir o negócio com o governo. Essas alegações feitas pelo ex-funcionário são o centro de uma investigação sobre subornos no Brasil que envolvem o governo e a Philips.
Em 2010, Masiero enviou um e-mail a uma linha direta da empresa para relatar suas suspeitas, alertando ao menos três outros executivos seniores; entre eles, estava Steve Rusckowski, ex-presidente-executivo da Philips Healthcare, maior divisão da empresa. Os avisos do ex-funcionário foram detalhados em e-mails, memorandos internos da empresa e também em registros judiciais vistos aos quais a Reuters teve acesso.
"A Philips deve considerar que, ao aprovar e aceitar essas vendas, estará envolvida em atividades ilegais, se isso for descoberto", escreveu Masiero a Rusckowski em um e-mail em 14 de outubro de 2010.
Mesmo após o aviso, segundo as faturas, a empresa, conhecida formalmente como Koninklijke Philips, continuou a vender para o intermediário brasileiro para cumprir os contratos do Ministério da Saúde.
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As denúncias de Masiero, ex-funcionário da Philips
Contratado em 2006 como gerente de exportação da Dixtal, comprada pela Philips em 2008, Masiero tinha a responsabilidade de ser o principal executivo de logística e cadeia de fornecimento da companhia de dispositivos médicos.
No início de 2010, notou possíveis irregularidades em três contratos com o Ministério da Saúde. Segundo os registros do governo, os acordos, que envolviam 750 desfibriladores e um total de 3.972 monitores de sinais vitais, tinham o valor total de R$ 68,9 milhões. O ex-gerente estranhou o fato de a Philips não brigar diretamente por um negócio tão rentável. À época, os contratos foram conquistados pela pouco pequena empresa Rizzi Comércio e Representações Ltda .
Encarregado de levar o equipamento para a Rizzi Comércio, Masiero ficou surpreso ao notar que o endereço de cobrança para uma compra tão grande era uma pequena loja com tinta roxa descascada em São Paulo. "Foi uma bandeira vermelha imediata para mim", relatou à Reuters .
Segundo ele, o Ministério da Saúde estava pagando bem acima dos preços de mercado pelos equipamentos. Em 12 de fevereiro de 2010, por exemplo, Masiero supostamente recebeu um e-mail de um executivo de vendas da Philips, Frederik Knudsen, que o orientava a entregar o primeiro carregamento de 60 desfibriladores à Rizzi Comércio. Segundo correspondência incluída nos registros, a empresa remarcou os preços desses dispositivos em mais 67%.
“O valor que deve estar na ordem é o que foi acordado com o Ministério da Saúde [US$ 16.700 por unidade] e não o valor pelo qual vendemos à Rizzi [US$ 9.991]”, diz o e-mail atribuído a Knudsen visto pela Reuters .
Após novas trocas de e-mails e questionamentos às práticas da empresa, Masiero foi transferido de Dixtal para um posto logístico da Philips em São Paulo, um movimento considerado por ele como um rebaixamento e um esforço para silenciá-lo. Segundo as faturas, as remessas de equipamentos supostamente superfaturados continuaram. Atualmente desempregado, ele diz ter sido "colocado na lista negra no Brasil".
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A Philips informa à Reuters que coopera com as autoridades brasileiras que investigam a indústria de equipamentos médicos no País, e diz ainda ter iniciado, em 2010, uma investigação interna a uma "denúncia anônima". A empresa não discutiu as causas para a demissão de Masiero. O Ministério da Saúde não se pronunciou sobre as denúncias.