Dois roteiros aproximam uma dupla de peso da indústria automobilística. De um lado, a Fiat Chrysler (FCA Group) vive o desafio de seguir sem o pulso forte do CEO Sergio Marchionne, falecido em julho de 2018. Entre outros feitos, ele arquitetou a fusão entre a montadora italiana e a americana, em 2009, salvando ambas da falência.
Já a francesa Renault busca um novo rumo desde janeiro, quando destituiu o CEO Carlos Ghosn, acusado de práticas ilícitas. O brasileiro foi o principal nome por trás da aliança com a japonesa Nissan, formada há vinte anos. Em 2016, a parceria ganhou o reforço da também nipônica Mitsubishi.
Agora, esses dois caminhos têm tudo para se cruzar. Na segunda-feira (27), a Fiat Chrysler propôs uma fusão com a Renault, em um acordo que criaria o terceiro maior grupo global do setor , com uma receita combinada de 172 bilhões de euros.
Na operação, que seria listada nas Bolsas de Milão, Paris e Nova York, cada uma das partes ficaria com uma fatia de 50%. O Conselho de Administração teria quatro membros de cada grupo e um integrante indicado pela Nissan. O acordo não envolveria o fechamento de fábricas.
As sinergias anuais superariam 5 bilhões de euros e incluiriam questões como economia de compras, eficiência nos investimentos em pesquisa e ampla cobertura no portfólio, dos veículos de entrada até os carros de luxo. A Renault informou que vai estudar a proposta. A FCA ressaltou a possibilidade de parcerias com Nissan e Mitsubishi. Nesse caso, a projeção incluiria um adicional anual de 1 bilhão de euros em sinergias.
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No curto prazo, o principal benefício seria o ganho de participação. No Brasil, levando-se em conta as vendas de janeiro a abril, a operação assumiria o primeiro lugar, com uma fatia de 27,3%, bem à frente da líder General Motors , com 18,02% no período. A complementaridade em frentes que prometem ditar os rumos dessa indústria também traria boas perspectivas.
“A FCA tem bons avanços em veículos autônomos e a Renault em carros elétricos”, diz Rodrigo Custódio, analista da Roland Berger. A presença nos Estados Unidos, Europa, América Latina e Oriente Médio é outro ponto. Mas ele faz uma ressalva: “Eles seguiriam tendo uma fatia pífia na China, que é o mercado do futuro.”
Uma das principais questões, no entanto, é a dúvida sobre a inclusão ou não de Nissan e Mitsubishi no pacote. E dos eventuais reflexos para a aliança das duas montadoras com a Renault. As supostas fraudes cometidas por Ghosn, que liderava as três operações, trouxeram à tona algumas rusgas nessa relação.
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“É difícil saber se um acordo envolvendo apenas a Renault seria uma resposta a essa situação. A princípio, soa estranho”, diz Milad Neto, da consultoria Jato Dynamics. Mesmo que a dupla seja incorporada, há desafios nessa equação. “Estrategicamente faria sentido. Mas seria um trabalho muito pesado integrar tantos idiomas e culturas diferentes em uma única direção”, acrescenta Custódio.