Se for adiante, a fusão global anunciada entre a FCA Group, holding da italiana Fiat e da norte-americana Chrysler, e a concorrente Renault Group, que inclui a montadora francesa e as japonesas Nissan e Mitsubishi, deve criar a maior montadora no Brasil. Atualmente, a Fiat ocupa o segundo lugar; a Renault, o quarto.
Juntas, Fiat Chrysler e Renault produziram 164 mil veículos de janeiro a abril de 2019, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Os números não incluem a produção das operações brasileiras de Mitsubishi e Nissan. No mesmo período, das fábricas da General Motors, atual líder do mercado brasileiro, saíram 132 mil automóveis.
A proposta depende de aprovação pelo conselho de administração da Renault, que se reuniu nesta segunda-feira (27) em Paris para analisar o acordo.
A possível fusão de Renault e FCA não deve, por ora, envolver o fechamento de fábricas das duas empresas pelo mundo – inclusive no Brasil. O comunicado da FCA menciona a possibilidade de sinergias de 6 bilhões de euros às marcas envolvidas na fusão.
De acordo com a assessoria da FCA no Brasil, ainda é cedo para falar em sinergias de produção no País. O portfólio complementar das duas empresas “proporcionaria cobertura de mercado completa, desde luxo até veículos de entrada”. No Brasil, as duas têm fábricas no Paraná (Renault), Minas Gerais (Fiat) e Pernambuco (Jeep).
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O comunicado da Renault diz apenas que a companhia “decidiu estudar com interesse a oportunidade de uma aproximação” para fortalecer os negócios do Grupo Renault.
Corrida tecnológica
A falta de detalhes sobre o acordo global motivou pouca repercussão entre entidades sindicais das regiões com fábricas das montadoras no Brasil. O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, sede da fábrica da Renault desde 1998, disse aguardar mais detalhes para emitir posição sobre o assunto. Os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim (MG), onde está a planta da Fiat, não foram encontrados para repercutir o assunto.
O comunicado global da FCA menciona o fato de a companhia resultante da fusão ser “uma líder mundial numa indústria automotiva em rápida mudança, com forte posição em tecnologias transformadoras”, a exemplo de carros elétricos ou autônomos.
Para o professor Antônio Jorge Martins, coordenador do MBA em gestão da cadeia automobilística da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, essa corrida tecnológica está por trás de todos os anúncios recentes de união entre as montadoras, a exemplo da aliança comercial de Ford e Volkswagen anunciada no começo do ano.
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"Tudo isso tem como pano de fundo a exigência de aumento de competitividade no setor automotivo no mundo inteiro. O setor está deixando de ser uma indústria voltada a produtos para se voltar a serviços", diz Martins. "Os acionistas já exigem retornos elevados hoje, com tantos players tradicionais no mercado automotivo. Imagina no futuro com a entrada de outros, como Apple e Google, que já nasceram sob a cultura digital?'.