Werner Roger, colunista do iG, fala sobre investimentos
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Werner Roger, colunista do iG, fala sobre investimentos

Agosto foi o ‘mês do desgosto’ para muitos investidores na bolsa, com número de quedas consecutivas que bateu recorde. Essa quebra das expectativas, após meses de bonança, mais uma vez reforçou a necessidade de bons gestores para a escolha de bons ativos. Olhando adiante, a perspectiva de resultados crescentes para o segundo semestre e para 2024 nas empresas saudáveis aparece como destaque.

Outro ponto que mereceu atenção no último mês foi a dinâmica de liquidez das small caps. Liquidez é a quantidade de negociações dos ativos, o que se transforma na capacidade de conversão de um ativo em dinheiro. Menos liquidez resulta em mais dificuldade para montar ou desmontar posições em fundos de investimento.

Esta variável nem nós, nem o mercado controlamos – mas seu efeito é significativo. Houve uma queda de liquidez no mercado no processo de aumento da taxa de juros internacionais. A isso seguiu-se uma espiral negativa de queda de cotações e redução de liquidez. Mesmo que os fundamentos da empresa estejam bons, muitos investidores institucionais deixaram posições small caps por conta dessa redução de liquidez.

Mas, em relação ao ano passado, a liquidez tem aumentado aos poucos; juros em queda devem fazer esse movimento de recuperação na liquidez ganhar força. Daí, deve se seguir um processo – um ciclo virtuoso de alta nas cotações e elevação na liquidez. Investidores institucionais então podem voltar a se interessar e alocar um maior percentual de seus ativos em small caps (em busca de exposição em setores e empresas cíclicas, que se beneficiam da queda nas taxas de juros).

A própria B3, com algumas iniciativas recentes (possíveis novos books paralelos e aumento considerável do horário de negociação do after market, por exemplo), pode ajudar nesse sentido. Em agosto, o investidor institucional aportou R$ 5,4 bilhões e, o individual, R$ 4,6 bilhões nas negociações líquidas no mercado secundário (exceto emissões primárias de ações) na B3. O cenário de resgates para a indústria de fundos de ações melhorou bastante no segundo semestre de 2023 até aqui, em relação a 2022, mas atrair mais investidores tem se mostrado bem difícil. O viés comparativo de retornos passados é considerável.

A maioria esmagadora dos FIAs (fundos de ações) tem retornado muito abaixo do CDI nos últimos 24 meses (parte considerável tem tido retorno negativo, inclusive) e a rentabilidade atual da renda fixa ainda é maior que 1% ao mês. Com o passar do tempo, janelas mais favoráveis de comparação vão se abrir e, com o juro aterrissando, mais forte deverá ser a volta do investidor institucional à B3. Mas a mudança de cenário deverá ser gradual.

Os fundos multimercado também poderão aumentar a alocação em renda variável – e investidores individuais, percebendo um movimento de alta, também deverão seguir o “rebanho”. O investidor estrangeiro tirou R$ 13,2 bilhões da bolsa brasileira em agosto, numa forte realização de lucros. Até julho, para se ter noção do que foi agosto nesse aspecto específico, tinham sido aportados R$ 24,1 bilhões. Em um mês, metade do que havia chegado se foi. O saldo foi reduzido a R$ 10,9 bilhões (apenas 45% da posição de julho).

Como dissemos antes, os ruídos da questão fiscal brasileira não são novidades, mas estão ocupando um bocado de espaço na atenção de todos. A reforma ministerial poderá trazer mais governabilidade – leia-se: angariar mais apoio do Congresso para aumentar arrecadação e aprovar projetos do Executivo, mas fortalecendo o centrão, tão criticado na mídia e pelo próprio Presidente da República, mas cada vez mais refém deste bloco político.

Pelo que temos visto até aqui, o Congresso segue como grande protagonista da política, e Artur Lira tem sido o nome de maior destaque e poder. Em um cenário ideal, o Congresso pode usar esse protagonismo para propor também o controle de gastos a partir de 2024 ou 2025, em conjunto com o aumento da arrecadação. De nossa parte, seria uma excelente medida. A reforma administrativa, com certo “apoio disfarçado” da ala mais moderada dos ministros, tem sido ventilada e pode ser a saída para um aumento menor de impostos no futuro. Ela é apoiada por bancadas fortes, como a do agronegócio.

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