A recuperação econômica da pandemia da Covid tem sido, como era de se esperar, heterogenia. Ao consideramos os EUA, por exemplo, os dados apresentados no artigo “ Why tesi Thé U.S. GDP recovering faster than other advanced economies?” , de Francois de Soyres, Joaquin Garcia-Cabo Herrero, Nils Goernemann, Sharon Jeon, Grace Lofstrom e Dylan Moore, revelam que a diferença entre o PIB e a tendência pré-pandemia já desapareceu, ao passo que para o Canadá, a Zona do Euro e o Reino Unido, essa diferença ainda é de 4%, 5% e 6%, respectivamente. O que será que está por trás da resiliência da economia norte-americana e da dificuldade dos seus pares desenvolvidos?
Os autores levantam a hipótese de que fatores estruturais foram responsáveis para diferença na resposta das economias às políticas econômicas. Ou seja, é a estrutura de cada economia altera como os eventos de curto-prazo se desdobram. Por exemplo, embora os EUA tenham realizado um aperto monetário de magnitude ao registrado no Canadá, na Zona do Euro e, especialmente, no Reino Unido, a transmissão da política monetária via o mercado de crédito foi diferente. Como no gigante norte-americano há uma participação maior de crédito imobiliário e corporativo com taxas de juros pré-fixadas (e uma dependência menor do sistema bancário), o repasse desse aperto às taxas de juros finais dos empréstimos foi menor. Ou seja, a estrutura do sistema financeiro dos EUA, mais alicerçada em soluções de mercado (como capitação via bolsa e debêntures) e menos dependente de bancos comerciais, tornou o efeito do aumento dos juros menos contracionista.
A diferença na rigidez do mercado de trabalho também parece ser, ao menos à primeira vista, um fator relevante. Eles encontram que a diferença na performance dos EUA frente aos demais está muito relacionada à produtividade do trabalho e, em menor medida, ao número de horas trabalhadas. Por que será? Talvez tenha a ver com a rigidez do mercado de trabalho. Durante crises financeiras, a taxa de desemprego na Europa, por exemplo, aumenta muito menos do que nos EUA. Isso ajuda a aliviar os efeitos dos choques, mas também impacta na realocação setorial. Explico. Se é mais difícil demitir, o que acaba por “segurar” o emprego no agregado, também é difícil que os trabalhadores venham a migrar para os setores mais demandados, tornando-os menos produtivos, já que não estão trabalhando no seu potencial.
O dinamismo na criação de novos negócios também pode ser um fator relevante. O número de empresas criadas no pós-Covid nos EUA é consideravelmente maior do que na Zona do Euro, por exemplo. Já o número de falências se encontra abaixo do seu nível pré-crise, ao passo que, do outro lado do Atlântico, o nível está acima do nível registrado antes da pandemia.
Obviamente, os autores não poderiam deixar de ressaltar que o impacto da guerra na Ucrânia na Zona do Euro foi consideravelmente maior, que o Brexit também impõe dificuldades de médio e longo prazo cuja conta, possivelmente, já está sendo cobrada e que a intensidade da resposta fiscal foi maior nos EUA do que nos demais. Ou seja, a combinação de fatores estruturais e a exposição aos choques conta a história das diferenças de velocidade de recuperação e nos lembra que a potência das políticas de curto prazo está condicionada à parâmetros mais profundos. Isso ajuda a contar as histórias do passado mas também disciplina os planos para o futuro.