Aonde você espera estar nos próximos cinco anos? Seja em uma reflexão mais profunda sobre a vida ou apenas em uma entrevista de emprego, tenho alguma convicção de já ouviu essa pergunta em algum (ou alguns) momento(s) da sua vida. Quando consideramos o cenário macroeconômico em um país ou, como é o caso desta coluna, no mundo, ela também aparece. Em alguma medida, esse foi o tema do Capítulo 3 (intitulado “Slowdown in Global Medium-Term Growth: What Will It Take to Turn the Tide?” ) do relatório World Economic Outlook de abril de 2024: Steady but Slow: Resilience amid Divergence .
De acordo com os dados do relatório, projeta-se em 2029 um crescimento econômico em uma amostra de 88 países (feitos os devidos ajustes às diferenças no custo de vida de cada um) de 3,1% frente ao ano anterior. Para efeito de comparação, cinco anos atrás (em 2019), a projeção para 2024 era crescer 3,65% e, se voltarmos mais cinco anos, em 2014 a projeção era de 3,88%. Podemos ver no gráfico abaixo que esse movimento de queda nas projeções não é recente, mas tem acontecido sistematicamente desde 2013. Será que vivemos a era das expectativas diminuídas?
Ainda com base nos dados do relatório, a média na redução do crescimento projetado em cinco anos, para um grupo de países desenvolvidos (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Coreia do Sul, Espanha e Canadá), na comparação de abril de 2008 com abril de 2024 foi de 1,4 ponto percentual. Para emergentes como China, Índia, Indonésia, Rússia, Brasil, Turquia e México, a alteração foi ainda maior, de 2,8 pontos percentuais em média (ou 2,1 pontos percentuais se não considerarmos a China).
O que explica esses movimentos? Primeiro, vamos considerar as três fontes mais usuais de crescimento econômico: aumentos na produtividade, crescimento da força de trabalho e incrementos no estoque de capital. Os dados para a decomposição do crescimento do PIB mundial de 140 países apresentados no relatório são sintetizados no gráfico abaixo:
Quando comparamos a redução do crescimento do PIB real desses 140 países de 3,61% ao ano (1995-2000) para 2,5% ao ano (2020-2023), verificamos que metade da queda foi em função da redução da contribuição dos aumentos de produtividade! É muita coisa. E o que explica essa redução? Obviamente, o crescimento econômico de longo prazo é sustentado por diversos fatores , mas o relatório chama atenção para um elemento crucial e já abordado anteriormente nesta coluna: a má-alocação de recursos .
Em que pesem fatores ainda relativamente conjunturais associados à má-alocação de recursos decorrente da pandemia, o trabalho nos mostra que há diversos fatores estruturais (domésticos, no mercado de bens e serviços, por exemplo, ou internacionais, no que tange o comércio entre países) que impedem com que os recursos sejam direcionados às empresas que poderiam contribuir mais para o crescimento econômico dentro e entre países.
Mas não é só isso. O relatório também aponta que há as expectativas para o crescimento da força de trabalho têm diminuído. Ou seja, desse fator de produção vai ser difícil recuperar o crescimento perdido. Junto a esses dois pontos, o FMI elenca também certo “desinteresse” no investimento por parte de empresas: elas têm avaliado que seus projetos estão cada vez menos rentáveis frente aos custos associados ao investimento, o que torna difícil esperar que venha do fator capital a compensação dos outros dois pilares.
Em suma, fica claro que retomar o crescimento econômico mundial no longo prazo está mais desafiador. Impossível? Não. Mas dará trabalho e as escolhas de política econômica serão cruciais na condução desse processo. Há quem acredite que a inteligência artificial pode mudar esse quadro. Será? Abordarei esse tema oportunamente. Por ora, é torcer para que façamos escolhas diferentes e que a estrutura econômica seja alterada para deixar de impedir que empresas produtivas possam fazer o que sabem de melhor: produzir.