A economia deve desaquecer nos próximos meses ou continuar superando as expectativas?
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A economia deve desaquecer nos próximos meses ou continuar superando as expectativas?


Qualquer analista que dedique o seu tempo a estudar a economia brasileira está acostumada a lidar com incerteza. Faz parte do jogo. Mas quando se acumulam muitas dúvidas cujas forças empurram a economia para lados totalmente diferentes, o trabalho fica ainda mais desafiador. Vamos passear pelos principais pilares que sustentam cenários macroeconômicos e verificar que, em todos eles, fica difícil perceber uma tendência clara.

Comecemos com a atividade econômica. Temos um primeiro semestre que superou positivamente as projeções de mercado (coletadas pelo  Banco Central do Brasil por meio da pesquisa Focus), mas quando olhamos na ponta, vendas no varejo caem, o volume no setor de serviços também e as quebras setoriais da produção industrial muitas vezes revelam uma realidade árdua, para dizer o mínimo. Será que os ganhos de produtividade agregada que observamos recentemente são permanentes ou temporários? A  economia deve desaquecer nos próximos meses ou continuar superando as expectativas?

Ao seguirmos para a inflação, nós não temos nenhum alento no que tange a construção do cenário. Por um lado, a desinflação que houve na economia não cobrou (até o momento) o custo em termos de atividade econômica que era esperado por parte dos analistas (ela parece ter sido ajudada pela reversão de parte dos choques que a colocaram em um patamar incômodo, como tratei neste espaço na semana passada ). Por outro lado, a pesquisa recente de AriMulas-Granados, Mylonas, Ratnovski e Zhao nos lembra que devemos tomar cuidado com celebrações prematuras . E há, inclusive, quem ventile a possibilidade de que o resto do trabalho para conduzir a taxa de inflação para a meta (não falo aqui do limite superior do intervalo de tolerância, mas da meta mesmo) exigirá esforço extra. O que nos faz carregar dúvidas (que se acumulam) para o próximo pilar.

No âmbito monetário, um possível arrefecimento da economia pode induzir que o término do ciclo de corte de juros seja em um patamar mais baixo do que o esperado nas curvas de juros hoje. Todavia, será que a atividade econômica, se vier mesmo a se consolidar como mais fraca nos próximos trimestres, vai ser suficiente para esticar o ciclo de corte de juros, dado que ainda não temos claro sobre a possível necessidade de esforço no “final” da corrida (como se o trabalho da entidade monetária acabasse em algum dia) por parte do Banco Central? Sem falar que precisamos prestar bastante atenção para a dinâmica do mercado de crédito. É na macroeconomia financeira que surgem amplificações: tanto das oportunidades, quanto dos riscos.

Não acabou por aqui.

Temos que adicionar também as incertezas relacionadas à dinâmica fiscal. Sabemos que a necessidade de ajuste na trajetória das contas públicas ainda se faz necessária. Sabemos também (desde antes da pandemia ) que algum tipo de aumento de carga tributária deve se materializar logo. A dúvida é se vai ser suficiente para a sustentabilidade da dívida e, especialmente, como será a composição desses aumentos tributários, isto é, quem paga a conta. A  reforma tributária que outrora era vista como uma das esperanças para aumentar o nível da renda no Brasil no médio prazo, hoje também é fonte de incertezas, uma vez que para cada setor que é beneficiado com uma exceção, temos muitos outros que serão sobretaxados.


Não bastasse tudo isso, há também todo imbróglio que vem do ambiente internacional.  Estados Unidos com uma economia mais resiliente do que o esperado (mas com as suas próprias dúvidas sobre a dinâmica fiscal) e a  China com dificuldades tornam difícil saber o que vem de fora. Temos ainda o acúmulo de guerras cujos impactos futuros na ainda não estão claros.

Poderíamos avançar para outros pilares, mas já deu para ter uma ideia da dificuldade. Portanto, o que o momento pede agora é prudência. Avaliar com calma as vulnerabilidades que a sua empresa (ou família) possui frente às diferentes possibilidades e, sempre que possível, proteger-se. Isso não implica que oportunidades não devem ser aproveitadas, mas sim que o balanço de riscos não deve ser desconsiderado. O céu ainda não está de brigadeiro, então é importante estarmos alerta.

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