É sabido que os gestores de empresas sofrem pressão para gerar lucros no curto prazo. Isso é especialmente verdade nas firmas de capital aberto, no qual as divulgações trimestrais têm um peso grande na formação das expectativas dos agentes do mercado financeiro e, consequentemente, no desempenho das ações das companhias. Surge, portanto, um conflito de interesses. Se o futuro tem menos valor do que o presente, dirigentes podem ser ver levados a fazer escolhas que aumentem lucros agora, em detrimento de (um maior) lucro no futuro.
Caso isso fique apenas na esfera da empresa ou de um setor, pode-se vislumbrar uma situação na qual, para um dado nível de competição, empresas com outros tipos de estratégia ganhem o espaço perdido pelas curto-prazistas. Todavia, também é possível imaginar que essa estratégia não seja escolhida pelas concorrentes. Por quê? Considere um exemplo justamente do mercado financeiro: o desempenho das ações de uma empresa pode influenciar a sua capacidade de obtenção de crédito por parte das companhias. Nesse caso, pode ser que o incentivo para os concorrentes seja o de seguir a mesma prática curto-prazista.
Assim, surge a dúvida: quais são as consequências para a economia como um todo quando as empresas se comportam dessa forma?
Em artigo recentemente aceito para a Econometrica intitulado “The Macro Impact of Short-Termism”, Stephen J. Terry aborda essa questão. Sabendo que gastos com pesquisa e desenvolvimento reduzem os lucros no curto prazo, o autor utiliza dados de empresas com capital aberto nos Estados Unidos e investiga o comportamento das companhias frente ao desempenho relativo às projeções de Wall Street. Ele encontra que aquelas empresas que atingiram as projeções de lucro do mercado financeiro gastaram menos com pesquisa e desenvolvimento, em média, do que empresas semelhantes que não atingiram os lucros previstos. O autor também identificou que aqueles gestores de empresas que não atingiram as previsões do mercado financeiro norte-americano, ganham menos que seus pares com características semelhantes, mas que atuam em empresas que atingiram as projeções.
Como pesquisa e desenvolvimento tem um valor social maior do que o valor privado (já que possui benefícios não-intencionais que afetam terceiros, mas que não são incorporados no momento da decisão de investir nesse tipo de atividade), o curto-prazismo não só gera menos inovação, mas também diminui bem-estar social e o crescimento econômico. Lembremos que em regiões como a América Latina, a produtividade em baixa pode ajudar a explicar o fraco desempenho de longo prazo . Pouca pesquisa e inovação levam à uma produtividade aquém do necessário para aumentar o padrão de vida.
Mas qual é o tamanho do impacto?
O autor encontra que para escolhas de curto prazo que sacrifiquem os gastos com pesquisa e desenvolvimento e que levem ao aumento de 1% no valor da empresa, temos 0,05 ponto percentual por ano de perda de PIB no longo prazo. Olhando assim, parece bem pouco, certo? Façamos as contas para o Brasil.
Imaginemos um curto-prazismo que aumente o valor das empresas em 3%. Tomemos o PIB (e os preços) de 2022 como base. Em um período de 20 anos, isso significa perder mais de 300 bilhões de reais em renda! E se lembrarmos que o retorno da pesquisa em um país que pouco investe nisso pode ser (muito?) maior, esse resultado pode ser visto como conservador.
Em suma, precisamos pensar com cuidado nos incentivos quando desenhamos estratégias, mercados e instituições. Efeitos microeconômicos podem ser cancelados ou amplificados no agregado, por isso utilizamos o que a literatura chama de equilíbrio geral. E os resultados de práticas curto-prazistas parecem ser amplificados na macroeconomia. Ao pensarmos (e pressionarmos por resultados) no curto prazo, deixamos, potencialmente, centenas de bilhões de reais na mesa.