André Esteves com Aluizio Falcão Filho
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André Esteves com Aluizio Falcão Filho


Na última sexta-feira (6), entrevistei a economista Zeina Latif pela manhã e o banqueiro André Esteves à tarde. Nessas duas entrevistas, houve alguns pontos em comum. Mas um deles se destaca: as taxas de juros americanos serão decisivas para ditar os rumos da economia brasileira. Isso já foi visto nos últimos dias, quando percebemos que a elevação do patamar estabelecido pelo Federal Reserve (uma banda entre 5,25 % e 5,50 %) provocou um aumento considerável na cotação do dólar (que pulou de R$ 4,93, em 22 de setembro, para R$ 5,15 em 6 de outubro).

Os analistas do mercado financeiro acreditam que o Fed (Sistema de Reserva Federal) promoverá novas altas no futuro. Há apenas uma possibilidade de queda: caso os juros provoquem recessão com um número expressivo de demissões nas empresas americanas.

Ocorre que se as taxas continuarem a subir nos Estados Unidos , o Banco Central não irá diminuir os juros internos em um ritmo maior que meio ponto percentual ao mês. O BC tem ainda espaço para reduzir a Selic. Mas deverá fazer isso com cautela, por duas razões.

A primeira é que a autoridade monetária não quer estimular uma fuga de capitais do país. Como se sabe, há muitos investidores que reagem a qualquer variável macroeconômica e ficam movendo seu dinheiro de um país para o outro. Ocorre que essa volatilidade pode aumentar se houver um “gap” muito grande entre os juros americanos e os brasileiros.

O segundo ponto é que se a queda dos juros brasileiros for muito brusca, o dólar pode sofrer novas altas – e, em uma economia globalizada, a moeda americana pode interferir no custo de vida nacional, uma vez que várias commodities (que são produtos de origem agropecuária ou de extração mineral) estão atreladas ao dólar (combustíveis inclusive) e boa parte da matéria-prima consumida no Brasil é importada.

Esse fenômeno pôde ser observado entre 2019 e 2020. A diferença é que, nesta época, não foram os juros americanos que subiram – e sim os brasileiros que diminuíram radicalmente, chegando a 2 % ao ano. Os investidores, porém, reagiram imediatamente e começaram a tirar o capital do Brasil pressionando o mercado de câmbio diariamente.

As taxas ficaram estacionadas entre março de 2018 e julho de 2019 em 6,50 % ao ano. No mês de setembro, porém, o BC decretou a queda de juros para 5,0 %. O dólar, que flutuava entre R$ 3,70 e R$ 3,90, subiu para o patamar de R$ 4,00. E, mais tarde, quando os juros chegam a 2,0 % ao ano, o mercado de câmbio passa a negociar as verdinhas entre R$ 5,18 e R$ 5,61. É dessa época uma frase famosa do então ministro Paulo Guedes: “A economia está muito mais saudável com juro de 2% e câmbio de 5 reais”.

Ocorre que o dólar turbinado fez a inflação subir no Brasil antes que a alta de preços virasse uma tendência mundial no período pós-pandemia.

Mesmo que tenha anabolizado a espiral inflacionária, entende-se a decisão conjunta de Paulo Guedes e do presidente do Banco Central , Roberto Campos Neto, de diminuir os juros. Estávamos vivendo o auge da  pandemia e a economia precisava de medidas anticíclicas.


Portanto, preparem-se. Os juros vão descer à base de conta-gotas, mesmo com toda a pressão da sociedade e do empresariado em geral – inclusive aqueles que vivem do varejo e enxergam sua atividade ainda patinar por conta dos juros altos. O problema é sério. Não adianta, neste momento, querer baixar os juros rapidamente e criar outro problema macroeconômico, fomentando o dólar e incrementando a inflação.

Finalizando: um outro ponto em comum entre Zeina e Esteves é a capacidade que a economia brasileira tem de resistir às intempéries. Isso vem se provando nos últimos tempos, com alguns setores que estão sofrendo com os juros estratosféricos. O empresário brasileiro, moldado nas adversidades que vivem a nos assolar, consegue se virar nos momentos de dificuldade e se manter em pé no ringue.

Isso, no entanto, consome uma energia monstruosa. Imagine se pudéssemos utilizar todo esse potencial para, em uma economia estabilizada e com impostos menores, nos modernizar e investir em setores com alta probabilidade de crescimento mundial. Poderíamos estar vivendo em um país muito mais próspero, estável e muito, muito menos desigual.

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