Kit completo de louças Duralex
Foto: Mo Semsem
Kit completo de louças Duralex

A Duralex, fabricante francesa de vidros temperados famosa em todo o mundo, e especialmente querida nas cozinhas brasileiras, vive há anos um dos momentos mais delicados de sua história. Após mais de sete décadas de operação e reconhecimento, a empresa entrou em processo de administração judicial em abril de 2024, equivalente a uma recuperação judicial no Brasil .

A marca, fundada oficialmente em 1945, sempre foi sinônimo de resistência, simplicidade e design clássico. Copos como o Gigogne, de 1946, e o Picardie, de 1954, tornaram-se ícones, reconhecidos pela capacidade de suportar quedas e variações de temperatura. Mas, nos últimos anos, a força simbólica da Duralex tem sido colocada à prova.

Copos Gigogne
Utility Great Britain
Copos Gigogne


O que levou a Duralex à crise

A trajetória de dificuldades da Duralex começou a se agravar em 2017, quando a empresa decidiu investir em um novo forno industrial. O equipamento, de tecnologia avançada, foi pensado para modernizar a produção.

No entanto, apresentou falhas técnicas logo após a instalação. Isso reduziu drasticamente a capacidade produtiva: de cerca de 160 toneladas diárias para apenas 20 toneladas, segundo relatos da época.

O impacto financeiro foi imediato. Com menos produtos para vender, a empresa passou a acumular prejuízos, ao mesmo tempo que mantinha os altos custos operacionais.

Forno para vidro
Abravidro
Forno para vidro


Em 2020, a pandemia de COVID-19  agravou o cenário. A Duralex informou que perdeu cerca de 60% do volume de negócios devido à queda nas exportações, que representam aproximadamente 80% de sua atividade . O isolamento global e o fechamento temporário de lojas e restaurantes interromperam pedidos em massa, criando um rombo ainda maior nas contas.

A crise energética e o golpe final

Se 2017 e 2020 foram anos difíceis, 2022 trouxe um desafio ainda mais complexo : a crise energética provocada pela guerra na Ucrânia . Com a disparada nos preços do gás e da eletricidade, os custos de operação dos fornos, que precisam funcionar continuamente a altíssimas temperaturas, ficaram insustentáveis.

Ataque russo mata 4 na Ucrânia em meio à suspensão de ajuda e inteligência dos EUA
State Emergency Service Of Ukrai/via Reuters
Ataque russo mata 4 na Ucrânia em meio à suspensão de ajuda e inteligência dos EUA


Para evitar prejuízos ainda maiores, a Duralex decidiu suspender a produção por cinco meses, colocando seus fornos em “modo de espera” até abril de 2023.

A paralisação, no entanto, reduziu ainda mais a presença da marca no mercado, justamente em um período em que concorrentes aproveitavam para avançar.

Apoio do governo francês

Reconhecendo a importância da Duralex como símbolo do “savoir-faire” francês, o governo concedeu um empréstimo emergencial de 15 milhões de euros (R$ 94.778.700) . O objetivo foi evitar a falência imediata e manter os 228 empregos diretos.

O presidente da empresa, Antoine Ioannidès, declarou ao jornal Le Monde que a ajuda foi fundamental para garantir salários e permitir que a produção fosse retomada. Ainda assim, os números mostravam que a situação era crítica: o faturamento caiu de 29,4 milhões de euros (R$ 185.766.252) em 2022 para menos de 26 milhões (R$ 164.283.080) em 2023.

Kit completo de louças Duralex
Foto: Mo Semsem
Kit completo de louças Duralex


Entrada em administração judicial

No dia 24 de abril de 2024, o Tribunal de Comércio de Orléans aceitou o pedido de entrada em recuperação judicial. Isso significa que a empresa entrou em um período de observação de seis meses para tentar encontrar um comprador ou uma solução de recuperação. Dois administradores judiciais foram nomeados para acompanhar as operações.

Durante o processo, três propostas principais surgiram para tentar salvar a Duralex:

  1. Projeto SCOP (Sociedade Cooperativa de Produção), liderado pelos próprios funcionários e apoiado por 60% deles, com a promessa de manter todos os empregos;
  2. Oferta da SARL Tourres & Cie, que pretendia manter 183 postos de trabalho, integrando a produção em sua estrutura;
  3. Proposta do grupo Carlesimo Investissements / GCB Investissements, assumindo 125 empregos, mas com cortes significativos.
Tribunal de Comércio de Oleans
Radio France - Antoine Denéchère
Tribunal de Comércio de Oleans


A virada: trabalhadores no comando

Em julho de 2024, o tribunal escolheu a proposta da SCOP, que transformou a Duralex em uma cooperativa. Isso significou que a maioria do capital da empresa passou a ser controlada pelos próprios funcionários.

A decisão foi celebrada não apenas internamente, mas também por autoridades locais e consumidores fiéis. Para muitos, a mudança representou uma forma de preservar não apenas uma fábrica, mas um pedaço da cultura industrial francesa.

O modelo cooperativo, porém, também traz desafios. Os funcionários agora precisam equilibrar a produção com a gestão financeira e estratégica da empresa. É uma experiência que já deu certo em outras indústrias francesas, mas que exige disciplina e visão de longo prazo.

Louças coloridas
FreePik
Louças coloridas


Por que a Duralex é tão popular no Brasil

No Brasil, a Duralex conquistou fama e presença maciça nos lares a partir da segunda metade do século 20. Os copos e pratos da marca eram comuns em escolas, restaurantes populares e casas de família.

Um dos motivos da popularidade foi o preço acessível combinado à durabilidade. Quem cresceu nas décadas de 1980 e 1990 provavelmente lembra de ter visto (ou usado) o copo âmbar ou transparente da Duralex, famoso por “sobreviver” a quedas no chão da cozinha.

Essa conexão emocional ajuda a explicar por que a notícia da crise da empresa repercute tanto entre brasileiros. Nas redes sociais, muitos usuários compartilharam memórias afetivas relacionadas à marca, reforçando seu valor simbólico.


Duralex e Nadir Figueiredo

A Duralex opera com duas realidades distintas e independentes: a Duralex Brasil, sob a empresa Nadir Figueiredo, e a Duralex Internacional, a marca original francesa.

Para obter mais informações sobre a questão da recuperação judicial, o Portal iG tentou contato com a Nadir Figueiredo, que informou apenas que os produtos continuam em fabricação no Brasil, com novas tonalidades e até mesmo com outros novos utensílios.

A empresa contou também que ainda usam uma tecnologia de ponta para que a durabilidade seja igual a que a Duralex implementou. Confira abaixo a nota na íntegra:

"A Nadir informa que os produtos da marca Duralex seguem sendo fabricados no Brasil, em novas cores e com outros utensílios na linha para facilitar ainda mais o dia a dia do brasileiro. A tecnologia empregada na fabricação permite que os itens tenham a mesma durabilidade que a marca sempre entregou."

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