O Concurso Nacional Unificado (CNU) é um modelo de seleção inovador, criado pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e trouxe uma forma diferente em como os brasileiros se preparam para ingressar no serviço público federal.
Ao centralizar vagas de diferentes órgãos e ministérios em um único processo seletivo, o modelo adotado pelo governo federal vem transformando o perfil do concurseiro tradicional em um candidato "multicargo" — que, em vez de focar em um cargo específico, agora precisam se preparar para diversas oportunidades simultaneamente.
Criado com o objetivo de democratizar o acesso e ampliar a visibilidade das seleções, o CNU permite que os candidatos concorram a múltiplos cargos dentro de um mesmo bloco temático . Essa iniciativa busca desenvolver políticas de gestão de pessoas e competências transversais visando diversificar o perfil dos profissionais selecionados, otimizar custos e processos operacionais, consolidando um modelo de seleção periódico e unificado.
“O CNU é um esquema de seleção bem mais democrático, porque é mais acessível - tanto logisticamente quanto economicamente. Na minha avaliação, o modelo prioriza a cobrança de conhecimentos gerais, deixando a parte mais específica para ser abordada durante o curso de formação, em vez de concentrar toda a exigência nas provas objetivas e discursivas. No fim das contas, acredito que seja um modelo de sucesso que veio para ficar” , afirma o concurseiro Ricardo Cunha, aprovado em primeiro lugar para o cargo de analista de comércio exterior no CNU de 2024 .
Em entrevista ao Portal iG, ele também destacou que, ao montar uma estratégia, é preciso levar em conta não apenas o número de vagas e a remuneração, mas também os pesos diferentes das provas específicas para cada cargo e o conhecimento prévio sobre o conteúdo.
A abordagem do concurso unificado vem se mostrando promissora, principalmente para aqueles que já vinham se preparando para provas com disciplinas tradicionais. “A base continua sendo formada pelas disciplinas tradicionais: direitos constitucional, administrativo, língua portuguesa, matemática, estatística, etc. Só que agora temos que lidar com matérias novas, como atualidades e temas transversais. Para quem já estudava, isso não é um grande problema” , comenta Cunha.
A nova lógica também exige que os candidatos desenvolvam um olhar mais estratégico para o setor público como um todo. “O CNU fez o concurseiro repensar sua carreira. Ele avalia o local de lotação, custo de vida, possibilidade de transferência e crescimento profissional antes de ranquear seus cargos” , diz.
O novo formato, no entanto, também levanta alguns desafios . Para o professor de direito Thiago Jordace, embora o modelo seja benéfico para a administração pública, pois aumenta a transparência e a concorrência, ele traz perdas no que diz respeito à avaliação de habilidades altamente especializadas.
“A avaliação agora é mais generalista. Áreas que exigem conhecimentos muito específicos, talvez não consigam medir com profundidade as competências dos candidatos, porque a prova é pensada em blocos amplos” , avalia.
Essa horizontalização do conteúdo — com menos profundidade, mas maior amplitude — é, segundo Jordace, uma das principais mudanças no perfil de preparação. Mas, apesar das críticas pontuais, o modelo tem se consolidado como um marco no cenário dos concursos públicos.
Para o professor, o concurso tem papel importante na democratização da informação: “A mudança para o modelo do CNU trouxe maior visibilidade, publicidade e democratização no acesso aos concursos públicos. Antigamente, os editais eram divulgados apenas nos portais dos órgãos, e muitas pessoas sequer ficavam sabendo sobre essas oportunidades. Hoje, a realidade é diferente: qualquer veículo de comunicação traz informações sobre o CNU, alcançando inclusive quem nem tinha interesse prévio em concursos” .