
A indústria ferroviária brasileira repudiou a parceria entre os governos do Brasil e da China para a produção de trens em território chinês. Em nota divulgada nesta segunda-feira (12), a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) e o Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre) criticaram duramente a iniciativa e cobraram prioridade para a indústria nacional.
Segundo as entidades, o setor ferroviário instalado no país tem plenas condições de atender às demandas internas, com histórico de qualidade, capacidade produtiva e geração de empregos. "Não há vácuo na indústria nacional a ser ocupado", diz um trecho da nota, que também menciona os altos índices de ociosidade enfrentados pelo setor devido à falta de encomendas.
O posicionamento foi motivado pelos anúncios feitos durante o Fórum Empresarial Brasil-China, realizado em Pequim. Durante o evento, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, confirmou R$ 27 bilhões em investimentos de empresas chinesas em diversos setores da economia brasileira, incluindo indústria, energia, mineração, saúde e tecnologia.
Ainda que o governo brasileiro não tenha detalhado o modelo de parceria para a área ferroviária, a menção à produção de trens na China gerou reação imediata do setor. Para a Abifer e o Simefre, o Brasil precisa investir no que já tem, fortalecendo a indústria local como parte de uma estratégia de desenvolvimento sustentável e geração de renda.
Os investimentos anunciados incluem aportes de grandes empresas chinesas como a montadora GWM, que vai investir R$ 6 bilhões para ampliar sua operação no Brasil e transformá-lo em uma base de exportação para América do Sul e México.
A Meituan, do setor de delivery, vai investir R$ 5 bilhões para lançar o aplicativo Keeta. Há ainda iniciativas nas áreas de energia renovável, semicondutores, insumos farmacêuticos e mobilidade elétrica.
Confira a nota
"A ABIFER - Associação Brasileira da Indústria Ferroviária e o SIMEFRE - Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários vêm a público manifestar profunda indignação em relação à recente matéria que anuncia uma parceria entre os governos brasileiro e chinês para a produção de trens na China.
Embora a cooperação internacional seja essencial em muitos setores, é imprescindível que o Brasil priorize e valorize sua própria indústria ferroviária, que possui um sólido histórico de qualidade, inovação e capacidade produtiva.
A indústria ferroviária instalada no país é um pilar fundamental para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, com um potencial imenso para gerar empregos, fomentar a tecnologia local e promover a sustentabilidade.
Não há vácuo na indústria nacional a ser ocupado, ao contrário, quem arcou com estes elevadíssimos índices de ociosidade pela inconstância de pedidos, fomos nós, indústria ferroviária. O Estado brasileiro precisa zelar por nossas capacidades e garantir a geração de emprego e renda aos brasileiros.
Valorizar a indústria nacional é investir no presente e no futuro do Brasil. É hora de olhar para o que temos de melhor e construir um caminho sustentável para as nossas ferrovias".