Com a alta do dólar, produtos de importação podem ficar mais caros no Brasil
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Com a alta do dólar, produtos de importação podem ficar mais caros no Brasil


Após semanas de uma guerra tarifária comercial, os Estados Unidos e a China anunciaram um acordo em conjunto, nesta segunda-feira (12), para reduzir as taxas entre os dois países durante 90 dias. 

As tarifas dos EUA sobre as importações chinesas devem cair de 145% para 30%, enquanto as da China sobre os produtos americanos serão reduzidas de 125% para 10%. Após o anúncio,  o dólar subiu frente às principais moedas do mundo e os mercados de ações tiveram melhoras, com a diminuição da possibilidade de recessão global por conta do tarifaço.

O Portal iG perguntou para duas economistas sobre os impactos desse acordo nos mercados de importação e exportação brasileiros, além do impacto a nível mundial.

Reações no mercado brasileiro

Mulher em pé com a mão no bolso
Arquivo pessoal

Débora Farias, advogada sócia da área Consumerista no escritório Duarte Tonetti Advogados e presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas dos Advogados na OAB Subseção de Vila Prudente (SP)

O Brasil depende significativamente da China para insumos industriais, componentes eletrônicos e bens de consumo, explica a advogada Débora Farias, sócia da área Consumerista no escritório Duarte Tonetti Advogados e especialista em varejo.

"Se houver novos atritos ou o acordo não se sustentar, a China pode redirecionar sua produção ou exportações para outros mercados, o que impactaria a oferta para o Brasil", afirma a especialista. Para ela, também é possível que haja aumento de preços ou dificuldades logísticas em produtos como celulares, notebooks, máquinas industriais, fertilizantes e eletrodomésticos.

Para a advogada Edna Dias, com especializações em Direito Tributário, Finanças e Controladoria com mais de 22 anos de experiência na área, os produtos importados da China — especialmente bens de consumo e eletrônicos — podem sofrer aumento de preços, caso o dólar se valorize. 

"As exportações brasileiras para os EUA podem enfrentar maior concorrência, caso o país redirecione parte de sua demanda para a China. Além disso, commodities e insumos industriais também podem ser impactados, dependendo dos ajustes na balança comercial entre os dois países", pontua.

Impactos globais

As especialistas avaliam que a trégua traz alívio imediato no mundo, refletido na alta das bolsas europeias e asiáticas e no aumento do valor do barril de petróleo (em cerca de 3%). "Em um mercado sensível a incertezas geopolíticas, uma notícia como essa tem o poder de melhorar o humor dos investidores — o que beneficia ativos brasileiros, como ações e câmbio", analisa Farias.

EUA e China representam mais de um terço do PIB global, de acordo com o FMI, o que quer dizer que qualquer reconfiguração nas suas relações comerciais afeta cadeias produtivas em escala mundial. 

O acordo, ainda que parcial, pode amenizar o ambiente de insegurança causado pelas tarifas recíprocas. "Uma guerra comercial prolongada entre as duas potências poderia provocar desaceleração global, afetando principalmente países exportadores, como o Brasil", observa Dias.

Especialistas pedem cautela

Apesar da notícia ser positiva, é preciso estar atento para uma resolução definitiva do acordo entre os dois países, uma vez que as negociações iniciais têm validade de 90 dias e o cenário é ainda incerto. 

mulher sentada em cadeira
Arquivo pessoal

Edna Dias, advogada tributarista com mais de 22 anos de experiência na área, com foco em consultoria preventiva, treinamentos e palestras. Formada também em Ciências Contábeis, possui ainda especializações em Direito Tributário, Finanças e Controladoria

O anúncio do acordo entre as duas potências pode gerar volatilidade nos mercados no curto prazo, principalmente por ainda existirem incertezas quanto à aplicação efetiva das medidas anunciadas. 

Dias comenta que essa instabilidade pode influenciar o dólar, que tende a subir ou cair conforme muda a percepção de risco no cenário global. O comércio internacional também pode ser afetado temporariamente, já que países que vendem para os EUA e a China (como o Brasil) podem perder espaço ou competitividade em alguns setores, até que o novo equilíbrio comercial se estabeleça.


De acordo com Farias, "a cooperação entre EUA e China é vista como uma âncora de estabilidade sistêmica". Quando cooperam, reduzem o risco de rupturas comerciais e evitam ondas de protecionismo que poderiam prejudicar o comércio global. 

Apesar da incerteza, a trégua pode influenciar diretamente os custos de importação, na disponibilidade de produtos e no comportamento dos consumidores, graças ao cenário de estabilidade.


Caso o acordo entre EUA e China seja sólido e duradouro, ele pode ajudar a levar mais estabilidade e previsibilidade ao comércio global, diminuindo o risco de uma desaceleração econômica mais forte. 

Por outro lado, dependendo dos termos do acordo, ele pode causar desequilíbrios, especialmente se acabar prejudicando outros países que também são parceiros comerciais, explicam as especialistas. O mercado tende a reagir melhor quando há previsibilidade, então, quanto mais claros forem os termos e seus efeitos, menor será o risco de crise e maior será a confiança dos investidores.

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