Gabriel Galípolo , atual diretor de política monetária e futuro presidente do Banco Central do Brasil ( BC ) negou que um ataque coordenado no mercado brasileiro possa ter causado a alta do dólar. Para ele, a "ideia de ataque especulativo" não "representa bem" a realidade.
O diretor nesta quinta-feira (19) participou de uma coletiva de imprensa junto do atual presidente do BC, Roberto Campo Neto, sobre o Relatório Trimestral de Inflação.
"Não é correto tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só coordenada. Basta a gente entender como o mercado funciona, geralmente com posições contrárias", disse Galípolo.
O futuro presidente ressaltou também que, na estrutura do comércio, os interesses de alguém sempre vão prevalecer: "Se existe um mercado, existe alguém comprando e alguém vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em uma direção, você tem vencedores e perdedores. A ideia de ataque especulativo e coordenado não representa bem [o cenário]", pontuou.
Nesta quinta, o BC realizou dois leilões de dólar à vista , um por volta das 9h30, no qual vendeu US$ 3 bilhões, e outro por volta das 10h30, com a venda de mais US$ 5 bilhões. No primeiro momento, a moeda não recuou e chegou a atingir o recorde de R$ 6,30. Após a segunda venda, a moeda opera abaixo dos R$ 6,20.
Posição aceita pelo governo
Galípolo também afirmou que seu pensamento é passado ao governo quando é chamado, e que tem havido conversas sobre o movimento do mercado atual. Segundo ele, a "interpretação é bem compreendida e aceita nas minhas especulações, seja com o ministro Fernando Haddad, a ministra Simone Tebet, o vice-presidente Geraldo Alckmin ou seja com o presidente da República. O próprio presidente que concorda quando temos esse diálogo".
O atual diretor do BC também afirmou que não existe "bala de prata", ou seja, uma solução única certeira para as dificuldades nas contas públicas, que já estão sendo tratadas há um tempo.
"Todos sabem, mercado, academia, sabem que é difícil apresentar qualquer tipo de plano que seja bala de prata, que vai endereçar todos os problemas no curto prazo", pontuou.
De acordo com Galípolo, Haddad e Lula reconhecem que existe um problema fiscal. "Não há bala de prata, o programa [de corte de gastos] é uma forma de reconhecer o diagnóstico e dar um passo na direção correta", disse.
Alta a partir da incerteza nos cortes de gastos
O câmbio brasileiro tem renovado recordes, mesmo com a interveção extraordinária do BC no mercado. A indicação de mais duas altas é chamada guidance . Galípolo disse que a barra para eventualmente mudar essa indicação é alta.
"Temos clareza de para onde estamos indo. Já foi muito corajoso em função da materialização dos riscos de fazer sinalização de mais duas reuniões. O que vai acontecer dali para frente vamos ter de esperar. Mas está bem claro de que em qual direção a gente deu esse passo. De caminhar para uma taxa de juros em patamar restritivo com alguma segurança. Sobre o que precisa acontecer, talvez soe um pouco engraçado. Mas sou bem apegado a guidance : a barra é alta para fazer qualquer mudança no guidance ", afirmou o futuro presidente do BC, negando reunião extraordinária do Copom.
** Formado em jornalismo pela UFF, em quatro anos de experiência já escreveu sobre aplicativos, política, setor ferroviário, economia, educação, animais, esportes e saúde. Repórter de Último Segundo no iG.