Dólar em alta: Entenda como funciona o leilão do Banco Central e para que ele serve

Ação acontece após o dólar chegar em R$ 6,20 e a ata do Copom ser divulgada

BC realizou um segundo leilão para tentar reduzir a pressão sobre o real, vendendo US$ 2,01 bilhões
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
BC realizou um segundo leilão para tentar reduzir a pressão sobre o real, vendendo US$ 2,01 bilhões

Para conter a alta do dólar , o Banco Central (BC) intensificou os leilões de moeda norte-americana, realizando intervenções diretas no mercado por quatro dias úteis consecutivos.

Nesta terça-feira (17),  O BC realizou um  segundo leilão para tentar reduzir a pressão sobre o real, vendendo US$ 2,01 bilhões após o dólar disparar e chegar a R$ 6,20 . A divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) , que reforçou a preocupação com a inflação, é um dos motivos para a alta da cotação da moeda.

Os leilões são uma das ferramentas do Banco Central para estabilizar o câmbio. Nessas operações, a instituição oferece dólares diretamente a participantes do mercado, como bancos e corretoras credenciados, conhecidos como dealers .

O objetivo é aumentar a oferta de moeda estrangeira, reduzindo a pressão sobre o câmbio causada por desequilíbrios entre oferta e demanda ou movimentos especulativos.  

“O BC não está fazendo isso para impedir que o dólar suba, ele quer atenuar impactos mais elevados. Não é um milagre, no qual ele intervém e as coisas voltam ao normal como se nada tivesse acontecido. Não é para reduzir o câmbio, mas para evitar que ele vá para patamares mais elevados”, explica José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos.

O processo do leilão  

Os leilões do BC aumentam a quantidade de dólares disponíveis para os investidores. Assim, quanto mais a moeda for comprada a um valor menor, a tendência é que o câmbio diminua.

Como frizou Alfaix, o leilão não irá baixar a cotação do dólar à força. Anteriormente, Gabriel Galípolo, próximo presidente do BC, afirmou que o órgão não pode  "segurar o dólar no peito". 

Para partiricapar do leilão, as instituições financeiras precisam ser credenciadas pelo Tesouro Nacional com o objetivo de promover o desenvolvimento dos mercados primário e secundário de títulos públicos. Essas empresas são chamados de dealers (revendedores em inglês). 

Os dealers credenciados participam do leilão enviando suas ofertas por meio de um sistema eletrônico. O revendedor pode fazer uma cotação no limite pré-estipulado pelo BC. Cada oferta é analisada pela instituição e algumas são válidas e outras descartadas. 

Quando uma oferta é aprovada, as operações injetam dólares no mercado, aumentando a liquidez e reduzindo momentaneamente o valor da moeda americana. 

O BC dispõe de diferentes modalidades de leilões para conter a volatilidade cambial e proteger a economia de oscilações bruscas na cotação do dólar. Abaixo, explicamos como funcionam as principais ferramentas utilizadas pela autoridade monetária.  

Leilão de linha

Nesta operação, o BC vende dólares das reservas internacionais ao mercado, mas com o compromisso de recomprá-los em uma data pré-determinada. Por isso, é comparado a uma linha de crédito.  

A instituição financeira recebe esse “crédito” disponibilizado pelo BC, que devolve ele futuramente, acrescido de juros

Leilão à vista 

Diferentemente do leilão de linha, nesta modalidade o BC vende dólares sem intenção de recompra, o que é conhecido como “queimar” reservas. É a modalidade que a instituição brasileira decidiu acionar nesta terça-feira. 

Swap cambial

O swap cambial é uma operação de troca: o BC oferece a possibilidade de adquirir dólares a um preço fixado para o futuro, protegendo empresas da volatilidade.  

O mecanismo é vantajoso, mas não isento de riscos. Se o real se valorizar e o dólar cair para R$ 5,90, por exemplo, o comprador ainda terá que pagar o preço previamente acertado, como R$ 6,20. Por outro lado, se o dólar subir para R$ 7, o BC cobre a diferença.  

Swap cambial reverso  

Semelhante ao swap tradicional, o objetivo aqui é travar o preço do real, evitando uma valorização excessiva da moeda brasileira.  

Esses instrumentos, embora eficazes para estabilizar o mercado, dependem do contexto econômico e fiscal para terem impacto duradouro.

Contexto econômico  

Embora os leilões do BC ajudem a controlar a volatilidade do mercado, especialistas destacam que o impacto depende do cenário econômico. Ou seja, a instabilidade do aumento do dólar está mais ligada à confiança na economia interna do que às intervenções pontuais do Banco Central.  

O risco fiscal elevado, agravado por dúvidas sobre a aprovação de medidas como o pacote de corte de gastos e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, tem contribuído para a escalada do dólar. Em 2024, a moeda acumula alta de 27,45% em relação ao real.  

Enquanto o Banco Central segue intervindo no mercado, instituições como o Wells Fargo já projetam a cotação do dólar acima de R$ 7 no primeiro trimestre de 2026, caso o cenário global de fortalecimento da moeda americana e as incertezas fiscais no Brasil persistam.

** Formado em Jornalismo pela Universidade de Sorocaba e Técnico de Locução de Rádio pelo Senac. Gosta de contar boas histórias e de conhecer novas pessoas. Amante de esportes, também gosta de pets, animes e de uma boa conversa.