O dólar caiu mais de 2% e fechou em R$ 6,12 nesta quinta-feira (19), após bater recorde de R$ 6,30 pela manhã. A queda acontece após dois leilões feitos pelo Banco Central do Brasil (BC) para aumentar a oferta da moeda no Brasil e conter a desvalorização do real.
A moeda abriu o dia com queda de 0,33%, mas logo voltou a subir. O BC fez um primeiro leilão na sessão para conter a disparada. A medida, porém, não foi suficiente, e o dólar voltou a subir e alcançou o patamar de R$ 6,30 por volta das 10h10 da manhã. Investidores estão atentos ao cenário fiscal brasileiro e repercutindo o Relatório Trimestral de Inflação divulgado na mesma manhã.
A moeda americana já havia disparado em 2,82% nesta quarta e atingido a maior cotação da história até então, aos R$ 6,26.
Com um novo leilão feito entre às 10h35 e 10h40, o BC aceitou 10 propostas e vendeu um total de US$ 5 bilhões, no que foi a 6ª operação do tipo na última semana. Após o segundo leilão, o dólar à vista recuava 0,5%, a R$ 6,2365.
Insegurança dos investidores
Apesar da medida do BC, o mercado segue focado no cenário fiscal do país. Também nesta quarta, o relator de um dos projetos do pacote de corte de gastos do governo federal na Câmara dos Deputados apresentou seus pareceres para que os textos sejam votados na Casa.
Algumas medidas foram amenizadas no texto, que podem resultar em uma contenção das despesas públicas menor que o esperado. O desenrolar das propostas do pacote de corte de gastos é acompanhado de perto por investidores.
O cenário indica um temor de que as medidas anunciadas não sejam suficientes para equilibrar as contas públicas e conter o avanço das despesas do governo. Há expectativas de que mais medidas do pacote sejam votadas nesta quinta.
Além do cenário fiscal, o mercado repercute, também, o relatório de inflação do BC. A instituição admitiu oficialmente que a meta de inflação, em 2024, será descumprida novamente, pelo terceiro ano seguido. A meta para 2024 era de 3,0% e poderia oscilar entre 1,50% e 4,50% para ser considerada formalmente cumprida.
Queda e alta do dólar
Às 09h02, o dólar caiu a 0,33%, cotado a R$ 6,2464. Porém, às 09h45, o dólar subia 0,37%, cotado a R$ 6,2903. Chegou a cair às 10h, a R$ 6,2615, porém teve novo recorde às 10h10 ao atingir R$ 6,3000.
Após o segundo leilão, às 10h53, o dólar recuou 0,5%, fechando a R$ 6,2365. Na véspera, a moeda norte-americana subiu 2,82%, cotada a R$ 6,2672.
Com o resultado, a moeda acumulou ganhos de 3,85% na semana; alta de 4,44% no mês; e avanço de 29,15% no ano.
Pacote de corte de gastos
O pacote de corte de gastos proposto pelo governo federal continua andando no Congresso. A ideia é economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030.
O relator de um dos projetos do pacote de corte de gastos enviado pelo governo, deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), apresentou nesta quarta-feira (18) seu parecer e manteve o limite proposto pelo governo na alta do salário mínimo. A proposta deve ser votada na manhã de quinta.
O relator também amenizou regras inicialmente previstas pelo governo na concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e excluiu mudanças no reajuste do Fundo Constitucional do Distrito Federal. As mudanças desidrataram o texto enviado pelo governo e vão afetar o efeito do corte.
Medidas já aprovadas
Na terça (17), a Câmara dos Deputados aprovou o texto que proíbe a ampliação de benefícios tributários quando as contas públicas tiverem um desempenho negativo. Além disso, quando o governo registrar déficit primário, quando as despesas forem maiores que o dinheiro arrecadado, a proposta aprovada ativa um "gatilho" que limita o aumento de gastos do governo com pessoal.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.
Mercado não espera melhoria
Os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e observam que declarações do presidente Lula consolidam a visão de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
** Formado em jornalismo pela UFF, em quatro anos de experiência já escreveu sobre aplicativos, política, setor ferroviário, economia, educação, animais, esportes e saúde. Repórter de Último Segundo no iG.