Rombo contábil atingiu cerca de R$ 25,2 bilhões.
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Rombo contábil atingiu cerca de R$ 25,2 bilhões.

Funcionários de bancos foram cooptados para modificar documentos quem envolvem a fraude contábil da Americanas , que atingiu cerca de R$ 25 bilhões. Com a alteração, poderia haver continuidade de ao menos um tipo de falsificação. A informação, segundo o Metrópoles, está no relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso.

A suposta participação dos funcionários dos bancos nas fraudes teria acontecido nas operações de “risco sacado”. Elas ocorrem quando um banco assume a dívida de uma empresa com fornecedores.

Neste cenário, as instituições financeiras são obrigadas a comunicar ao Banco Central (BC) sobre essas transações e identificá-las nos documentos conhecidos como cartas de circularização. 

No entanto, no caso da Americanas, as investigações apontam que os dados sobre essas operações não eram claros no balanço da companhia. Ainda, ex-executivos da varejista teriam, supostamente, convencido os funcionários dos bancos a escondê-los das cartas de circularização.

Miguel Gutierrez é ex-CEO da Lojas Americanas Reprodução/Lojas Americanas
Miguel Gutierrez é ex-CEO da Lojas Americanas Reprodução/Lojas Americanas
Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretora da Americanas, foi incluída na lista da Interpol Câmara dos Deputados/Reprodução
Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretora da Americanas, foi incluída na lista da Interpol Câmara dos Deputados/Reprodução


Ousadia

No relatório, a PF diz que a prática é uma ousadia dos responsáveis pelas fraudes. 

“A audácia do grupo criminoso era tão grande que eles chegavam a cooptar funcionários dos bancos para que alterassem as cartas de circularização, de modo a encobrir as operações de ‘risco sacado’, garantindo assim a continuidade das fraudes contábeis e a não identificação pelas auditorias”, diz a investigação.

O relatório da PF cita ainda uma troca de mensagens entre ex-diretores da Americanas. Nos textos, é discutida a suposta retirada dos valores de “risco sacado” das cartas de circularização do Itaú e do Santander, que eram enviadas para a auditoria no ano de 2016.

“Como tais operações não constavam oficialmente nos balanços, que eram fraudados, com valores irreais, as cartas de circularização não podiam mencionar tais operações, sob pena de serem identificadas pelas auditorias”, diz o relatório.

Segundo as mensagens, essas questões eram discutidas entre os ex-diretores em uma “sala blindada”. A PF diz que “nada mais era do que uma sala dentro do Grupo Americanas em que os envolvidos discutiam temas sensíveis, muitas vezes de cunho criminoso relacionado às fraudes contábeis”.

As investigações da Polícia Federal tem fundamentos na colaboração premiada de dois ex-executivos da Americanas: Marcelo Nunes, ex-diretor financeiro, e Flavia Mota, ex-superintendente de Controladoria da empresa.


O que dizem os bancos citados na investigação?

O Itaú e o Santander negaram participação na fraude bilionária da varejista. Leia a nota dos bancos:

Itaú

O Itaú Unibanco nega qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu. O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado. Conforme já esclarecido, os informes enviados às auditorias sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado. Os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas. O banco nunca concordou com esse pedido e inclusive interrompeu, por mais de 6 meses, as operações de risco sacado. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações.”

Santander

“O Santander repudia veementemente qualquer insinuação contrária à lisura de sua relação com a Americanas, eventualmente feita por pessoas responsáveis pelas irregularidades ocorridas em sua administração e das quais o banco também é vítima. A instituição sempre informou integralmente os saldos das operações da Americanas no Sistema Central de Risco do Banco Central, que constitui uma entre as possíveis fontes de auditagem, além das cartas de circularização. Fato relevante publicado pela própria empresa em 13 de junho de 2023 relata que ‘as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas’. Ou seja, o documento comprova que a responsabilidade pelas ‘inconsistências contábeis’ é exclusiva da empresa, por intermédio de sua antiga diretoria.”

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