O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar, nesta quarta-feira (20), uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. Espera-se que a Selic passe de 11,25% para 10,75% ao ano, conforme previsto pelo mercado. Ao mesmo tempo, é esperado que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mantenha os juros dos EUA entre 5,25% e 5,5% ao ano.
O foco dos analistas estará nos comunicados. Há incertezas sobre se o Copom manterá a projeção de novos cortes de mesma magnitude na Selic. Nas últimas reuniões, o Copom indicou cortes adicionais de 0,5 ponto percentual "nas próximas reuniões". A incerteza reside na continuidade desse indicativo, o que é a principal preocupação da Fazenda no momento.
Desde agosto do ano passado, foram cinco cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual. Em todas as ocasiões, o comunicado sugeriu que o Copom repetiria a dose "nas próximas reuniões", mantendo o ritmo de redução pelo menos nos dois encontros seguintes. Se essa tendência persistir, o Banco Central indica que deve manter o ritmo de cortes até junho.
Para Meire Siqueira, planejadora financeira e sócia da Matriz Capital, a decisão do Copom não deve trazer nenhuma surpresa, pois a queda de meio ponto percentual já é esperada. "Porém, acredito que a inflação acima do esperado, como divulgado na semana passada, pode influenciar um pouco no tom dos próximos comunicados do Copom ao longo deste ano", diz.
Segundo ela, o mercado de trabalho está aquecido, a taxa de desemprego vem diminuindo e há um aumento da renda do brasileiro. "Essa é uma dinâmica que coloca em observação as perspectivas do BC em conter a inflação ao longo do ano. Os bancos centrais em todo o mundo devem seguir a política monetária priorizando o combate à inflação até que tenhamos uma estabilidade dos preços para que definitivamente a gente alcance um patamar de queda mais expressiva para os juros", comenta.
Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, também acredita que os dados recentes de inflação merecem uma avaliação mais aprofundada, em particular a inflação de serviços. "O que pode atrapalhar são os dados da inflação de serviços, que mostraram uma deterioração no início do ano e que levantam questões sobre as perspectivas futuras. Já a inflação de alimentos no domicílio pode ser um fator positivo apesar de ter passado por uma alta recente, ocasionada por condições climáticas adversas impulsionadas pelo El Niño. Tais temores reduziram à medida que a queda na safra da soja foi observada, mas não muito relevante, o que leva a crer que os preços se acomodarão ao menos nesse primeiro semestre", afirma.
Juros nos EUA
Para a decisão nos EUA, Carlos Hotz, planejador financeiro e fundador da A7 Capital, acredita que o grande destaque deixa de ser a decisão em si e ficará mais voltado para o comunicado a ser divulgado. "Os agentes lá fora estão muito divididos em relação à movimentação do FED. O início do corte foi ajustado para junho e ainda assim o mercado está bem dividido se realmente acontecerá. O gráfico de pontos sobre o controle da inflação vai ser muito importante de ser observado de perto para dar o peso sobre o início de cortes em junho ou não", explica.
Segundo Hotz, o FED tem adotado um discurso bem conservador sobre estimativas porque não quer se comprometer em dar sinalização de queda e depois voltar atrás. "Eles têm sido muito diligentes no acompanhamento da inflação e esse discurso cauteloso fez o mercado vestir um tom mais pessimista de que corte de juros pode ficar mais pro fim do ano. Acredito que essa reunião vai nivelar um pouco mais as expectativas com a realidade", comenta.
Ele ressalta que o dado de inflação mais acompanhado por eles é o PCE. "Minha expectativa é que até junho a gente tenha esse dado convergindo para abaixo de 2,5% e isso pode dar tranquilidade para o FED sinalizar uma primeira sinalização de queda. Muito provavelmente o FED vai dar a primeira dose do remédio e não deve fazer cortes sequentes, como acontece aqui no Brasil. Mas pode iniciar o processo em junho, fazer outra pausa seguinte, e depois mais um corte para observar como a economia se comporta em relação à inflação", diz.
Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, acredita que para o Ibovespa ganhar força e ter desempenho melhor, o FED precisa diminuir os juros para aumentar a questão do spread entre Brasil e EUA. "Isso é ideal acontecer para termos uma atração de capital internacional para o Brasil e o mundo voltar com um consumo maior para o Brasil poder crescer e ter um volume maior na bolsa de valores", diz.
Segundo Richetti, os setores de varejo e construção tendem a ser beneficiados nesse cenário. "São setores que acabam desalavancando um pouco a dívida, assim como as construtoras. Porque como a sociedade passa a ter mais acesso a crédito, geralmente as pessoas acabam financiando imóveis, então a indústria de construção civil tende também a crescer em virtude de aumento de crédito para as imobiliárias e desalavancagem para as empresas varejistas e de comércio em geral. Geralmente elas emitem muitas dívidas e, quando caem os juros, as dívidas delas acabam diminuindo", explica.
Investimentos
Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, mesmo com a taxa de juros caindo, a renda fixa segue como um investimento importante para se ter na carteira. "Para mim, o ideal é sempre preferir ativos atrelados ao IPCA. Os ativos prefixados, na minha visão, só valem quando a Selic está muito lá em cima e a gente não tem expectativa de novas altas. Mesmo assim é um risco. O pós-fixado pode ser uma boa alternativa, mas o investimento pode sofrer com a inflação, caso venha a subir. E com a Selic caindo muito, a gente tem bolsa subindo e fundos imobiliários voltando com tudo também. E aí o investidor precisa começar a diversificar. Já está na hora de começar a olhar bolsa há muito tempo e fundos imobiliários também", diz.
Ana Paula Carvalho acredita que, apesar da queda de juros, a taxa ainda ficará acima dos 10% e, considerando novos cortes durante o ano, a taxa Selic média para os próximos 12 meses ficará acima de 9%. "Diante disso, para um prazo mais curto de até 1 ano, ainda vale a pena os papéis pós-fixados, em especial a LCA, LCI e fundos de infraestrutura atrelados ao CDI e que são aplicações isentas de imposto de renda para a pessoa física", diz.
Renan Suehasu, planejador financeiro e sócio da A7 Capital, a queda de juros tanto no Brasil como nos EUA tende a favorecer ativos de risco. "Em um médio prazo, os cortes de juros devem criar um fluxo para bolsa. Porém, no caso do Brasil, a Ibov não apresentou uma grande valorização, muito por conta do risco fiscal, mas abrindo espaço para maiores altas. No caso dos EUA, apesar dos juros altos, a bolsa continuou se valorizando, deixando uma margem de crescimento menor", comenta.
Para quem acredita que o BC brasileiro irá contratar mais cortes do que o esperado pelo mercado, Renan acredita que o investidor pode buscar ativos de renda fixa atrelados à inflação, como NTN-B, Tesouro IPCA e crédito privado. "Como o mercado é balizado por expectativas, sempre que houver contratação de um prêmio maior do que o realizado ao longo do tempo, o investidor obterá uma performance melhor do que a taxa contratada, para resgate antes do vencimento. Para tomar uma decisão de alocação, outros critérios devem ser avaliados como prazos, objetivos, perfil e etc. Por isso, o ideal, é que o investidor procure sempre a ajuda de um profissional", aconselha.
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