No primeiro Relatório Focus de 2023, divulgado pelo Banco Central (BC) em 2 de janeiro, o mercado financeiro esperava crescimento de 0,80% no PIB no ano. A previsão conservadora foi amplamente superada. Só no primeiro trimestre sob a gestão Lula, a economia brasileira saltou 1,9, sendo 0,9% no segundo trimestre e 0,1% no terceiro. Com isso, o PIB acumula um crescimento de 3,1% nos últimos quatro trimestres.
O Relatório Focus é um boletim semanal divulgado pelo Banco Central do Brasil que reúne projeções econômicas feitas por diversas instituições financeiras para indicadores macroeconômicos do país. O BC coleta essas previsões de diversos analistas de mercado, bancos, consultorias e instituições financeiras renomadas e consolida todas as projeções em um único relatório, que é divulgado regularmente, geralmente às segundas-feiras.
O que aconteceu?
No primeiro trimestre, principalmente, o desemprenho do setor agrícola ajudou a puxar o índice, assim como o setor de serviços, sendo responsáveis, respectivamente, por 1,4 p.p. e 1,8 p.p. da taxa de crescimento interanual. O consumo das famílias contribuiu positivamente com 2,2 p.p. no período, puxado também pelo aumento no Bolsa Família e na expectativa de melhoria da economia.
Já no segundo trimestre, o bom desempenho das exportações, aliado ao aquecido mercado interno, ajudou a alavancar a economia. Fato negativo foi o desempenho da indústria, que nesse período chegou a um ano de resultados negativos para o PIB. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o nível elevado dos juros pode ter papel relevante em explicar o mau desempenho da demanda por investimentos e da atividade manufatureira.
Já no terceiro trimestre a economia ficou praticamente estagnada, representando ainda clara desaceleração em relação ao crescimento observado nos dois períodos anteriores. As exportações continuaram impulsionando positivamente o crescimento da economia pelo quinto trimestre seguido. Isso se deve principalmente à demanda global por produtos brasileiros, especialmente petróleo e minério de ferro. Além disso, o consumo das famílias foi a maior força impulsionadora do crescimento econômico no terceiro trimestre.
Segundo o professor de economia do curso de Administração da ESPM Alexandre Gaino, a previsão do Relatório Focus era cercada de incertezas quanto à mudança de governo, que faz o mercado superestimar índices de inflação e subestimar o crescimento do PIB.
E para 2024?
A desaceleração observada nos últimos trimestres levou o Ministério da Fazenda revisar de 3,2% para 3% a sua estimativa para o crescimento do PIB em 2023. A nova projeção da Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta também foi reduzida para 2024, sendo revisada de 2,3% para 2,2%.
"Em 2023 ocorreu uma sazonalidade que foi o bom desempenho do setor agrícola, o que não necessariamente se repetirá em 2024. A taxa média de crescimento do Brasil nos últimos anos é de 1,5% a 2%, então seria um resultado natural porque o país ainda tem problemas estruturais que impedem um salto maior", afirma Gaino.
Segundo o economista, as propostas apresentadas pela equipe econômica neste ano já devem surtir efeito na economia, mas a longo prazo.
O novo arcabouço fiscal e agora a reforma tributária, ajudam a criar uma nova estrutura para crescimento ao longo do tempo, mas não é imediato esse resultado", diz.
"Além disso, a queda dos juros também vai colaborar com o crescimento brasileiro, então estamos longe de ter uma expectativa de recessão, ou queda do PIB no próximo ano", completa.