O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrou nesta quarta-feira (8) não ser favorável a mudança da meta fiscal para 2024. Na avaliação dele, a alteração pode gerar “muita incerteza” e levar o mercado financeiro a crer que o arcabouço fiscal foi “abandonado” pelo governo Lula.
“A nossa visão é que a meta fiscal já tem muitas previsões para quando você não conseguir cumprir a meta. Portanto, alterar a meta neste momento geraria muita incerteza”, afirmou em evento do Valor Capital Group, em Nova York, nos Estados Unidos.
“Se não tivermos uma meta, as pessoas poderão interpretar que o nosso arcabouço fiscal foi abandonado e será muito mais difícil estimar realmente como as despesas fiscais serão em 2025 e 2026”, acrescentou.
O posicionamento de Campos Neto é o mesmo do Copom (Comitê de Política Monetária), que realizou reunião na semana passada.
O documento divulgado pelo comitê na última terça (7) apontou que o Banco Central avaliou que houve um crescimento de incerteza sobre as contas públicas com o debate da mudança da meta fiscal para o ano que vem, podendo gerar pressão em cima das taxas de juros.
“Nós economistas, quando temos incerteza, tendemos a colocar prêmio [de risco], e o mercado também. Então, o custo de fazer isso [mudar a meta] supera de longe os benefícios em termos da incerteza que isso gera e do custo da incerteza nas variáveis macroeconômicas --e uma delas é o investimento, que promove o crescimento”, afirmou Campos Neto.
Meta fiscal
No começo de ano, o governo afirmou que alcançaria o déficit zero em 2024. Porém, no fim de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), avisou que poderia ocorrer mudança na meta fiscal.
“Eu sei da disposição do [ministro Fernando] Haddad, sei da vontade do Haddad, sei da minha disposição. Já dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos à meta zero", relatou.
O governo estuda a possibilidade de alterar a meta do déficit para 0,5 do PIB (Produto Interno Bruto). No entanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), tem defendido que o governo siga em busca do “zero a zero” nas contas públicas.