Entenda o impacto das mudanças da Selic no dia a dia
Marcelo Casal Jr/ Agência Brasil
Entenda o impacto das mudanças da Selic no dia a dia

A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira,  exerce um impacto direto tanto na economia do quanto na população. Afeta as finanças familiares ao influenciar os juros em financiamentos e empréstimos, além de mexer nos rendimentos de investimentos como poupança, títulos públicos e outras aplicações.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central, Copom, é responsável por ajustar a cada 45 dias, decidindo sobre aumentos, reduções ou manutenção da Selic. O BC utiliza o sistema para influenciar o ritmo de crescimento e alcançar metas relacionadas à inflação, sendo a variável central da política monetária. E quando a economia apresenta um desempenho fraco e não há riscos inflacionários, é possível reduzir a taxa de juros, estimulando o consumo e os investimentos da população.

Em entrevista para o Portal iG, o professor Renaldo Gonçalves, do Departamento de Ciências Atuariais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) declarou que acredita que o corte da Selic deve se repetir, nas próximas reuniões de novembro e dezembro, levando a taxa para um patamar de 11,75% ao final de 2023.

“O impacto dessa queda não será no consumo, pois a redução é muito pequena para influenciar o aumento do endividamento do consumidor. As políticas de geração de renda, direta como o bolsa família (benefícios: renda cidadania; complementar; primeira infância; variável familiar; e extraordinário de transição) e indireta como desenrola Brasil, são os novos motores de consumo”, defende.

A mudança na política monetária foi celebrada pelos economistas devido ao ciclo de aperto iniciado em março de 2021, que se estendeu até agosto de 2022 com 12 aumentos consecutivos na taxa básica de juros. Desde então, a Selic foi mantida em 13,75%, após ter estado estacionada em 2%, o menor patamar histórico, desde agosto de 2020.

O consenso econômico é que os efeitos de uma taxa de juros mais baixa só serão percebidos na economia entre 12 e 18 meses, indicando que o impacto de uma taxa reduzida só deve se manifestar no final de 2024. Contrariando a impressão inicial, a queda dos juros afeta não apenas os investimentos, mas também outros aspectos econômicos.

“O conflito nesse momento é político, o governo quer regular a linha de crédito mais nociva para o consumidor (cartão de crédito), e os bancos alegam que o mercado é livre e cada instituição decide as taxas que praticará. O caminho mais seguro para a redução das taxas de juros é o aumento da competição, ou seja, a desconcentração do mercado financeiro”, argumenta.

“O Banco Central, investe nessa tendência quando cria o PIX e o próximo marco de desconcentração será o DREX, a moeda digital. A nova moeda (DREX), mudará totalmente o padrão de competição no mercado financeiro, abrindo oportunidade para novos players inovarem com o crédito. Nesse novo ambiente, as instituições tradicionais terão que se adaptar e mudar a forma tradicional de crédito”, finaliza o professor.

Com o crédito mais acessível, a expectativa é que a população aumente o consumo, especialmente em produtos de valor elevado, como eletrodomésticos, móveis, imóveis e veículos. Esse comportamento dos consumidores estimula o aquecimento da economia, resultando em uma maior demanda por produtos e serviços e, por conseguinte, exigindo uma produção mais intensa da indústria.

Mauro Rochlin, que é economista e Coordenador Acadêmico FGV/MBA, acredita que a medida em que o Banco Central reduz a Selic, as demais taxas podem cair, e isso acaba tendo impacto em outras taxas que afetam diretamente o consumidor. “Sinceramente, não vi críticas das instituições financeiras a decisão do Banco Central de reduzir a taxa de juros. O que houve muito mais é uma crítica com relação às altas taxas, dada a inflação menor que nós estamos vivenciando. Há espaço para se praticar uma Selic menor, então o debate hoje está mais centrado nessa questão”, declara.

Conforme o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na última semana,  a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi reduzida de 4,86% para 4,75%.

As metas de inflação fazem parte do "tripé macroeconômico", adotado desde o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o FHC, e considerado chave para o bom andamento da economia brasileira. Além das metas para a Selic, o tripé precisa de câmbio flutuante e superávit primário para funcionar.

Conforme a terceira estimativa do ano do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC),  o superávit é previsto atingir um recorde de US$ 93 bilhões, em comparação com a projeção anterior de US$ 84,7 bilhões.

Assim como a inflação, espera-se que o dólar também se valorize em relação ao real. Taxas de juros elevadas têm o poder de atrair investidores estrangeiros, pois investimentos de renda fixa são considerados mais seguros e oferecem retornos superiores aos investimentos de renda variável. Esse cenário geralmente resulta em uma valorização da moeda estrangeira em relação à moeda local.

Além disso, o governo também pode experimentar um certo alívio financeiro. Uma Selic mais baixa reduz os gastos com juros da dívida pública. Para se ter uma noção, em 2022, os gastos com juros totalizaram R$ 586 bilhões, equivalendo a 5,96% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

No segundo trimestre deste ano, o PIB registrou um cresciment o de 0,9%, marcando o oitavo resultado positivo consecutivo. De abril a junho, a economia brasileira produziu bens e serviços finais, totalizando R$ 2,651 trilhões, conforme os dados do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no começo de setembro. Apesar de superar as projeções do mercado, o crescimento no segundo trimestre foi inferior ao registrado no primeiro trimestre, que foi de 1,8%.

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