O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), admitiu que uma eventual vitória de Javier Milei na Argentina, candidato de extrema direita à presidência, preocupa o governo brasileiro. "Preocuparia qualquer um", afirmou em entrevista à Reuters publicada nesta quinta (19).
"É natural que eu esteja [preocupado]", revelou Haddad. "Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso", disse. "Preocuparia qualquer um... Porque em geral nas relações internacionais você não ideologiza a relação".
Formado em economia pela Universidade de Belgrano, Javier Milei tem 52 anos, nasceu em Buenos Aires e se declara "anarcocapitalista". Neste domingo (22) ocorre o 1º turno das eleições argentinas – Milei aparece como favorito nas pesquisas, com chances de arrematar o pleito ainda no primeiro turno.
Em agosto, o argentino venceu as eleições primárias com uma votação que surpreendeu toda a Argentina. Uma das propostas de campanha de Milei, que integra a coalizão "A Liberdade Avança", é dolarizar toda a Economia do país, além de propor fechar o Banco Central e privatizar empresas estatais.
Durante entrevista à The Economist, em setembro, Javier Milei demonstrou que pretende mudar a relação da Argentina com a China e o Brasil. Pela afirmação, foi questionado se manteria relações com o Mercosul, e afirmou que “livre comércio não inclui o Estado”. “É uma decisão privada, então você pode fazer comércio com quem você quiser”, disse Milei.
De acordo com o ministro Haddad, "não se transpõe para as relações internacionais as questões internas". "Mesmo quando você tem preferências, manifestas ou não", disse, relembrando que o presidente Lula (PT) mantém relações amigáveis com chefes de Estado de vertentes políticas variadas.
"É um vizinho do Brasil, principal parceiro na América do Sul. Então preocupa quando um candidato diz que vai romper com o Brasil. Você fez o quê para merecer esse tipo de tratamento?", questionou o ministro.
O atual governo da Argentina, de Alberto Fernández – principal parceiro da gestão Lula na América do Sul –, tem como representante na corrida eleitoral Sérgio Massa, ministro da Economia, visto como um moderado. Fernández, presidente em exercício, desgastado com a inflação em alta, desistiu de tentar a reeleição.