Paulo Guedes prendeu a atenção dos participantes do almoço
Renato Pizzutto/iG - 14.09.2023
Paulo Guedes prendeu a atenção dos participantes do almoço

Por Gustavo Basso, em colaboração para o iG

Um almoço ironicamente italiano marcou o encerramento do primeiro encontro internacional organizado pelo Forum Brazil-German Space. O encontro foi uma iniciativa do ex-ministro da Economia Paulo Guedes junto ao diretor-executivo da organização e presidente, Frederico Ventura Wollny.

Ambos classificaram como muito positivos os três dias (12, 13 e 14 de setembro) de apresentações e estabelecimento de conexões entre empresários, investidores e autoridades de ambos os países em São Paulo. Para Guedes, a Alemanha é o parceiro ideal para a iniciativa brasileira de se tornar protagonista na transição energética verde , fenômeno que foi tema dos debates.

“Os alemães já estão na fronteira da descarbonização produtiva, e nós é que podemos expandir esta fronteira”, defende o economista, ressaltando que os meios para esta descarbonização são abundantes no Brasil, porém escassos na Alemanha, que na última década se tornou dependente do gás natural russo ao optar pelo desligamento de suas usinas nucleares. Hoje o suprimento de gás pelos gasodutos Nordstreem 1 e 2 está afetado por conta da invasão russa à Ucrânia.

O Brasil é o maior polo industrial alemão fora da Alemanha. Segundo a Federação Alemã das Indústrias, o Brasil é o parceiro comercial mais importante da Alemanha na América do Sul e um país-alvo de investimentos que vem passando por uma retomada após anos resfriados. Atualmente, cerca de 1.600 empresas alemãs estão ativas no Brasil, gerando cerca de 10% da produção industrial. 

Metade delas está em São Paulo, onde calcula-se em 400.000 o número de descendentes alemães. O que justifica a escolha do Estado para o evento, explica o organizador Wollny.

“Logo na abertura contamos com a participação do governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e cinco secretários de Estado, o que demonstra o prestígio que este governo está dando não só para o Fórum, mas para estes investimentos estrangeiros na transição energética da qual São Paulo quer ser central”, defende o empresário.

Tarcísio defendeu no primeiro dia, no Palácio dos Bandeirantes, a infraestrutura já presente em Cubatão para receber a produção alemã em siderurgia, metalurgia e química verde. Wollny defende que a apresentação de dados e planos concretos pela equipe estatal impressionou os estrangeiros presentes, que teriam se convencidos da seriedade dos planos do governo estadual.

A siderúrgica verde GMH Gruppe, no entanto, saiu do país sem planos concretos de fincar a bandeira alemã por aqui. A empresa fabrica aço a partir de sucata utilizando energia elétrica e baixas quantidades de carvão, gerando emissões cinco vezes menores que o processo tradicional. Esta cifra poderia ser reduzida a quase um décimo se utilizada a energia renovável brasileira e carvão vegetal.

Tripé produtivo

Sentado à mesa do restaurante italiano no bairro de Pinheiros, Paulo Guedes é um popstar. Posa para fotos, é abraçado e elogiado por outros clientes presentes. Até mesmo Wollny se surpreende com o assédio recebido e observado pelos outros participantes do Fórum, alemães e brasileiros, entre eles o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser.

O jantar reuniu pessoas de diversos segmentos interessados em discutir o comércio Brasil - Alemanha
Paulo Guedes prendeu a atenção dos participantes do almoço
Alexander Becker, CEO do grupo GMH
Luciana Filizzola e Claus Suter durante conversa com os empresários
O guitarrista Andreas Kisser (ao centro) foi um dos participantes do encontro

Mais cedo, as discussões foram mais exclusivas, entre executivos do Fundo de Investimentos YvY e os empresários que avaliam esta produção de baixo carbono no país. A firma gestora de recursos fundada por Guedes junto do ex-presidente do BNDES, Gustavo Montezano tem como meta mobilizar capital internacional para projetos que desenvolvam o potencial brasileiro de oferecer soluções nas mais diversas áreas da transição para uma economia de baixo carbono.

Entre os sócios estão o ex-diretor geral da Organização Mundial de Comércio (OMC) Roberto Azevedo e o ex-CEO do Pactual e do Bank of America no Brasil Rodrigo Xavier, o que mostra o tamanho da aposta de Guedes e colegas no desenvolvimento deste setor.

“O mundo desenvolvido estava encaixado, integrado, com o Brasil à margem deste processo, mas com uma desvantagem: fez isso com a energia errada”, avalia o economista. Para ele, a guerra comercial entre EUA e China vem se tornando um conflito geopolítico, que junto com a pandemia de Covid-19 e a invasão russa quebrou as cadeias produtivas mundiais.

“Aí chega o Brasil com energia barata e limpinha, chega lá e fala: ‘Vamos encaixar de novo, mas vamos encaixar certo, com a energia correta’”, brinca, reforçando o papel integrador do Brasil na América do Sul, que pode ser fornecedor de alimentos, lítio e outros insumos que partes do mundo como a Europa no futuro necessitarão mais do que conseguirão obter.

Complementando o economista, Wollny destaca que a fundação da reindustrialização nacional limpa passa pelo tripé de grandes investidores brasileiros; tecnologia e indústria alemã, e apoio e infraestrutura paulista. “Talvez seja a primeira vez que a indústria alemã vem conversar com o capital brasileiro”, diz, defendendo uma inevitável interdependência entre os países. 

Hoje a Alemanha é o parceiro econômico europeu mais importante; firmas locais exportam quase R$ 53 bilhões para o Brasil anualmente, com destaque para produtos químicos, maquinário, veículos e peças automotivas. O Fórum pretende continuar com eventos semelhantes para aproximar financiadores e financiados da produção industrial com capacidade de, não salvar o planeta da inevitável mudança climática, mas reduzir os impactos.

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