Após o CEO da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, classificar o rombo bilionário na empresa como fraude, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) responsável pela investigação intensificará suas atividades nas próximas semanas.
Nesta terça-feira (20), o deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), relator da CPI, conduzirá questionamentos ao diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, e ao presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Barroso do Nascimento. O objetivo será obter esclarecimentos sobre as concessões de crédito à varejista sem que a verdadeira situação contábil fosse devidamente identificada.
No mesmo dia, a CPI votará vários requerimentos, incluindo a solicitação do relatório completo mencionado por Coelho Pereira, que supostamente comprovaria a fraude. Além disso, serão solicitadas quebras de sigilo dos suspeitos e acesso a todas as trocas de e-mails ocorridas entre os membros da diretoria da empresa nos últimos dez anos.
Na última terça-feira (13), a companhia soltou um informe em que admitiu a fraude pela primeira vez e acusou ex-diretores de envolvimento. Foram responsabilizados nominalmente o ex-CEO Miguel Gutierrez, os ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes.
Durante a primeira semana de julho, os deputados irão ouvir depoimentos de ex-diretores da empresa. Após os depoimentos dos diretores, os representantes das auditorias KPMG e PwC serão convocados pela CPI para prestar esclarecimentos a respeito de uma suposta conivência com o esquema de fraude. O CEO da Americanas alega que essas consultorias permitiram a alteração de cartas de controle a pedido da antiga diretoria.
Os deputados também protocolaram requerimentos solicitando a convocação dos presidentes dos bancos que concederam crédito à Americanas nos últimos anos. A lista inclui instituições como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES e Banco da Amazônia, entre os bancos públicos, e Santander Brasil, BTG Pactual, Bradesco, Itaú e Safra, entre os bancos privados.
Apesar das solicitações, a CPI ainda não confirmou a convocação dos banqueiros.
Histórico
A empresa criou contratos fictícios de Verba de Propaganda Contratada (VPC), totalizando R$21,7 bilhões, e também omitiu R$ 3,6 bilhões em juros sobre operações financeiras. As dívidas totalizam R$ 42 bilhões, e o esquema de fraude sozinho causou um prejuízo de R$ 25 bilhões. Contratos falsos com fornecedores eram criados para reduzir custos e gerar verbas fictícias.
A CPI terá, a princípio, duração de 120 dias, e as sessões acontecerão às terças-feiras e quintas-feiras.