A partir desta segunda-feira (1º), Dia do Trabalhador, passa a vigorar o novo salário mínimo de R$ 1.320, R$ 18 a mais que os R$ 1.302 previstos no Orçamento deste ano, e R$ 108 a mais do que o que era pago no ano passado. Para quem precisa viver apenas com o mínimo, ainda é pouco, mas sinaliza que a política de aumento real pode ser retomada após quatro anos congelada.
Segundo o Dieese, o salário mínimo no Brasil deveria ser de R$ 6.571,52, quase cinco vezes o piso nacional. Mesmo assim, há quem consiga se virar com o piso.
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É o caso da inspetora escolar Débora Calheiros, que diz "não sobrar para viver, apenas sobreviver". "É muito complicado, realmente não estou conseguindo pagar todas as minhas contas. O que são R$ 108? Olha para o supermercado, os preços só aumentam… Viver é para os ricos, pobre tem que trabalhar”, lamenta.
Ela comenta que sentiu falta dos reajustes acima da inflação nos últimos anos. "Se você fizer as contas de quanto é o custo de vida no Brasil e comparar, vai ver que o pobre está sendo escravizado. O salário não condiz com a inflação nem um pouco".
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o único a não conceder reajuste real no salário mínimo durante todos os quatro anos de mandato.
Ana Cristhyna Silveira é secretária acadêmica de uma universidade comunitária e conta que, após os descontos, não sobra nem o mínimo. "É complicado porque o mínimo não é suficiente. Com todos os descontos eu estava recebendo cerca de 900 reais por mês. Nossa, por muito tempo foi bem pesado. Quarenta horas trabalhadas, cinco dias na semana, dando o máximo, era de chorar".
A moradora de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, diz que espera políticas do governo para suprir as perdas provocadas pela inflação. "Pelo amor de Deus, nós, os pobres, somos os que mais sofremos. É surreal o preço dos alimentos, da água, da luz, e a gente não recebe pra viver dignamente".
A jornalista Lorena Golarte é outra trabalhadora que precisa sobreviver com o mínimo. Para ela, R$ 108 "é muito pouco, pensando que não houve um reajuste digno durante quatro anos. Não é justo com o trabalhador, com o pagador de impostos", afirma.
Futuro
O Ministério do Trabalho formou um grupo de trabalho com integrantes do governo e de centrais sindicais para estudar os parâmetros da próxima política de valorização do salário mínimo, que deve ser de pelo menos 15 anos.
As centrais sindicais querem aumento real de 2,4% por três anos a fim de recompor as perdas da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse índice se somaria à inflação do período medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e da variação do PIB (Produto Interno Bruno).
Caso o governo adote essa proposta, em 2024 o reajuste do mínimo será produto da soma da inflação, com o PIB (de 2,9%) e 2,4%.
Antes de Bolsonaro assumir, o salário mínimo variava pelo INPC, mais a variação média do PIB dos últimos dois anos. A lei deixou de vigorar em 2019 e Bolsonaro reajustou os salários apenas pela inflação, como determina a Constituição. Com isso, foram 4 anos sem aumento real.
Se a regra antiga valesse até hoje, o salário mínimo deveria ser de R$ 1.391, 5,4% abaixo do patamar anunciado por Lula.
Segundo cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI), o reajuste do salário, se ficar entre 0,6% e 2,5% de aumento real, causará impacto de R$ 2,9 bilhões a R$ 12,7 bilhões às contas públicas, podendo ser tão maior quanto for o efeito do aumento real.