Americanas entrou com pedido de recuperação judicial nesta quinta-feira
Estefan Radovicz / Agência O Dia - 19/01/23
Americanas entrou com pedido de recuperação judicial nesta quinta-feira

A Americanas entrou no começo da tarde desta quinta-feira (19) com um pedido de recuperação judicial para tentar se recuperar do rombo bilionário descoberto na última semana. A medida já era esperada pelos acionistas da empresa para segurar a cobrança de dívidas.

Em comunicado, a empresa informou ter R$ 43 bilhões em dívidas, o dobro do estimado inicialmente. Mais cedo, a varejista disse ter apenas R$ 800 milhões em caixa, sendo uma “parcela significativa” bloqueada para movimentações.

Se aprovado, a Americanas terá as cobranças de dívidas suspensas por 180 dias. Um administrador será o responsável por acompanhar o processo. Porém, se a recuperação judicial for negada, a Americanas poderá decretar falência após quase 100 anos de operação.

No pedido, a empresa solicita o prazo de 60 dias para apresentar um plano de recuperação. A varejista ainda pediu a capitalização da AME, instituição financeira que se tornou um dos maiores investimentos do grupo.

Entre as justificativas da empresa está o derretimento das ações da empresa na Bolsa de Valores após o anúncio do rombo. Analistas apontam a queda de 80% nos valores dos papéis em menos de 24 horas após o relatório.

Outro fator determinante para o pedido é a recusa dos bancos em antecipar os recebíveis de cartões de crédito, o que daria folga de R$ 3 bilhões para a empresa a curto prazo. As instituições financeiras ressaltaram o medo de calote.

Ações derretidas

Após o pedido de recuperação judicial, as ações da varejista negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo derreteram 25%. Isso provocou a suspensão das operações por alguns minutos.

Os papéis da empresa são negociados a R$ 1,27. Em 11 de janeiro, cada ação custava R$ 12.

O índice Ibovespa apresenta queda de 0,19%, com 112 mil pontos.

Críticas ao BTG Pactual

Mais cedo, a empresa emitiu um comunicado em resposta a tutela de urgência emitido pelo banco BTG Pactual para receber R$ 1,2 bilhão das Americanas. A companhia entendeu ser injusto o pagamento da dívida em meio a crise instalada na última semana.

“A companhia vai recorrer da decisão, que fere seu esforço na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos”, disse o presidente interino da empresa, João Guerra.

Para a empresa, o valor bloqueado judicialmente ajudaria a manter a empresa sem a necessidade imediata da recuperação judicial. Em Fato Relevante, a Americanas culpou o banco de reduzir drasticamente o valor em caixa.

Crise na Americanas

Na última quarta-feira (11), a Americanas informou a descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões após inconsistências em lançamentos contábeis em exercício anteriores. O caso foi divulgado pela própria empresa em Fato Relevante aos investidores.

A notícia provocou a renúncia do CEO da empresa, Sérgio Rial, dez dias após assumir o cargo. O diretor de Relações com Investidores, André Covre, também foi desligado da Americanas após ser empossado no último dia 2 de janeiro.

Rial deverá colaborar de forma independente com o corpo acionário da empresa e continuará como presidente do Conselho de Administração do Santander.

Em conferência com empresas de investimento, Rial explicou que o rombo estava lançado na linha de fornecedores e não na dívida ativa da empresa. Se ajustar para a linha de endividamento, a situação financeira da Americanas poderá degringolar consideravelmente, apontam analistas.

Ao mercado, Rial previu que os erros na contabilidade são frequentes há pelo menos sete anos. Ele não justificou o motivo das inconsistências, mas o mercado acredita que a empresa não deu conta do crescimento de vendas, principalmente no e-commerce.

A Americanas ressaltou que abrirá uma investigação para averiguar o motivo das inconsistências contábeis e os responsáveis. Um conselho interno deverá tomar as rédeas do caso. Ainda não há prazo para a conclusão das investigações.

A empresa foi fundada em 1929 por empresários austríacos e americanos. A primeira loja se instalou e Niterói, no Rio de Janeiro, e logo no primeiro ano a varejista abriu outras duas lojas no Rio e uma em São Paulo.

Ela foi vendida para os empresários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles em 1982. Em 2021, o valor de mercado da empresa estava estimado em R$ 55,2 bilhões.

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