O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta reeleição, ativou a máquina pública para correr atrés de votos no segundo turno das eleições deste ano. Até o momento, o presidente já prometeu R$ 160 bilhões em benefícios e medidas econômicas eleitoreiras.
Para Maria do Socorro Sousa Braga, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos, essas medidas já fazem efeito, sendo possível projetar um crescimento eleitoral do atual presidente frente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu adversário na corrida eleitoral.
"As medidas estão fazendo efeito, e o atual presidente tende a aumentar a votação nesse seguimento [dos beneficiários de programas sociais], que é justamente aquele seguimento que ainda tende a votar no ex-presidente Lula", afirma a cientista política, em live do iGdeias desta terça-feira (11).
Maria do Socorro afirma, porém, que Lula ainda é o preferido dentre as camadas mais populares por conta da lembrança que as pessoas têm de seus governos passados. "O ex-presidente Lula consegue entrar no eleitorado popular, de baixa renda. Dado o cenário econômico naquele período, ele conseguiu ter resultados muito bons, como o aumento do salário mínimo. Então, as pessoas têm na memória o que foi aquele governo do ponto de vista da qualidade de vida das pessoas", analisa.
Apesar das tentativas de Bolsonaro de se aproximar desse eleitorado de Lula, a cientista política afirma que há outros fatores que impactam o voto dessa população, como pautas de costumes, que vão muito além dos benefícios sociais.
"Não é só o fato de ter Auxílio Brasil que vai fazer um eleitor próximo ao ex-presidente Lula votar no autal presidente. Eu penso que tem algo maior acontecendo no Brasil, que é esse embate, esse antagonismo em relação a dois projetos diferentes de país. E isso está atingindo também esse segmento", avalia.
O que interessa para o eleitor
Quando o assunto são os gastos do governo Bolsonaro, um dos assuntos mais frequentes é o teto de gastos. O economista Leonardo Ribeiro, analista do Senado Federal, argumenta que o debate eleitoral no que diz respeito à economia está muito centralizado em questões relacionadas a regras fiscais, mas que isso não necessariamente interessa ao eleitor, de modo geral.
"A sociedade quer seu emprego, sua renda, ver seus filhos com boa educação, ve ro país se desenvolvendo. Quem tem que tomar conta dessas questões [macroeconômicas] é quem as decide. O trabalhador não tem que ficar pensando nessas questões", afirma.
É justamente por isso que o economista acredita que acaba se gerando um clima de "quem vai dar mais", em termos de promessas eleitorais. "Para o eleitor, ele vai se interessar por candidatos que estejam prometendo medidas que vão aumentar a renda disponível da família. A questão é virar uma briga de quem vai dar mais. Aí fica uma confusão e vira um estelionato fiscal no final das contas, porque não é possível pagar tudo isso para todo o mundo", analisa Leonardo.
Maria do Socorro afirma que as tentativas de Bolsonaro de prometer "dar mais" ao povo "indicam o quanto o atual presidente está se utilizando da máquina pública em benefício pessoal". "A gente tem questões que podem levar até ao jurídico, com certeza. Mas, do ponto de vista eleitoral, as medidas podem ter um impacto importante, especialmente em que se absteve no primeiro turno", analisa a cientista política.
"Esse uso da máquina pública foi muito intenso, talvez jamais visto em outras campanhas. Sempre houve, mas não nessa magnitude. Deve beneficiar, sim, o atual presidente", avalia.
Para conferir a conversa completa com os especialistas, ouça o episódio do podcast iGdeias ou assista ao vídeo no YouTube: