Se grande parte do eleitorado brasileiro vê a disputa de Ciro Gomes (PDT) para a presidência em um país polarizado como ousadia, a palavra também pode definir a estratégia econômica do pedetista. Em seu plano de governo, Ciro promete mudanças na CLT, além de reafirmar compromissos firmados nas eleições de 2018.
A meta mais desafiante para o pedetista é gerar cinco milhões de empregos em apenas dois anos. Embora o país tenha criado 2,7 milhões de oportunidades em 2021, o cenário agora é diferente, visto que a inflação está nas alturas, o que obrigou o Banco Central a retardar a economia do país subindo juros, impactando a geração de empregos.
Segundo o economista Mauro Benevides, a meta não será problema em um eventual governo de Ciro Gomes. Na visão do deputado, a retomada do crescimento do país fará os investimentos retomarem e, consequentemente, alavancar as vagas de emprego.
"Muito simples, quando a economia não cresce, você não gera emprego. Então qualquer número de geração de emprego as pessoas se surpreendem. Você precisa investir no país, principalmente em infraestrutura, para que ele cresça. Segundo ponto: você tem um efeito de taxa de juros no Brasil, que reduz investimentos e gera menos empregos. É necessário controlar isso".
Benevides é o nome de Ciro Gomes para a economia. O deputado já trabalhou com o pedetista quando o candidato à presidência atuava como governador do Ceará.
O parlamentar ressalta as promessas de Ciro Gomes para a economia do país e o vê preparado para o cargo, garantindo que o candidato vai equilibrar a cotação da Selic e segurar a inflação do país.
"O Ciro, com a sua proposta de refazer o equilíbrio fiscal quando foi ministro da Fazenda, produziu o maior superávit primário da história brasileira. Ninguém nunca teve o ministro da Fazenda que produzisse aproximadamente 4% de PIB. Somente um cara muito disciplinado, como o Ciro; fiscalmente ele é capaz de resolver esse problema brasileiro", afirmou.
"E as pessoas ainda perguntam: 'Mas será que o Ciro é capaz de organizar isso?'. Sabe o que eu acho? As pessoas não querem mais ler. As pessoas precisam ler para poder formar uma opinião, uma equação macroeconômica e da experiência", concluiu.
Teto de gastos
Enquanto a maioria dos outros candidatos à presidência da República estudam alternativas para fazer pequenos ajustes e manter o teto de gastos, Ciro Gomes segue o caminho contrário e promete acabar com a medida que controla os gastos da União criada em 2016. Na visão da equipe econômica, o teto trava o desenvolvimento econômico do país.
"Teto do gasto não controla nada. Foi feita agora uma emenda constitucional para poder dar um calote nos precatórios. O Congresso aprovou e o mercado financeiro disse nada. Aceitou, está tudo bem. Segundo: o teto do gasto não controla dívida. Dívida saiu de 61% para 80% e baixou agora para 78% pela relação dívida/PIB".
Benevides minimizou a possível repercussão negativa no mercado financeiro com o fim do teto de gastos e garante haver apoio do Congresso Nacional para pôr fim à regra.
"Primeiro eu discordo que vão encontrar resistência no Congresso Nacional. Pelo contrário, lá vai ter muito apoio. A grande maioria é contra o teto porque freia os investimentos na saúde, crescimento da educação e assim por diante. O mercado financeiro, obviamente, quer é a sobra do dinheiro para pagar a sua dívida, pagar os juros. Eu compreendo isso, não tem nada de absurdo. O teto do gasto significa o seguinte: não adianta eu aumentar a minha receita, não adianta eu ser mais deficiente, eu aprimorar a minha máquina arrecadatória, não adianta nada. É um fator desestimulador da receita".
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Auxílio de R$ 1 mil e limpa nome
Outra meta ousada de Ciro Gomes é o aumento do Auxílio Brasil de R$ 600 para R$ 1 mil a partir de 2023. O Orçamento para o próximo exercício fiscal não abre brecha para gastos maiores, o que implicaria uma forte negociação da equipe de Ciro com o Congresso.
Na visão de Mauro Benevides, conseguir pagar os R$ 1 mil não deve ser uma tarefa difícil. Ele acredita que o benefício também deve ser reformulado para atender o maior número de necessitados, mas não soube explicar como será feito os pagamentos.
"Nós vamos eliminar toda a pobreza do Brasil. Você vai precisar de aproximadamente R$ 90 bilhões para poder eliminar todo mundo da pobreza brasileira".
O programa assistencial ainda traz uma provocação ao Partido dos Trabalhadores e deve ser rebatizado de Eduardo Suplicy, um dos idealizadores do programa de renda básica no Brasil. Questionado sobre o nome do benefício, Benevides desconversa e diz ser apenas uma homenagem.
"É um conceito quase que universal. Não é uma provocação. Vamos apenas usar as ideias que Suplicy sem falou e o PT não deu a mínima, para refazer o programa de Renda Mínima".
No plano de governo, Ciro Gomes ainda recupera uma antiga promessa, feita em 2018, de limpar o nome dos brasileiros que estão nos serviços de proteção ao crédito. Isso deve ser feito por meio de programas em bancos públicos, com adesão dos privados, para renegociar dívidas a juros menores e prazos mais longos.
"São 66 milhões de brasileiros e brasileiras que estão endividados. Hoje a Serasa dá desconto de 90%, mas ela quer pagamento à vista. Qual é o pulo do gato aí? A pessoa tem R$ 4 mil de dívida média, você continua dando o desconto de 90%, terá que financiar com seis meses de carência e entre 24 e 36 meses para pagar com a parcelazinha pequena que a pessoa tenha condições de fazer o pagamento, aí ela volta ao mercado", diz Benevides.
"Vamos limpar o nome da população oferecendo um crédito da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, que está dentro da proposta do governo do candidato".
O candidato
Ciro Gomes é candidato pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) e atua na política há mais de 40 anos. Foi deputado estadual, federal e governador do Ceará, além de ter sido ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e ser um dos participantes da implementação do Plano Real.
O pedetista ainda foi prefeito de Fortaleza e ministro da Integração Nacional no governo Lula.
É candidato à presidência da República pela quarta vez. A primeira foi em 1998, depois em 2002, 2018 e agora em 2022. Tem como sua vice a professora, advogada e vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos.