A economia está sendo o tema central da corrida eleitoral à Presidência da República neste ano. Economistas acreditam que o próximo presidente, independente de quem seja, terá grandes desafios a enfrentar, já que tanto a conjuntura econômica interna quanto a externa estão bastante delicadas.
"Será difícil, mas temos que apostar na política, não na não-política. Porque temos problemas que não são de economistas, mas de negociações dos atores sociais e políticos", afirma Ricardo Carneiro, professor titular do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em live do iGDeias nesta terça-feira (9).
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Para o professor, o próximo mandato será bastante desafiador no que diz respeito à economia, o que vai exigir um presidente com capacidade de negociação. "Acho que o grande talento do próximo presidente - e desse ponto de vista eu acho que o Lula é mil vezes superior ao Bolsonaro - vai ser a capacidade de articular uma saída, de negociar um padrão mais sustentável. Vai ser um ano inicial de tourada, com medidas emergenciais, mas para construir um modelo que eu espero que tenha resultado", opina.
Auxílio Brasil e inflação
Atualmente, alguns dos temas centrais das discussões dos candidatos presidenciáveis são a inflação, o Auxílio Brasil e o desemprego. Para Alexandre Pires, professor de Economia e Relações Internacionais do Ibmec SP, isso acontece porque "o dia a dia continua sendo extremamente dramático para o brasileiro".
Na sua visão, o Auxílio Brasil será mantido por qualquer um dos candidatos que venha a ocupar a Presidência da República em 2023. "A tendência é que ele seja ampliado", aposta.
O economista afirma, porém, que ajustes serão necessários para tornar o programa mais bem estruturado. Ricardo também aposta em mudanças, e afirma que o Auxílio Brasil que temos atualmente é sem foco e eleitoreiro.
"O Auxílio Brasil não tem desenho, não tem foco. Você não pode pagar para um homem solteiro a mesma coisa que você paga para uma mulher chefe de família que tem três crianças em casa. Esse programa significa você jogar dinheiro. Como a situação está muito ruim, algum impacto positivo ele tem. É claro que o Auxílio é eleitoreiro, está sem foco e precisa ser redesenhado", analisa o professor da Unicamp.
Reformas
Apesar do tema da distribuição de renda e da inflação estarem bastante em alta, Alexandre aponta que o Brasil "está com problemas mais graves do que só a inflação do dia a dia".
"Agora, nós estamos tendo que colocar em questão o teto de gastos. Para fazer um alívio e mitigar os efeitos da pandemia, talvez o Estado tivesse que ter um novo papel e gerar uma dívida em um patamar maior. São questões que, ao meu ver, não vão aparecer agora na campanha eleitoral, mas que o próximo governo vai ter que colocar na agenda. Por enquanto, o que nós vamos ouvir é custo de combustível, inflação, preço de alimentos, mas o debate realmente teria que subir de nível", avalia o professor do Ibmec.
Para Ricardo, o teto de gastos já não é mais "compatível com as desigualdades, com o crescimento da população, com o envelhecimetno da população e com uma série de configurações". "Então, eu acho que tem que mudar. Vamos simplesmente suprimir? Não. Tem que discutir uma regra fiscal nova", opina.
Além do teto de gastos, as reformas trabalhista e tributária devem estar no radar dos candidatos à Presidência, afirmam os economistas. Alexandre, porém, acredita que "não vão querer mexer nesse vespeiro", referindo-se à Reforma Trabalhista.
"Eu acho que a Reforma Trabalhista que foi posta em prática tem um defeito grave: ela foi feita de cima para baixo", avalia Ricardo. "A ideia que o Lula vem tendo de trazer os setores interessados - empresários, trabalhadores e setor público - para uma negociação tripartite é fundamental".
Você pode conferir a conversa completa com os economistas em podcast ou em vídeo: