Banco Central vê pressão de alta na inflação por 'políticas temporárias de apoio à renda’
Agência Brasil
Banco Central vê pressão de alta na inflação por 'políticas temporárias de apoio à renda’

O Banco Central (BC) avalia que o prolongamento de “políticas temporárias de apoio à renda” pressionam a inflação para cima e dificultam a análise dos impactos da trajetória de elevação da taxa básica de juros, a Selic, nos preços. A avaliação consta na  ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (9), em um momento em que o governo amplia gastos para tentar turbinar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro.

O Auxílio Brasil no valor de R$ 600 começou a ser pago nesta terça-feira após promulgação da PEC Eleitoral que viabilizou o aumento do benefício em R$ 200 mensais até o fim do ano, além de outras despesas de cunho eleitoral. Especialistas criticam a PEC por driblar regras fiscais, eleitorais e até preceitos constitucionais, ao criar uma situação de emergência considerada inexistente.

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Na avaliação do BC, medidas que estimulem a demanda podem afetar a inflação por meio da atividade, dos preços e das expectativas de inflação do mercado. A ata também aponta que, se prolongadas, essas políticas pioram a trajetória fiscal do país.

"O Comitê avalia que políticas temporárias de apoio à renda devem trazer estímulo à demanda agregada e que o prolongamento de tais políticas pode elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de inflação à medida que pressionam a demanda agregada e pioram a trajetória fiscal”, aponta a ata.

Parte do efeito também pode ser visto no ciclo de elevações na Selic que começou em março de 2021, quando estava em 2% ao ano, e chegou a 13,75% na última semana.

Segundo o Copom, o ciclo de alta foi “bastante intenso e tempestivo”, mas grande parte do efeito nos juros ainda não pode ser observado nosíndices de inflação, parte por conta da política fiscal.

“Esses impactos devem ficar mais claros nos indicadores de atividade referentes ao segundo semestre, mas o Comitê antecipa que medidas de sustentação da demanda agregada, que serão implementadas no curto prazo, devem dificultar uma avaliação mais precisa sobre o estágio do ciclo econômico e dos impactos da política monetária”, diz a ata.

Além do fiscal, outro ponto que pressiona a inflação de acordo com o Copom é a atividade econômica ainda forte, inclusive pelos números mais fortes do mercado de trabalho. A expectativa do Comitê é de desaceleração da atividade.

“Tanto os indicadores referentes à contratação de emprego formal quanto as taxas de ocupação e desocupação sugerem uma normalização rápida dos setores intensivos em trabalho após a pandemia”, aponta.

Efeito internacional

A ata da reunião do Copom também mostrou preocupação do BC com as mudanças no cenário econômico internacional. O Comitê vê crescimento mais baixo na atividade das grandes economias por conta da trajetória de alta nos juros mundialmente, além de mais incerteza na Europa por conta da guerra na Ucrânia e impactos negativos para as perspectivas de crescimento na China.

A avaliação é que as taxas de inflação mostram um início de normalização das cadeias de suprimento e “acomodação” de preços das principais commodities.

“Aliada à recomposição nos estoques de produtos industrializados, esses desenvolvimentos podem implicar moderação nas pressões inflacionárias ligadas a bens. Por outro lado, o grau de ociosidade do mercado de trabalho nessas economias sugere que pressões inflacionárias no setor de serviços podem demorar a se dissipar”, mostra a ata.

Segundo o Copom, há um ritmo mais acelerado no processo de alta nos juros nas economias avançadas e isso aumentou a probabilidade de uma desaceleração da economia mundial “mais pronunciada''.

“Concorrem nesse sentido a incerteza sobre o cenário de energia na Europa, a dinâmica de setores mais sensíveis a juros nos Estados Unidos e as perspectivas de crescimento mais gradual na China”, diz.


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