Sem pedir licença, a fome bate à porta dos brasileiros . Com 58,7% da população sem ter certeza se terá o que comer diariamente no país, a subalimentação é uma triste realidade. Poderia ser fake news, no entanto, a viralização de imagens nas redes sociais dos chamados subprodutos alimentícios, como soro de leite, pele de frango, osso bovino e carcaça de peixe, revela o deficitário cardápio na mesa de milhões de famílias.
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De volta ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2018, o país viu a situação se agravar desde então. O povo, sufocado pelo desemprego e a alta dos preços nas prateleiras dos mercados, tem enfrentado como pode a quadro de insegurança alimentar.
Diante da inflação de produtos alimentícios, também impactados pelo excesso de chuvas em muitas regiões do país, o consumo de "subalimentos" passou a ser um risco na dieta de milhões de brasileiros. A escolha liga o sinal de alerta, como enfatiza a nutricionista Mildre Souza.
"O uso de subprodutos alimentícios pode comprometer a saúde pelo simples fato de não conter o mesmo valor nutricional do alimento de origem. Em 100ml de leite de vaca obtemos em média 3 gramas de proteína. O soro do leite, na mesma quantidade, tem somente 0,6g. Esse é um exemplo de apenas um nutriente dentro de conjunto de macro de nutrientes, compostos ativos, fitoquímicos e outras substâncias envolvidas", Explica Mildre.
Divulgada no início de agosto, uma pesquisa do Instituto Datafolha revelou que, com a alta do preço do leite, 23% dos brasileiros trocaram o produto por soro de leite. O consumo de sobras de frango e carne, como pele e osso, faz parte da realidade de 20% dos entrevistados. Com o orçamento curto, a população, em especial as crianças, está sujeita às consequências da alimentação deficitária no futuro.
"Essa deficiência pode comprometer o desenvolvimento ponderal e cognitivo em crianças. Em adultos e idosos pode resultar num desequilíbrio proteico na alimentação diária. O desequilíbrio nutricional desses novos alimentos trará, a médio e longo prazo, o aparecimento de desnutrição proteica, dislipdemias (excesso de gordura no sangue), deficiência de micronutrientes (vitaminas e minerais), por exemplo", explica a nutricionista.
Com os políticos voltados para o próximo ciclo eleitoral, o setor econômico ainda não sentiu o impacto do chamado "Pacote de Bondades", puxado pelo Auxílio-Brasil, com o valor de R$ 600 garantidos até dezembro. Enquanto isso, o brasileiro se vira como pode ou com quanto o bolso pode pagar. Um levantamento feito pelo Horus Inteligência de Mercado revelou que o consumo de alimentos processados, como biscoitos e salgadinhos, têm ganhado o lugar de frutas, legumes e verduras nos carrinhos dos consumidores.
"Com a disparada da inflação e o menor poder de compra do brasileiro, supermercados (principalmente em periferias) passaram a comercializar subprodutos como uma medida para que as pessoas consigam se alimentar. É uma triste realidade, mas nem todos neste momento conseguem manter o padrão de vida básico para subsistência", avalia o Marlon Glaciano, especialista em finanças e economia doméstica.
Para combater o cenário de alta de preços, Glaciano recomenda possíveis soluções para conciliar o dinheiro curto com uma alimentação minimamente equilibrada. O horário de descarte, geralmente no fim das feiras livres, conhecido como "xepa", é um bom momento para comprar frutas, legumes e verduras. A troca da carne vermelha por frango e ovos é uma forma de não abrir mão da proteína na dieta. Mesmo assim, a pesquisa de preços em mercados e feiras livres é fundamental para economizar e garantir uma alimentação digna e saudável.