O presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, afirma que, após a privatização, a internacionalização é uma vocação natural para a empresa, que, hoje, já conta com parques eólicos no Uruguai. Ele avalia que a Eletrobras poderá se tornar protagonista no processo de transição energética global.
Como a companhia já tem expertise em energia renovável, com recursos privados, terá fôlego financeiro para investir em novas fontes, avalia. Logo após a capitalização, a Eletrobras voltou a vencer um leilão de linhas de transmissão pela primeira vez após oito anos.
Ainda falta algo para concluir o processo de privatização?
A capitalização foi um êxito, com uma operação de mais de R$ 33 bilhões. Tivemos cerca de 32% de investimento estrangeiro no total e mais de 400 mil pessoas que investiram direta e indiretamente. Nós entendemos que o processo da privatização como um todo está concluído, e a Eletrobras agora está numa nova fase em termos de governança, de controle acionário.
O processo é irreversível?
Entendemos que sim. Entendemos que a privatização da Eletrobras seguiu todos os trâmites, com a aprovação do Congresso Nacional, aprovação do processo pelo Tribunal de Contas da União, aprovação em assembleia geral de acionistas.
A Eletrobras, hoje, através das suas empresas, tem contratos de concessão de 30 anos. Considerando o histórico de segurança jurídica, estabilidade regulatória, respeito aos contratos no setor elétrico, acreditamos que sim (seja irreversível).
Já houve mudanças concretas na empresa?
A Eletrobras naturalmente passa a ser uma empresa com maior capacidade de investimentos e mais competitiva. Tivemos, depois de 8 anos, uma vitória em um leilão de transmissão, por meio da controlada Eletronorte. Isso mostra que a Eletrobras pode ser uma empresa competitiva novamente, disputar de igual para igual com os demais players privados. Isso já é uma sinalização.
Por que a empresa demorou tanto para voltar aos leilões?
Ela ficou impedida de participar por diversos anos por causa dos atrasos de obras. A Eletrobras tinha vencido de fato uma grande quantidade de obras e acabou não conseguindo implantá-las nos prazos contratuais, com atrasos em praticamente todas as obras outorgadas para a empresa.
A empresa retornou, participou de um leilão em 2019, mas não venceu. Então é a primeira vez, desde o início da reestruturação da companhia, que ela vence um leilão de transmissão.
E para os funcionários da Eletrobras, vai mudar alguma coisa? Já mudou?
O maior ativo da companhia é justamente o seu corpo técnico. Não tenho dúvidas de que, agora, com a maior flexibilidade que a companhia vai ter, continuarão contribuindo com o sucesso e o avanço da companhia. Ganhamos flexibilidade em termos de gestão de pessoas, de incentivos.
Na parte de gestão de recursos humanos, você ganha flexibilidade e incentiva a meritocracia. Isso naturalmente premia e é um incentivo importante para aqueles empregados do nível técnico que a Eletrobras tem.
A Eletrobras planeja aumentar a sua internacionalização?
A Eletrobras já tem investimentos, como um parque eólico no Uruguai, e outros projetos em estudos. Eu vejo como um caminho natural a Eletrobras aumentar sua internacionalização. Naturalmente, é algo que vai ter que ser construído. Mas me parece um caminho natural, assim como os grandes players.
A empresa pode entrar nos leilões da termelétricas previstas como “jabutis” na Lei da Privatização?
A Eletrobras vai avaliar as oportunidades de investimento. Apesar de a Eletrobras ser uma empresa com vocação para energia renovável, não há qualquer óbice para que se avalie também investimentos em termelétrica, especialmente a gás natural. Naturalmente, a Eletrobras tem uma votação maior para energia renovável e até o desenvolvimento de novas fontes, como o hidrogênio verde.
Como assim?
Eu vejo a Eletrobras como protagonista nesse contexto de transição energética global. A gente vê o setor elétrico mundial passando por um processo de transformação, e a Eletrobras tem tudo para ser protagonista nesse novo ambiente.
Com o desenvolvimento de novas fontes, novas tecnologias, uma maior diversificação das fontes. Nós acreditamos que a Eletrobras será uma protagonista nessa transformação.
Há uma pressão cada vez maior no setor por conta dos preços. Como resolver isso?
Uma parte significativa do que é pago pelos consumidores são encargos e tributos. Isso tem sido enfrentado pelo governo. A própria privatização da Eletrobras vem com esse viés, para reduzir os valores pagos pelos consumidores. Além dessas iniciativas, na minha visão, precisamos buscar um setor cada vez mais competitivo.
A competição é o principal fator para reduzir custos de energia. Ter a Eletrobras privada, com capacidade de investimentos, aumenta a competitividade do setor e tem maiores possibilidades de menores custos.
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