Liberada reserva de ações da Eletrobras com FGTS
Ivonete Dainese
Liberada reserva de ações da Eletrobras com FGTS

Nesta sexta-feira (3) começa o período de reserva para o trabalhador que quer usar parte de seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço na compra de ações da Eletrobras . A oferta será feita durante a operação de capitalização para privatizar a estatal. O investimento em ações da companhia com recursos do FGTS será feito por meio de Fundos Mútuos de Privatização (FMP) — modelo já adotado nas vendas de papéis da Petrobras (em 2000) e da Vale (em 2002).

O valor mínimo da aplicação desta vez será de R$ 200, e só será possível utilizar até 50% do saldo disponível no Fundo de Garantia. Ou seja, só poderão aderir aqueles que tiverem, no mínimo, R$ 400 disponíveis. O prazo de carência será de 12 meses, ou seja, no período de um ano a aplicação não poderá ser desfeita.

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As taxas cobradas pelo banco para realizar a operação vão variar de 0,2% a 0,4% ao ano, dependendo da instituição financeira ou da corretora. Além disso, haverá incidência de Imposto de Renda com a alíquota de 15% no momento do resgate.

A novidade é que será possível inclusive fazer a migração dos fundos da Vale e da Petrobras para o FMP Eletrobras.

Além disso, haverá um limite de R$ 6 bilhões a serem investidos por todos os cotistas do FGTS. Caso a procura dos trabalhadores supere este limite, o investimento será parcial para todos os interessados.

Por exemplo: um trabalhador que tenha um saldo de R$ 100 mil disponível no FGTS poderá investir R$ 50 mil em cotas do fundo mútuo. Caso a demanda de todos os trabalhadores fique inferior a R$ 6 bilhões, esse trabalhador poderá investir R$ 50 mil em ações da Eletrobras. Mas, se o total dos pedidos for de R$ 6,6 bilhões, ou seja, 10% acima do teto, por exemplo, este trabalhador hipotético terá R$ 45 mil em ações da Eletrobras, porque no rateio todo mundo terá o limite reduzido em 10%.

Rendimento

Os Fundos Mútuos de Privatização (FMPs) da Petrobras, lançados pela Caixa no ano 2000, renderam dez vezes mais que o FGTS, enquanto os FMPs de Vale (de 2002) deram retorno 24 vezes maior.

Antes de solicitar a participação na privatização da Eletrobras, entretanto, o trabalhador precisa ter ciência de que a rentabilidade futura não é garantida. Por se tratar de uma renda variável, as ações da Eletrobras tanto podem se valorizar, quanto podem despencar. Com o dinheiro parado no FGTS, apesar de o retorno estar bem distante da inflação anual (acima de 10%), o trabalhador tem assegurada a rentabilidade de 3% ao ano mais Taxa Referencial (TR).

Desta vez, os FMPs serão oferecidos por diversos bancos e corretoras, com diferentes taxas de administração. Caberá ao interessado escolher que empresa ficará responsável por gerir seus recursos. Para isso, será necessário ter uma conta aberta na instituição escolhida.

Como vai funcionar

Após acessar o aplicativo FGTS (disponível para dispositivos com sistemas Android e iOS), cada pessoa terá que dizer se deseja aderir ou não à compra de ações e, depois, eleger o banco ou a corretora que será responsável pela transação.

Dentro do ambiente virtual da instituição escolhida, então, o interessado poderá encontrar a opção "Reserva FMP" e digitar o valor de investimento para cada conta vinculada. Neste caso, será possível, inclusive, fazer a migração dos fundos da Vale e da Petrobras para o FMP Eletrobras.

Vale a pena aderir?

O professor Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que, embora seja tentador retirar recursos do FGTS com baixa rentabilidade, é preciso lembrar que o investimento em ações é sempre uma opção de risco, sujeita a oscilações do mercado.

"Na média, os trabalhadores que tiraram recursos do Fundo de Garantia para aplicar na Petrobras e na Vale ganharam bastante dinheiro, ainda mais pela rentabilidade bem acima da do FGTS. Mas estávamos falando de companhias completamente diferentes da Eletrobras. O fato de ter dado certo em uma empresa no passado não significa que vai dar certo em outra. É um mercado que vai subir e cair. Haverá oscilações", alerta ele.

Segundo Teixeira, será preciso prestar atenção à taxa de administração praticada pelas instituições financeiras na hora de escolher:

"Quanto menor o valor de aplicação, mais representativa será a taxa cobrada", afirma ele.

João Augusto Frota, estrategista em renda variável, acredita que o papel (ELET3), que fechou o pregão da última quarta-feira em R$ 43 (dia 1º), pode atingir R$ 50 em 12 meses — prazo de carência da aplicação. Para ele, a privatização pode trazer ganhos de governança e melhorias nas frentes operacional e financeira da empresa.

Oscilações de mercado

Frota pondera, no entanto, que o investidor tem que estar disposto a enfrentar oscilações de mercado:

"O investidor deve ter em mente que está trocando a renda fixa pela renda variável. Logo, tem que saber que, por vezes, recaem em fatores exógenos, como fluxo de capital estrangeiro, bem como conjunturas externas e interna, o que afeta o mercado como um todo."

Marco Saravalle, estrategista-chefe da SaraInvest, vê potencial de valorização de 30% nos papéis nos próximos meses. Como fator positivo, ele diz que a Eletrobras é uma empresa estável e previsível. Em sua leitura, se a companhia tiver uma boa gestão, no longo prazo, em cerca de 15 anos, pode oferecer um bom retorno para o investidor do FGTS.

"O investidor tem que olhar o investimento com foco na aposentadoria. Não recomendo a aplicação para alguém que vai precisar do dinheiro em breve. Se o cliente já tem uma casa própria e sua reserva de emergência, pode ser um bom negócio."

Longo prazo

Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, tem uma visão mais pessimista da operação, mas concorda que a longo prazo, em cerca de 20 anos, a aplicação poderá ser vantajosa. Ele defende que o mercado financeiro já vem precificando a privatização nos últimos meses. Por isso, afirma que os papéis estão mais caros do que deveriam estar.

"Neste ano, o Ibovespa subiu pouco mais de 7%, enquanto a Eletrobras se valorizou 31,5%. Além disso, a relação preço x lucro está muito cara, em 9,7."

Veja perguntas e respostas

Quem pode participar da oferta utilizando saldo FGTS?

• Qualquer pessoa que tenha saldo de FGTS disponível, podendo ser em contas ativas e/ou inativas

• Qualquer pessoa que tenha investimentos em outros FMPs (Petrobras ou Vale), via FMP de Migração

Quanto posso investir?

• Até 50% do saldo disponível no FGTS, considerando contas ativas e inativas

• O mínimo de investimento será de R$ 200

Qual é o calendário de operação?

• 3 de junho de 2022 – Início do período de reserva para a utilização do saldo de FGTS

• 6 de junho de 2022 – Encerramento do período de reserva FMP-ELET de Migração

• 8 de junho de 2022 – Encerramento do período de reserva FMP-ELET

• 9 de junho de 2022 – Precificação

• 14 de junho de 2022 – Liquidação

Quais são as taxas de administração cobradas e as condições oferecidas?

• As taxas vão variar de 0,2% a 0,4% ao ano, dependendo do banco ou da corretora. Será preciso ter conta na instituição financeira escolhida para fazer a aplicação.

Qual é a tributação?

• Haverá incidência de Imposto de Renda com a alíquota de 15% sobre os rendimentos auferidos entre a data de aplicação e a data de resgate que excederem à remuneração da conta vinculada do FGTS de cada participante.

Veja o passo a passo para aderir

Veja as condições em cada banco:

Bradesco

O cliente deverá acessar o app Bradesco para solicitar a reserva de FGTS para sua aplicação no fundo FMP. No momento da reserva via aplicativo do banco, o trabalhador poderá escolher o valor limitado até 50% do saldo total disponível no Fundo de Garantia. O valor disponível já será apresentado em tela.

O trabalhador poderá cancelar a solicitação pelo próprio app bancário até o último dia de reserva, exceto no caso de migração, em que o cancelamento só poderá ocorrer no próprio dia. O Bradesco vai oferecer taxa de administração de 0,40% ao ano. Será necessário ter conta-corrente.

Banco do Brasil

Após a autorização, a adesão derá ser efetivada por meio do app Investimentos BB, do portal investimentos.bb.com.br ou da rede de agências. O período de adesão vai de 3 a 8 de junho. ​

No momento de efetivar a adesão, o trabalhador poderá escolher o valor que deseja investir, desde que respeitado o valor mínimo de R$ 200 (considerando o somatório de todas as contas do FGTS).

Especificamente nos casos dos fundos BB FMP FGTS Eletrobras, será possível alterar o valor ou cancelar a adesão até o último dia da oferta (8 de junho). A taxa de administração dos fundos BB FMP FGTS Eletrobras será de 0,20% ao ano.

Santander

No Santander, a taxa de administração será de 0,50% ao ano. O trabalhador deverá informar o valor que deseja aplicar ao banco do dia 3 até as 12h do dia 8 de junho.

Itaú

A taxa de administração do Itaú Eletrobras FMP FGTS e do Itaú Migração Eletrobras FMP FGTS será de 0,20% ao ano.

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