Orçamento comporta 5% de reajuste para servidores, diz Guedes
Ministro da Economia está em Davos, na Suíça, em reunião do Fórum Econômico Mundial
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse na madrugada desta quarta-feira (25) que é possível conceder recomposição salarial de até 5% para os servidores públicos federais, devido à alta na inflação. Guedes está em Davos, na Suíça, em reunião do Fórum Econômico Mundial.
"Perdas acontecem: tem uma guerra e as pessoas perdem um pouco. Todo mundo perdeu, no mundo inteiro. O que você faz é [questionar]: daqui pra frente, é possível manter? A inflação acumulada desse ano foi 5% até agora. É possível repor o funcionalismo desse ano? Sim até 5% dá. Essa que é a conversa hoje lá", disse o ministro.
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Segundo o secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago, um reajuste desse tamanho causaria bloqueio de R$ 16,2 bilhões no Orçamento de 2022.
Até o fim de junho o governo federal ainda pode destinar verba para o aumento, como rege a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
A medida é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, que quer impulsionar a popularidade no funcionalismo.
Nesta terça-feira, representantes de servidores federais criticaram, durante debate na Câmara dos Deputados, a falta de negociação para a recomposição salarial.
No debate, o representante do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), Sérgio Ronaldo, disse que o Ministério da Economia trata o assunto apenas pela mídia. "Não tem essa de 5% garantidos, o que temos, na verdade, é a falta de respeito do governo com a classe trabalhadora", criticou.
Para o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), Rudinei Marques, a situação é inusitada. "Não temos uma mesa de negociação, estamos no meio da pandemia, mas queremos uma palavra firme que diga qual é a política salarial do governo. Até agora não sabemos", ressaltou.
Energia limpa
Guedes adicionou disse nesta quarta-feira que o Brasil está destinado a ser um gigante da energia "limpa e barata" e afirmou que conversou com europeus para possíveis investimentos no país. O ministro participou de evento que discutia a dívida global no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
"15% da nossa energia é eólica e solar e vamos dobrar isso, 65% é de hidrelétrica. Praticamente 80% é energia limpa. Quem vai produzir hidrogênio limpo para a Europa? Porque eles não podem depender do gás natural russo. Nós somos os candidatos, então quem quer produzir energia eólica vem para o Brasil", disse durante o painel.
A fala de Guedes ocorreu poucas horas após o enviado especial do governo americano para o clima, John Kerry, ter dito também em Davos que os Estados Unidos "estão trabalhando muito de perto" com o Brasil sobre a Amazônia". Ele disse que o Brasil é um "país crítico" na questão climática e que é crucial barrar o desmatamento da Amazônia.
O ministro aproveitou a oportunidade para defender a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Guedes relatou que conversou com representantes de países como Bélgica e França e, argumentando que eles barram a entrada do Brasil por serem protecionistas na agricultura, disse que eles deveriam aceitar antes de se tornar "irrelevantes" para o país.
"Eu conversei com eles, disse que precisam nos aceitar antes de se tornarem irrelevantes para a gente. Nós costumávamos ter uma balança comercial de US$ 2 bilhões com a França e de US$ 2 bilhões com a China no começo do século. Agora nós trocamos US$ 120 bilhões com a China e US$ 7 bilhões com a França, é irrelevante pra gente", relatou o ministro.
O ministro ainda disse que a Europa poderia ficar "isolada" se não se integrasse com outras regiões do mundo, como a América Latina.
"Eu falei para os europeus: Vocês perderam a Rússia e agora vocês estão perdendo a América Latina. Vocês ficarão sozinhos se não entenderem que devemos integrar os que ficaram para trás.Nós ficamos para trás, mas agora vamos crescer no eixo de energia verde, digital e segurança alimentar", afirmou.
Troca na Petrobras
Também em Davos, Guedes minimizou a troca na presidência da Petrobras e afirmou que a política de preços dos combustíveis é definida pelo conselho da estatal.
"O presidente escolhe o ministro. O ministro escolhe o presidente da Petrobras, e o conselho [confirma]. O conselho escolhe o CEO e a diretoria. E eles definem a política de preços", afirmou o ministro.
Guedes ainda disse que a reação do mercado após a demissão foi "certamente" precipitada. As ações da estatal apresentam queda de 4% no Ibovespa, enquanto na Bolsa de Nova York a queda se aproxima dos 5%.