Em meio à polêmicas, Conselho da Petrobras se reúne nesta quarta

Conselho de Administração da empresa se reúne hoje 'sem hora para acabar', com mudanças na pauta. Mercado não reagiu bem à interferência na empresa

Foto: Ivonete Dainese
A Dança das cadeiras é negativa para as ações

O Conselho de Administração da Petrobras se reúne na manhã desta quarta-feira (25), a partir das 8h30, num encontro “sem hora para acabar” e pauta alterada de última hora, destaca uma fonte com conhecimento do assunto. A reunião será presencial na sede da estatal, no centro do Rio.

A sessão do colegiado já estava marcada, mas agora vai ocorrer em meio a mais polêmica envolvendo a troca de comando da empresa, com a demissão de José Mauro Coelho pelo presidente Jair Bolsonaro, insatisfeito com o aumento nos preços da gasolina e diesel no Brasil. A intervenção derrubou as ações da empresa na Bolsa.

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O indicado do governo, o secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade, não tem a experiência na área de energia exigida pela Lei das Estatais, apontam advogados.

A pauta da reunião, segundo fontes, passou por ajustes de última hora para incluir o debate sobre o ofício recebido pelo Ministério de Minas e Energia (MME) que trata sobre a indicação de Andrade para substituir o atual presidente, José Mauro Coelho, que está há pouco mais de um mês no cargo.

A demissão de Coelho foi uma decisão do presidente Jair Bolsonaro, incomodado com o impacto do aumento dos preços de combustíveis em sua popularidade.

A avaliação é que serão necessários cerca de 45 dias para preparar a empresa para uma nova Assembleia Geral Extraordinária de acionistas. Ou seja, a troca no comando poderia ocorrer apenas em julho.

Dança das cadeiras

Para ser eleito presidente da estatal, Andrade precisa ser eleito por acionistas como membro do Conselho de Administração, que tem 11 cadeiras, sendo seis atualmente ocupadas por representantes da União.

Como Coelho foi eleito pelo sistema de voto múltiplo (conjunto) na última assembleia para uma vaga no Conselho, outros sete conselheiros eleitos nesse sistema vão precisar passar por uma nova votação — o que inclui, assim, os seis nomeados pela União e outros dois dos quatro que foram indicados pelos minoritários. 

Os funcionários têm direito a uma cadeira.  Em tese, o governo pode, nessa nova votação, conquistar todas essas oito vagas. 

Segundo fontes, é esperado que o governo queira indicar novos nomes ao Conselho de Administração, assim como o novo presidente queira nomear novos diretores. “É algo natural esse movimento”, disse essa fonte.

Nesses 45 dias, período que é previsto para a próxima assembleia, o nome de Caio deve passar pelos órgãos de controle da estatal, assim como eventuais nomes que o MME queira indicar ao Conselho. Até lá, Coelho pode ficar no cargo.

"O ideal é conduzir com tranquilidade nesse momento. Só Deus sabe a hora que a reunião vai acabar", disse uma fonte informada sobre a pauta do conselho.

Maior influência de Guedes

Na pauta do Conselho serão debatidos ainda de forma informal ajustes na política de preços da companhia e a busca de outros mecanismos para reduzir a volatilidade nos preços dos combustíveis.

O ministro da Economia Paulo Guedes defende, segundo a colunista do GLOBO Malu Gaspa, que os preços sejam travados por cerca de cem dias ou mais. A nomeação de Andrade e uma eventual troca de membros da diretoria facilitaria esse objetivo. 

Além dos preços e da mudança no comando, os conselheiros vão tratar do orçamento de investimentos para 2022, o plano de negócios 2023/2027, que vai ser lançado no fim deste ano, a atualização do plano de desinvestimentos e o processo de venda de refinarias como a da Lubnor, em Fortaleza.

Ações da Petrobras fecham em queda no Brasil e no exterior, após troca no comando

As ações da Petrobras operaram em queda nesta terça-feira, após mais uma troca no comando da estatal ser anunciada pelo governo. Ao fim do pregão, os papéis ordinários (PETR3, com direito a voto) caíram 2,85%, negociados a R$ 34,40, e os preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 2,92%, cotados a R$ 31,60.

Na mínima do dia, os papéis ON foram negociados em R$ 33,72, e os PN na casa dos R$ 30,71.

No exterior, as ADRs da empresa, recibos de ações, cederam 3,80%, negociadas a US$ 14,23 no mercado de Nova York, após tombarem mais de 12% no pré-mercado.

Com isso, de ontem para hoje, segundo levantamento feito por Einar Rivero com dados da plataforma TC/Economatica, a empresa perdeu R$60,4 bilhões em valor de mercado.

A queda expressiva pela manhã no mercado internacional pode ser explicada porque essa terça-feira foi a data de corte para o pagamento de R$ 48,5 milhões em dividendos, anunciado no início do mês. Ou seja, investidores que compraram o ativo interessados no pagamento dos lucros puderam se desfazer das ações agora, garantindo o direito de receber R$ 3,7155 por ADR. A quantia será paga em duas parcelas nos meses de junho e julho.

Apesar do ajuste à tarde, o ativo manteve o resultado negativo. Para Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, entre as razões estão a preocupação com os casos de covid-19 na China e a troca no comando da estatal.

"A gente não pode dizer que a troca do CEO da Petrobras é positiva, já que traz incertezas. Mais uma vez, o mercado não sabe se vai haver alguma troca na política de preços ou se vão criar uma regra para espaçar mais o reajuste dos combustíveis", observa.

Flávio Conde, head de renda variável da Levante, opina que as ações vão "andar de lado" nos próximos dias, variando 0,5% para cima ou para baixo. Em sua visão, como o preço da gasolina acumula defasagem expressiva, o mercado aguarda uma decisão de reajuste muito em breve.

"Esse novo presidente já entra com uma grande decisão em sua mesa. Ele vai ter que reajustar a gasolina. Nesse caso, as ações voltam a subir. O mercado está apreensivo aguardando o posicionamento. Se ele não o fizer, saberemos que algo mudou", pondera.

Marco Saravalle, estrategista chefe da SaraInvest, afirma que o temor é dar passos atrás em governança:

"A gente já teve volatilidade maiores, inclusive nesse governo, do papel. Mas, com mudanças em curto espaço de tempo, a preocupação é o que será da Petrobras com uma eleição pela frente, em relação à gestão operacional.

O dólar fechou o dia em alta de 0,16%, negociado a R$ 4,8123.

O Ibovespa, por sua vez, apesar do desempenho ruim da Petrobras que tem forte peso na composição do índice, segurou o resultado positivo, com valorização de 0,21%, aos 110.580 pontos.

Interferência

Para o analista da casa de análise Top Gain, Sidney Lima, a nova troca é negativa para os papéis da empresa, pois é um sinal claro de interferência do governo.

Segundo ele, os papéis não caem mais, pois já havia rumores de uma alterações após a saída do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e porque o nome de Caio Paes de Andrade já havia sido cotado anteriormente para o cargo.

"É um sinal claro de interferência. Ele (Caio Paes de Andrade) é alinhado a forma de pensar de Paulo Guedes e não é um nome completamente novo para o mercado. O mercado entende que a Petrobras tem uma economia mista e por mais que exista um domínio da União, ela tem que atender a algumas regras."

Lima destaca que a mudança no comando pode indicar novas tentativas de trocas em membros da estatal, diante do período eleitoral e da preocupação do presidente Jair Bolsonaro com sua popularidade em meio ao aumento dos preços de combustíveis.

"O governo quer evitar um aumento ainda mais alto dos preços de combustíveis. Acredito que essa mudança é mais para convencer a diretoria da Petrobras a fazer aumentos mais espaçados dos preços. O impacto (da interferência) é negativo para as ações da empresa, que tiveram altas recentes", destaca Conde.

Na mesma linha, o gestor e sócio da 3R Investimentos, Rodrigo Boselli, afirma que a interpretação do mercado é que o risco de interferência está aumentando à medida que se aproxima o período eleitoral e com a inflação, bastante pressionada pelos preços dos combustíveis, ainda em alta.

Para Boselli, o anúncio de ontem pode ser apenas o começo de novas trocas na diretoria da empresa, em uma tentativa do governo aumentar sua influência.

"A queda do presidente vai levar a uma nova eleição do Conselho, com exceção daqueles que têm cargos que não dependam de eleições. E mais importante do que o presidente é o Conselho. É ele quem determina o plano estratégico, quais políticas vão ser seguidas, quais serão os investimentos e os desinvestimentos a serem feitos pela empresa. Os executivos colocam isso em funcionamento", disse.

Na avaliação de Boselli, o mercado ainda se apega ao conjunto de leis e dispositivos que protegem a empresa de intervenções, o que limita uma queda maior dos ativos diante do noticiário recente.

"O mercado foi aprendendo que existe todo um conjunto de leis e dispositivos mais o estatuto da empresa que protegem essa política de preços de busca da paridade. E foi ficando mais anestesiado com possíveis trocas."

Para o gestor da 3R, as constantes preocupações acerca de interferências políticas fazem com que a Petrobras opere descontada na comparação de seus pares globais.

"Nos últimos anos, ocorreu uma busca pela geração de caixa, o pré-sal dando frutos e a empresa diminuiu bastante o endividamento, propiciando o pagamento de grandes. No entanto, fica sempre essa dúvida de que se haverá uma interferência mais aguda."

Enquanto os papéis da estatal caíram, as ordinárias da PetroRio (PRIO3) avançaram 3,90% e os da 3RPetroleum (RRRP3), 3,39%.

As ordinárias da Vale (VALE3) subiram 1,35% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 1,60%.

As preferenciais da Usiminas (USIM5) caíram 0,09%.

No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) subiram 1,51% e 2,10%, respectivamente.

Apenas 40 dias

Na noite de segunda-feira (23), o governo anunciou a demissão de José Mauro Coelho. Ele havia sido nomeado em abril e ficou pouco mais de um mês no cargo.

Em seu lugar assume Caio Paes de Andrade, nome de confiança do ministro Paulo Guedes e que atuava no Ministério da Economia. 

Ele será o quarto executivo a comandar a estatal nos menos de quatro anos do governo de Jair Bolsonaro que, incomodado com o impacto dos preços dos combustíveis em sua popularidade, troca o comando da estatal mais uma vez.

Mesmo tendo permanecido apenas 40 dias no cargo, uma nova troca já era ventilada e ganhou força após a demissão de Albuquerque, que tinha conduzido a ida de Coelho para a empresa.

No Planalto, a nomeação de Caio foi atribuída a Paulo Guedes junto com Adolfo Sachsida, novo ministro de Minas e Energia. 

A escolha dele para o cargo consolida a retomada de influência de Guedes sobre a Petrobras, que havia sido perdida desde a demissão de Roberto Castello Branco no início do ano passado.

Em relatório, analistas da XP ressaltam que a rotatividade na presidência da empresa é negativa. No entanto, eles ainda não veem a nova troca de comando como uma mudança na política de preços de combustíveis.

“Ainda vemos a Lei das Estatais e o estatuto da Petrobras blindando a empresa de subsidiar combustíveis como no passado, independentemente de quem é o CEO. Em segundo lugar, Caio é fortemente ligado a Paulo Guedes, que não é a favor de mudanças na política de preços de combustíveis da Petrobras”, destacam os analistas Andre Vidal e Junia Gama, em relatório. 

A XP mantém recomendação de compra ao destacar que o papel ainda é respaldado por um múltiplo baixo e forte fluxo de dividendos.

A corretora mantém preço-alvo em R$ 47,80 para as ações preferenciais
Como informou a colunista do GLOBO, Malu Gaspar, Guedes quer que a companhia adote intervalos mais longos, de cem dias ou mais, entre um reajuste e outro para amenizar o impacto dos reajustes recorrentes dos combustíveis nas bombas, seguindo a volatilidade atual da cotação internacional do petróleo.

Troca não é simples

A nova mudança, contudo, não é tão simples de ser executada e pode demorar mais de um mês segundo fontes ouvidas pelo GLOBO.

Para Caio Mario Paes de Andrade assumir a empresa no lugar de José Mauro Ferreira Coelho, ele precisa primeiro ser eleito pelos acionistas membro do conselho, para depois ser escolhido pelo colegiado para a presidência. O governo, como maior acionista, tem condições de aprovar o nome dele nas duas instâncias, mas é preciso seguir uma série de ritos e regras. 

Como Coelho foi eleito para o conselho por meio do sistema de voto múltiplo, uma nova assembleia de acionistas terá de ser convocada e uma nova eleição dos conselheiros terá de ser feita.

Outro obstáculo a ser enfrentado é que Paes de Andrade não possui experiência no setor, conforme exige a Lei das Estatais, o que pode levar a uma judicialização de sua nomeação.

O general Joaquim Silva e Luna, retirado do comando da empresa este ano também não tinha atuado no setor de petróleo e possuía curta experiência no setor de energia.

Inflação e juros no foco

Além da mudança de comando da estatal, os investidores da Bolsa de São Paulo, a B3, avaliaram a divulgação do IPCA-15 de maio. O indicador avançou 0,59%, uma desaceleração ante abril, quando subiu 1,06% no índice fechado do mês. 

É a maior taxa para o mês de maio desde 2016, quando chegou a 0,86%. Em 12 meses, o indicador chegou a 12,2%. O resultado veio acima do esperado.

Na cena externa, persistiram as preocupações a respeito do crescimento global mais lento diante de um quadro de inflação alta e juros subindo. No pregão, os investidores repercutiram discursos dos presidentes do Federal Reserve, Jerome Powell, e do Banco Central Europeu (BEC), Christine Lagarde.

Em entrevista durante o Fórum Econômico de Davos, Lagarde voltou a sinalizar que vê as taxas de juros em zero ou "ligeiramente acima" até o final de setembro, implicando um aumento de pelo menos 0,50 ponto percentual em relação ao seu nível atual.

"Provavelmente estamos entrando em território positivo no final do terceiro trimestre", disse Lagarde em entrevista à Bloomberg TV.

A presidente do BCE ressaltou que o banco se moveria apenas gradualmente porque a inflação foi impulsionada pela oferta — uma referência ao combustível mais caro devido à guerra na Ucrânia e às restrições na China – em vez de demanda crescente.

"Não acho que estejamos em uma situação de demanda crescente no momento", disse Lagarde.

As bolsas americanas operaram sem direção única, com sinais de fraqueza na economia. Enquanto o índice Dow Jones fechou positivo em 0,15%, S&P caiu 0,81% e a Bolsa Nasdaq, 2,35%.

No país, o sentimento piorou após a empresa Snapchat alertar, depois da divulgação de seus resultados, para o cenário de alto risco macroeconômico, dizendo, inclusive, que não atingiria as metas previstas para o segundo trimestre.

Entre as justificativas citadas pela companhia estão justamente o cenário de inflação e juros mais alto, que tende a penalizar empresas do setor tecnológico, baseadas em teses de crescimento futuro.

Na Europa, as bolsas fecharam com baixas. A Bolsa de Londres caiu 0,39% e a de Frankfurt, 1,80%. Em Paris, ocorreu baixa de 1,66%.

As bolsas asiáticas fecharam com quedas. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, caiu 0,94%. Em Hong Kong, houve baixa de 1,75% e, na China, de 2,41%.

Petróleo volátil

Os preços dos contratos futuros do petróleo operavam volatilidade no pregão, com o barril do Brent alternando altas e baixas. Os investidores ponderaram a oferta global apertada e a possível recuperação da demanda nos Estados Unidos, diante de preocupações com as restrições da Covid-19 na China. 

O petróleo tipo Brent subiu 0,53%, negociado a US$ 113, 95, o barril. Já o petróleo tipo WTI cedeu 0,52%, cotado a US$ 109,77, o barril.