Rússia impõe sanções sobre o gás à Europa e agrava crise no continente
Ivonete Dainese
Rússia impõe sanções sobre o gás à Europa e agrava crise no continente

A pressão na Europa em busca de fontes alternativas de fornecimento de gás aumentou nesta quinta-feira (12), após Moscou impor sanções contra subsidiárias europeias da estatal energética russa Gazprom e a Ucrânia interromper os fluxos em uma rota de trânsito de gás, elevando os preços do combustível.

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A Rússia impôs sanções na quarta-feira à noite principalmente às subsidiárias europeias da Gazprom, incluindo a Gazprom Germania, uma empresa de comércio, armazenamento e transmissão de energia que no mês passado a Alemanha pôs sob tutela estatal para garantir seu abastecimento.

Embora o movimento pareça ser em grande parte simbólico — equivalente a cerca de 3% das importações de gás russas da Alemanha, de acordo com autoridades alemãs —, o Kremlin está mostrando que não terá receio de pressionar o seu maior cliente. Os preços de referência do gás na Europa subiram mais de 20%.

A Rússia também impôs sanções à proprietária da parte polonesa do gasoduto Yamal-Europa, que transporta gás russo para a Europa, removendo uma potencial rota alternativa para clientes europeus receberem gás.

Um site do governo russo publicou uma lista de empresas afetadas. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que as empresas não mais podem participar do fornecimento de gás russo, nem mesmo em associação com outras entidades.

Grande parte delas está baseada em países que impuseram sanções à Rússia em resposta à invasão da Ucrânia, a maioria de membros da União Europeia (UE).

A Alemanha disse que algumas subsidiárias da Gazprom Germania não estão recebendo gás por causa das sanções. Berlim afirmou buscar alternativas.

"A situação está se agravando a ponto de o uso de energia como arma estar se tornando uma realidade", disse o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, a repórteres. "A Gazprom e suas subsidiárias são afetadas. Isso significa que algumas das subsidiárias não estão recebendo mais gás da Rússia. Mas o mercado está oferecendo alternativas".

Principais redes de distribuição do gás russo na Europa

Principais redes de distribuição do gás russo na Europa
Reprodução/Agência O Globo
Principais redes de distribuição do gás russo na Europa


Habeck disse que as medidas da Rússia parecem destinadas a elevar os preços, mas a queda esperada de 3% nas entregas de gás russo pode ser compensada no mercado, embora a um custo mais alto.

Os preços do gás no atacado na Europa dispararam no ano passado, aumentando os encargos para famílias e empresas.

Embora o armazenamento de gás alemão esteja cerca de 40% cheio, ainda é baixo para a época do ano, e os estoques precisam ser acumulados durante o verão em preparação para o inverno.

Além dos cortes que já ocorreram, a Finlândia pode ter seu abastecimento afetado na sexta-feira, segundo publicou o jornal local Iltalehti nesta quinta-feira, citando fontes não identificadas.

A maior parte do gás utilizado na Finlândia vem da Rússia, mas o gás representa apenas cerca de 5% do consumo anual de energia do país. No entanto, perder a maior parte do suprimento do combustível implicaria que gigantes da indústria como Neste e Metsa e outras empresas das indústrias florestal, química e alimentícia precisariam encontrar fontes alternativas de energia ou adaptar sua produção.

Com conexões diretas de gasodutos com a Rússia, a Finlândia e os Bálticos dependem mais do gás russo do que outros países europeus. Se o fornecimento de gás russo for reduzido ou cortado, Finlândia, Estônia, Letônia e Lituânia podem ter que reduzir a demanda, disse a rede europeia de operadoras de gás ENTSOG em suas perspectivas de verão em abril.

O presidente da Finlândia, Sauli Niinisto, e a primeira-ministra Sanna Marin disseram nesta quinta-feira que a Finlândia se inscreverá para se juntar à aliança de defesa ocidental Otan "sem demora", levando a Rússia a prometer uma resposta.

Moscou anunciou as sanções contra Polônia e Alemanha um dia depois que a Ucrânia interrompeu o abastecimento pela importante rota de trânsito de gás para a Europa de Sokhranovka, culpando a interferência das forças russas de ocupação, na primeira vez que as exportações via território ucraniano foram afetadas desde a invasão.

O ponto de trânsito fechado pela Ucrânia geralmente lida com cerca de um terço do total das remessas de gás russo para a Europa, e a Ucrânia propôs que os fluxos pudessem ser redirecionados para um ponto de trânsito alternativo, Sudzha.

Nesta quinta-feira, o chefe da operadora de gasodutos ucraniana GTSOU informou que não reabrirá a rota de trânsito de gás da Rússia para a Europa até que Kiev obtenha controle total sobre seu sistema de gasodutos

A empresa declarou na terça-feira que suspenderia os fluxos por motivo de força maior, alegando roubo de gás por separatistas apoiados pela Rússia. O gasoduto atravessa a região de Luhansk, na Ucrânia, parte da qual está sob o controle de separatistas apoiados pela Rússia desde 2014.

"Não abriremos [o fornecimento] até ter o controle total sobre o ativo", disse Sergiy Makogon, o chefe da GTSOU, em comentários por escrito. Ele disse que a produtora estatal russa de gás Gazprom não sabia que os separatistas começaram a roubar gás que transita pela Ucrânia.

"Eu não acho que a Gazprom estava ciente de que os (separatistas) começaram a roubar nosso gás em trânsito."

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em visita a Berlim, instou a União Europeia a reduzir sua dependência energética da Rússia.

"O oxigênio energético da Rússia deve ser desconectado, é particularmente importante para a Europa". disse Kuleba em entrevista coletiva. "A Rússia mostrou que não é um parceiro confiável".

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