A produção de veículos da Caoa Chery, na fábrica de Jacareí, interior de São Paulo, será paralisada e a unidade deverá passar por adaptações para produzir carros elétricos, numa atualização de portfólio de produtos, informou a montadora. A fábrica produz os modelos Tiggo 3x e Arrizo 6 Pro.
Segundo Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, a fábrica será fechada definitivamente e haverá 485 demissões do total de 600 funcionários da unidade.
Um dos motivos alegados pela montadora, segundo o sincalista, seriam as vendas fracas do Tiggo 3x, que sairá de linha.
Além disso, diz Gonçalves, a montadora teria informado ao sindicato que não vai mais fabricar o Arrizo 6 no Brasil com o encarecimento das peças importadas, cotadas em dólar, além do aumento do custo dos contêineres com os problemas de logística trazidos pela pandemia de Covid-19. O modelo será importado da China.
No ano passado, considerando os dois modelos, foram produzidas 14 mil unidades em Jacareí, informou o sindicato.
"Os 370 trabalhadores da produção serão demitidos, além de metade do pessoal administrativo, que soma 230 pessoas. Os demais serão realocados. Portanto, as demissões chegam a, no mínimo, 485 pessoas, mas pode ser mais. Vamos iniciar uma luta contra o fechamento da unidade", disse Gonçalves.
O Sindicato fará assembleia com os trabalhadores da unidade nesta sexta. Os trabalhadores já estavam em licença remunerada desde março, e a produção foi interrompida no mesmo mês.
Segundo Gonçalves, foi proposto à empresa o pagamento integral dos salários de maio, e lay off (suspensão do contrato de trabalho) até outubro. Na volta, os trabalhadores teriam ainda mais três meses de estabilidade, até janeiro de 2023.
Em nota, a montadora informou que não fechou definitivamente a fábrica e a paralisação será temporária, com volta até 2023, quando todos os veículos da marca serão eletrificados. A Caoa Chery afirma que as adaptações na unidade fazem parte da estratégia de eletrificação de seus produtos, seguindo tendência mundial.
"A unidade fabril passará por mudanças para adequação dos processos produtivos que permitirão a introdução de novos produtos concebidos a partir de plataformas de última geração, equipados com propulsores híbridos ou 100% elétricos", diz a nota, enfatizando que a unidade de Jacareí adotará os mesmo padrões da unidade de Anápolis, em Goiás.
Sobre demissões, a montadora não dá números, mas revela que está em negociação com os representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos "para a definição de um pacote de indenização suplementar, além do regular pagamento das verbas rescisórias legais, seguindo o seu compromisso de respeito aos trabalhadores".
A Caoa Chery diz na nota que seguirá prestando atendimento aos clientes dos modelos fabricados em Jacareí, mantendo total assistência técnica, garantias, peças e serviços em suas mais de 140 concessionárias no país.
A pausa na produção em Jacareí, diz a nota, será compensada pela intensificação da fabricação da planta de Anápolis, Goiás, que está sendo preparada para novos lançamentos já no segundo semestre de 2022. A Caoa Chery garante que mantém sua meta de comercializar 60 mil unidades no mercado brasileiro este ano.
O grupo Caoa foi fundado pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que morreu em agosto do ano passado. A fábrica de Jacareí foi inaugurada pela Chery em 2014. Os investimentos à época foram de US$ 400 milhões.
A montadora chinesa queria aumentar sua participação de mercado, mas as vendas não cresceram. Em 2017, a Caoa se uniu à Chery e assumiu metade da operação da montadora.
Na unidade de Anápolis são fabricados os modelos SUVs Tiggo 5x, Tiggo 7 Pro e Tiggo 8. A fábrica foi inaugurada em 2001 e também produz alguns modelos da Hyundai. O site da montadora informa que as duas unidades tem capacidade de produzir 150 mil veículos por ano.
Entre no canal do Brasil Econômico no Telegram e fique por dentro de todas as notícias do dia
Férias coletivas e queda de vendas
O mercado automotivo vem sendo afetado pela falta de componentes, especialmente semicondutores. Isso levou à paralisação de diversas unidades e queda nas vendas. Em abril, houve nova retração, segundo a Fenabrave, a associação que reúne as concessionárias.
Foram vendidos 136.341 automóveis e comerciais leves em todo o país. O número é 16,8% menor que o registrado no mesmo período de 2021, quando foram vendidas 163.867 unidades.
Com falta de componentes, as montadoras têm optado por dar férias coletivas aos funcionários. Nesta semana, a Volks divulgou que os 2,5 mil trabalhadores da produção da Volkswagen, na fábrica de São Bernardo do Campo, entrarão em férias coletivas em função da falta de componentes. Os metalúrgicos ficarão fora da fábrica por 20 dias, de 9 a 28 de maio.
O coordenador-geral da representação Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na Volks, José Roberto Nogueira da Silva, destacou que além dos semicondutores outros componentes e peças começaram a faltar e afetar a produção na montadora.
Em nota, a Volkswagen do Brasil confirmou que a fábrica de São Bernardo do Campo terá 20 dias de férias coletivas para os dois turnos, em razão da falta de semicondutores, a partir do dia 9 de maio.
No ano passado, em agosto, a montadora havia dado dez dias de férias coletivas para cerca de dois mil funcionários da unidade em Taubaté. Em julho, a mesma unidade havia ficado paralisada por vinte dias também por falta de peças. Antes disso, a empresa já havia parado ao menos outras duas vezes.
No ínicio de abril deste ano, a Mercedes-Benz colocou 5,6 mil funcionários de São Bernardo do Campo e de Juiz de Fora em férias coletivas. A paralisação ocorreu entre 18 de abril nesta semana. Segundo a empresa, o principal motivo é a razão da crise global e falta de componentes. Perto de 5 mil funcionários ficaram parados em São Bernardo do Campo e 600 em Juiz de Fora.
A Anfavea, associação que representa as montadoras, em conjunto com outras entidades, como a Associação Brasileira de Semicondutores (Abisemi) e a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), além de universidades, criou um projeto junto ao governo brasileiro no sentido de criar condições para ter uma indústria de semicondutores.